Espanha já enviou 5.600 militares e mais de 2.000 meios aéreos e terrestres das Forças Armadas para os incêndios este ano, numa mobilização inédita nas últimas décadas para o combate aos fogos, disse hoje o Governo.
As regiões autónomas, que têm a tutela da proteção civil em Espanha, pediram já por 41 vezes ao Governo central a ativação da Unidade Militar de Emergências (UME, uma força especial das Forças Armadas criada há 20 anos e que atua em cenários de catástrofe), disse a ministra da Defesa, Margarita Robles, numa audição no Senado (a câmara alta das Cortes espanholas).
Todos os pedidos foram respondidos, com meios da UME e do resto das Forças Armadas, garantiu a ministra, que sublinhou que a legislação espanhola só permite a atuação dos militares nestes cenários a pedido dos governos regionais.
Segundo Margarita Robles, já foram mobilizados 5.600 efetivos e mais de 200 meios “de todo o tipo” – aéreos, terrestres e outros – para responder a uma “situação inédita em agosto” no país, pela quantidade de fogos em simultâneo e pela “virulência” das chamas.
A ministra realçou ainda que na vaga de incêndios que atinge Espanha desde o início do mês, os trabalhos decorreram de forma “absolutamente coordenada” e “sem polémicas” entre as “equipas técnicas” das comunidades autónomas e os militares até 15 de agosto.
Segundo Margarita Robles, nessa data, porém, “surpreendentemente”, durante a noite, e após declarações da direção nacional do Partido Popular (PP, direita), as três regiões mais afetadas pelos fogos, todas lideradas pelo PP (Galiza, Castela e Leão e Extremadura), enviaram por escrito ao Governo central novos pedidos de meios, “abstratos” ou numas “quantidades incríveis” impossíveis de atender mesmo usando todos os meios aéreos disponíveis no mecanismo de proteção civil da União Europeia.
“E como se não houvesse meios no terreno”, disse a ministra, que deu exemplos de ajudas pedidas nesse momento pelas regiões aos militares que foram atendidas e depois nunca foram usadas ou só foram ativadas pontualmente ou após vários dias.
Robles apelou aos políticos para, numa situação como a que enfrenta Espanha com os incêndios, deixarem os técnicos e peritos trabalhar e tomar as decisões.
A ministra do Governo espanhol liderado pelo socialista Pedro Sánchez, elogiou os militares enviados para os fogos e também deixou e sublinhou elogios às “equipas técnicas” e às brigadas florestais das regiões autónomas governadas pelo PP.
Sem assinalar diretamente os governos regionais, deixou ainda críticas à “falta de prevenção e previsão” de alguns responsáveis, sublinhando que a UME só consegue responder da forma que o fez nas últimas semanas com um trabalho de preparação “duro e adequado” ao longo do ano e investimentos em equipamentos e meios humanos.
Margarita Robles é a primeira de quatro ministros chamados de urgência ao Senado espanhol pelo PP para dar explicações, esta semana, sobre os fogos.
O PP tem acusado o Governo de que não foram mobilizados de forma expedita os meios solicitados pelas regiões autónomas ou que houve demora na ativação do mecanismo europeu de proteção civil.
“O Governo chegou tarde e houve falta de planeamento, de prevenção e de compromisso nos primeiros dias de incêndios florestais”, disse na segunda-feira o líder do PP, Alberto Núñez Feijóo.
O Governo, através de vários ministros, rejeitou as críticas e garantiu que, pelo contrário, se antecipou na ativação da ajuda nacional e europeia aos primeiros pedidos formais das regiões, permitindo, por exemplo, a chegada a Espanha, ao longo da semana passada, de meios de nove países.
Os fogos mataram quatro pessoas e já queimaram cerca de 400 mil hectares em Espanha em 2025, um recorde anual no país, de acordo com os dados, ainda provisórios, do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS), que tem registos comparáveis desde 2006.
O Governo espanhol declarou hoje zonas de catástrofe as áreas afetadas por 113 grandes incêndios no país nos últimos dois meses, 15 dos quais continuam ativos.