O encontro que juntou hoje em Montalegre responsáveis pela conservação da natureza, pelo combate e investigação de incêndios permitiu “trilhar caminho” para debelar o “flagelo” que “envergonha” toda a gente, disse o presidente da câmara.
“Está-se trilhando caminho para ver se se acaba com este flagelo porque é desonroso e envergonha toda a gente”, afirmou Orlando Alves, após uma reunião convocada para Montalegre e onde se discutiram as ocorrências de incêndios fora da “época quente”.
O concelho do Norte do distrito de Vila Real contabiliza 131 ignições e ultrapassou os 1.300 hectares de área ardida desde 01 de janeiro e até hoje. Este é o município com o maior número de ocorrências a nível nacional, seguido de Arcos de Valdevez (Viana do Castelo) com 48 ignições.
“Um número tão elevado de ocorrências em Montalegre tem necessariamente associado um fator de risco muito relevante e, portanto, nós precisamos de perceber se estamos efetivamente a falar de incêndios, se estamos a falar de fogo de gestão, se estamos a falar da resposta à necessidade que as pessoas têm de renovar as pastagens ou se estamos a falar de outro tipo de dinâmica. E isso só se faz no terreno”, referiu Nuno Banza, presidente do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
A reunião, acrescentou, “foi de trabalho” e teve como objetivo “reforçar a ligação entre as diferentes entidades e coordenar as diferentes responsabilidades”.
Dentro de duas semanas, os intervenientes voltarão a reunir-se.
“O fogo é um instrumento de gestão, agora nós precisamos que ele seja usado com regras, seja usado com uma forte redução do risco, para que nós saibamos que aquilo que está a arder é aquilo que pode arder e que dessa gestão do fogo não resultem riscos para as pessoas, nem perdas de habitats, nem de património e isso só se faz com a ligação às pessoas”, salientou Nuno Banza.
Num território com uma forte aposta no pastoreio, muitos dos fogos estão associados à necessidade de renovação de pastagens.
“Se são necessárias áreas de pasto para o gado elas têm que ser feitas e que sejam feitas com as devidas cautelas, prevenindo incêndios de grande dimensão que podem afetar as pessoas e os seus haveres”, afirmou Álvaro Ribeiro, comandante distrital de operações de socorro de Vila Real.
O responsável defendeu a necessidade de “convergências no sentido de ir ao encontro das necessidades das populações e também de criar condições para que o incêndio não se torne perigoso na perspetiva da ameaça da população e dos seus haveres”.
Na sua opinião, no encontro de hoje “houve uma preocupação ao nível das várias entidades para encontrar soluções para o problema”.
O autarca Orlando Alves apontou para um conjunto de “incongruências” e de “causas que é preciso combater e que têm de ser plasmadas em lei ou em decreto”.
Referiu que este é um território com uma população muito envelhecida, com muitos a receberem subsídios agroambientais e a terem a obrigação de limpar os terrenos.
“E não tendo capacidade para pagar ou força física para limpar, chega o fogo e isto são realidades que temos de saber contornar”, referiu.
O autarca quer delinear “um plano anual de intervenção”, para definir quais “as áreas onde, nos meses de fevereiro e março, se façam fogos controlados”.
Um trabalho que deverá ser delegado na Comissão Municipal de Defesa e Proteção da Floresta e articulado com as comunidades locais, nomeadamente os conselhos diretivos de baldios
O autarca associou também os fogos com a “praga dos javalis”, que afeta o agricultores deste território, e disse que a câmara reclama que “se comece a matar todo o ano javalis” e não se continue a “mascarar o problema com as chamadas correções de densidades”.
Participam na reunião, além do ICNF e da autarquia de Montalegre, a GNR, Polícia Judiciária, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), a Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) e as corporações de bombeiros locais.
Montalegre tem, segundo o comandante Álvaro Ribeiro, “movimentado meios operacionais do distrito de uma forma extraordinária” e como “nunca aconteceu no mês de março”.
Nos últimos dias foram instaladas 10 equipas nos concelhos do distrito com maior risco de incêndio e com maior número de ocorrências.
Desde sexta-feira que se encontra em Vila Real um grupo de combate da Força Especial de Proteção Civil.