O secretário-geral do PCP acusou hoje o Governo de ter desvalorizado a dimensão dos incêndios e de não ter tomado as medidas necessárias, acrescentando que acordou “tarde e de forma arrogante” para a realidade dos fogos.
“O Governo de Luís Montenegro acordou tarde para este problema, desvalorizou a dimensão [dos incêndios], não tomou as medidas que eram necessárias tomar, não era possível evitar tudo, não vale a pena sermos também demagogos a esse ponto, e depois, infelizmente, quando acordou tarde, acordou de forma arrogante”, disse Paulo Raimundo aos jornalistas, durante uma visita a áreas ardidas no concelho de Ponte da Barca, distrito de Viana do Castelo.
Para o líder do PCP, o país “não precisa de arrogância”, mas antes de “humildade para um combate difícil contra os incêndios, de criar as [melhores] condições, de dar os meios e de estar nas horas difíceis onde é preciso estar”.
Questionado sobre a atuação concreta da ministra da Administração Interna, Paulo Raimundo respondeu que Maria Lúcia Amaral “faz parte do Governo”.
“E, portanto, tem tanta responsabilidade no acordar tarde e na arrogância, como tem o senhor primeiro-ministro”, frisou o secretário-geral do PCP.
Paulo Raimundo assume que o combate aos incêndios é uma “situação exigente, mas que requer medidas”, lembrando o plano elaborado após os grandes incêndios de 2017, que contemplava “um caderno de encargos de matérias que foram decididas concretizar, mas que nunca saíram do papel”.
“Não conseguimos resolver tudo: mas é possível dar mais meios a quem combate o fogo, é possível dar mais meios para a preservação da floresta, é possível encontrar as soluções, porque elas estão definidas. Concretize-se o que está no plano”, apelou o líder do PCP.
Raimundo deu exemplos, como a questão da sustentação dos solos nos pós fogos, que, em muitas terras no país nunca avançou, os apoios aos pequenos produtores, a alimentação para os animais e a recuperação dos apoios de forma rápida e desburocratizada.
“São medidas necessárias tomar e só não se tomam por opção política. Não conseguimos evitar os fogos, mas dá para criar todas as condições para preservar o mais possível, para antecipar o mais possível, para criar condições para que quando os fogos surjam, possamos estar no combate efetivo e que não tenha a dimensão de uma catástrofe desta”, apontou o secretário-geral do PCP.
Para Paulo Raimundo, as opções políticas significam escolhas e consequências.
“Isto implica uma coisa simples: se o país, em vez de salvar bancos, em vez de pôr dinheiro público nos bancos, em vez de dar dinheiro público para a descida do IRC para as grandes empresas, decide ou não renovar a sua floresta para reconstruir o país. É esta a opção. É um problema de política. Enquanto nós não acabarmos com uma política, com uma prática ela em si mesma incendiária, não há resolução para este problema”, afirmou o líder do PCP.
Portugal continental tem sido afetado por múltiplos incêndios rurais desde julho, sobretudo nas regiões Norte e Centro, num contexto de temperaturas elevadas que motivou a declaração da situação de alerta desde 02 de agosto.
Os fogos provocaram dois mortos, incluindo um bombeiro, e vários feridos, na maioria sem gravidade, e destruíram total ou parcialmente casas de primeira e segunda habitação, bem como explorações agrícolas e pecuárias e área florestal.
Portugal ativou o Mecanismo Europeu de Proteção Civil, ao abrigo do qual chegaram dois aviões Fire Boss para reforço do combate aos fogos.
Segundo dados oficiais provisórios, até hoje arderam mais de 201 mil hectares no país, mais do que a área ardida em todo o ano de 2024.