Sem pasto para as vacas maronesas depois de um dos incêndios que queimaram a serra do Alvão, os produtores de Favais, em Ribeira de Pena, receberam hoje palha e feno para ajudar a alimentar os animais.
“É uma altura em que os animais ficaram sem um metro quadrado de pastos, ardeu até à porta dos estábulos e os animais precisam de comer diariamente, não podemos esperar que rebente novamente a vegetação”, afirmou Avelino Rego, produtor de gado maronês em Alvadia.
Depois do incêndio que no dia 08 destruiu os pastos, e que lavrou entre Favais, Alvadia e Lamas, na serra do Alvão, concelho de Ribeira de Pena, foi hoje distribuído alimento para os animais com o objetivo de ajudar a mitigar o impacto.
Os 64 rolos de palha e 64 de feno foram oferecidos por um grupo de empresários e particulares de Leiria, que se uniram depois de verem a destruição deixada pelo fogo, e ainda por agricultores de Grândola, neste caso com o transporte pago pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) e município de Ribeira de Pena.
“Conseguimos assim acudir e mostrar que estamos unidos com este povo de Favais que ficou completamente cercado pelo fogo”, adiantou Avelino Rego, que apontou para quase “100% de área de pastagem atingida”.
Nestas aldeias da serra do Alvão muitos são os que vivem da produção de vaca maronesa. O modo de produção é extensivo e as vacas saem todos os dias para o monte, mas, depois do fogo pintar a serra de negro, os produtores foram obrigados a recorrer às reservas que tinham guardado para o inverno para alimentar o gado.
Com 10 cabeças de maronesa, Venâncio Faria contou que ficou “sem pasto nenhum” e que, por isso, hoje chegou uma grande ajuda para alimentar os seus animais, aos quais tem andado a dar algum milho e feno das reservas que deveria só começar a usar a partir de outubro.
“Já estão a comê-lo agora e quantos lameiros havia aí arderam todos”, referiu.
As suas vacas têm saído da corte diariamente, metendo-as num terreno onde deixa um pouco de milho.
“Já lhes ando a meter milho que era para ser para grão”, contou, considerando que o incêndio provocou grandes prejuízos nestes produtores, mas não só, porque, explicou, “vai encarecer tudo, como as carnes”.
É que, apontou, “sem ter que dar de comer aos animais vai ficar tudo muito mais caro”. “É mau para o país todo, não é só para nós”, frisou, lembrando que ardeu serra do Alvão em Vila Pouca de Aguiar, Vila Real e Mondim de Basto e muito mais pelo país todo.
Além do mais, referiu que os lameiros que arderam “nunca mais vão dar feno como davam”.
Venâncio Faria descreveu uma “tristeza enorme” e lembrou que, no dia 08, em poucas horas a aldeia ficou completamente rodeada pelo fogo.
Flávio Costa Gaspar tem 10 vacas maronesas e mais cinco novilhos e contou que tem alimentado os animais com milho verde e feno.
“Normalmente neste tempo ainda não costumamos deitar feno”, referiu, acrescentando que alguns produtores não têm onde deixar as vacas e, por isso, elas têm ficado nas cortes.
Para este produtor, a ajuda entregue hoje “é muito importante” porque, por aqui, “não se consegue arranjar feno para botar ao gado” nem “mato para fazer a cama”.
Fernandina Costa tem duas vacas adultas e quatro mais pequenas e disse que, agora, nem no monte podem andar porque ardeu tudo. “Não têm nada para comer, nada. Estamos preocupados, como é que vão passar os outros anos a seguir porque isto não vai crescer nada em pouco tempo”, referiu.
Estas são, explicou, “vacas que andam no monte, não são de ficar nas cortes”.
Sem qualquer ligação a Favais, Luís Sousa disse que a iniciativa dos empresários e particulares de Leiria visou apenas ajudar quem mais precisa de ajuda em consequência dos fogos que assolam o país.
“Apuramos as necessidades e metemos mãos à obra. Utilizamos as redes sociais para o bem e iniciamos um movimento de angariação de fundos”, afirmou o empresário.
“Este é um contributo dos agricultores de Portugal, neste caso de Grândola. Nós tivemos um conjunto grande de agricultores do sul a oferecer palha e outro tipo de alimentação. Esta é a primeira necessidade que têm os agricultores porque ficaram completamente sem área de pasto e as necessidades são urgentes”, referiu, por sua vez, Francisco Pavão, da CAP.
Avelino Rego defendeu que será necessário que estas zonas ardidas sejam alvo de um “investimento sério” para que este ciclo que culminou agora em fogo não se volte a repetir, pelo que disse aguardar a abertura de programas específicos de investimento nestas áreas.
A serra do Alvão espalha-se por Vila Pouca de Aguiar, Ribeira de Pena, Vila Real e Mondim de Basto, e, nas primeiras semanas de agosto, ardeu área dos quatro concelhos, em três incêndios diferentes (Sirarelhos, Pinduradouro e Alvadia).
Neste mês, já terão ardido mais de 7.100 hectares na serra do Alvão.