A Fundação Calouste Gulbenkian é uma instituição perpétua de nacionalidade portuguesa que tem como propósito fundamental melhorar a qualidade de vida das pessoas através da arte, da beneficência, da ciência e da educação, desenvolvendo as suas atividades através da atribuição de apoios, da realização de eventos, da promoção de estudos e outras publicações e da realização de iniciativas ou projetos próprios.
Comprometida com a sua plena independência e preservação do seu património, a Fundação define como principal prioridade para a sua atividade a construção de uma sociedade que ofereça iguais oportunidades e que seja sustentável.
Em 2016 criou o Hack for Good, uma iniciativa que tem por objetivo demonstrar o papel que a tecnologia pode desempenhar na resolução dos principais desafios sociais e ambientais que a nossa sociedade enfrenta.
A iniciativa começou como um hackathon de 36 horas, de periodicidade anual, que se transformou, em 2019, num programa integrado de apoio à organização e ao crescimento de hackathons de norte a sul do país, contribuindo com capital, mentoria e formação para potenciar e acelerar um maior número de ideias e talento.
Ao promover esta iniciativa, o Programa Gulbenkian Desenvolvimento Sustentável pretende criar condições favoráveis ao surgimento de novas ideias e projetos que, através da inovação aberta e das competências da comunidade tecnológica, se tornem produtos ou serviços viáveis e ajustados à realidade dos desafios complexos a que se propõem responder.
OBJETIVO
Desenvolver soluções tecnológicas para medir e otimizar a água na agricultura
Atualmente, uma das principais prioridades da Fundação Calouste Gulbenkian, no quadro do Desenvolvimento Sustentável, é estimular práticas de produção e consumo mais sustentáveis que, através do uso eficiente de recursos, assegurem a proteção ambiental e contribuam, simultaneamente, para o crescimento económico e a satisfação das necessidades humanas.
A água é uma dessas necessidades. No entanto, as previsões apontam para um cenário de escassez de água em Portugal já nos próximos 20 anos, o que põe em risco a nossa capacidade de produção de bens e serviços essenciais, incluindo a nossa alimentação.
Otimizar a utilização de recursos hídricos é, por isso, um desafio especialmente premente, sobretudo no setor agrícola.
A agricultura, baseada no regadio, representa 75% do total de água utilizada no país. É a rega que compensa o calor e a falta de chuva nas estações quentes do ano, de modo a garantir a produção e competitividade das culturas.
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De acordo com dados apresentados pela FAO, a Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas, até 2050 será necessário aumentar em 60% a quantidade de comida produzida para fazer face às necessidades associadas ao crescimento global da população. Para além disso, a FAO prevê que a produção de alimentos por via de irrigação venha a aumentar 50% até 2050, ainda que este aumento possa ser menor (10%) caso sejam implementadas práticas mais eficientes de utilização de água na agricultura.
É nesse sentido que a Fundação volta a recorrer à comunidade tecnológica, desafiando-a a encontrar soluções e perspetivas inovadoras para este problema. É essencial criar oportunidades para um crescimento sustentável da agricultura em Portugal. Acreditamos que a tecnologia pode desempenhar um papel decisivo no desenho de um setor agrícola mais eficiente e sustentável, incorporando melhores práticas, com um custo reduzido e de fácil implementação.
Nesta edição do Hack for Good @Home, convocamos a comunidade tecnológica, bem como estudantes ou profissionais ligados à eficiência hídrica e à gestão agrícola, a criarem soluções para a medição e a otimização do uso da água na agricultura.
Medir e otimizar a água na agricultura.
Um dos principais desafios associados ao uso da água na agricultura está relacionado com a capacidade de medir e otimizar a sua utilização. Infelizmente, a maioria dos agricultores ainda não regista com rigor os seus consumos de água, dificultando a monitorização e a gestão apropriada deste recurso. De acordo com o estudo ‘O uso da água em Portugal’, realizado pelo C-Lab para a Gulbenkian, mais de dois terços dos agricultores (71%) não possui um contador de água. Esta situação verifica-se com mais relevância no acesso privado à água, mas não é exclusiva deste.
Já assistimos a progressos assinaláveis na adoção de sistemas de rega mais eficientes, como a rega gota-a-gota. No entanto, a adoção de inovação tecnológica, nomeadamente sondas, informação de estações meteorológicas, satélites e programas de gestão de rega à distância, ainda se encontra num estado embrionário.
O desafio é fazer de forma diferente, pensando a longo prazo e recorrendo às tecnologias, o que exige capacitação mas trará, sem dúvida, ganhos de eficiência. A grande maioria dos agricultores (81%) que já adotaram este tipo de inovação não tem dúvida que conseguiu poupar água para os mesmos ou melhores resultados, além de gerar outras poupanças (energia, por exemplo) e melhorar substancialmente a qualidade dos solos, designadamente pela diminuição da necessidade do uso de fertilizantes.
O facto de a água não ser a despesa que mais pesa no orçamento agrícola e de a necessidade desse salto tecnológico exigir capacitação e investimento tem condicionado a mudança. Contudo, numa perspetiva integrada de recursos e numa necessária resiliência a períodos de seca mais frequentes e intensos, o uso eficiente de água revela-se não só necessário como benéfico para todos.
A que desafios pode a tecnologia dar resposta?
Para apoiar os interessados em participar no Hack for Good @Home, apresentamos alguns exemplos de soluções que a tecnologia pode criar para desafios no uso eficiente da água e que podem ajudar os participantes a definir o problema a que pretendem responder. Recordamos que esta lista de exemplos é meramente indicativa e que os participantes podem desenvolver livremente uma solução para o problema que identificarem, desde que esteja associado a um uso mais eficiente da água no setor agrícola.
- Partilha de informação entre agricultores para a criação de benchmarking (big data). Por exemplo, a criação de uma plataforma de partilha de métricas de uso de água e de resultados de produção dos diferentes agricultores, para estabelecer referências e comparativos de rega nacionais e apoiar os agricultores na compreensão das necessidades ótimas de água por tipo de culturas, região e características relevantes das explorações agrícolas.
- Integração e combinação de diferentes fontes de informação (nomeadamente satélite, estações meteorológicas e sondas) na previsão dos planos de rega. Por exemplo, uma solução que cruze e disponibilize, num mesmo suporte, métricas de diferentes fontes de informação para maximizar a otimização da rega.
- Controlo, numa única plataforma, da ‘equação alargada da água’, através da monitorização do uso eficiente de água na rega e dos restantes fatores que beneficiam de uma otimização do uso da água (eletricidade, combustíveis, fitofármacos, qualidade do solo), para melhor aferir os ganhos totais de uma rega eficiente.
- Aplicação de inteligência artificial na gestão de rega. Por exemplo, soluções para otimizar processos de previsão e ajustes do plano de rega, ao longo das campanhas agrícolas, e criar soluções de aprendizagem, correção e autoaperfeiçoamento.
- Sistemas de avaliação da eficiência do uso da água, ajustados à cultura e às características da exploração agrícola, que permitam avaliar progressos, numa evolução temporal e considerando a especificidade climatérica de cada ano.
- Monitorização dos aquíferos. Por exemplo, registo e monitorização dos níveis a que o agricultor está a puxar água – medição e acompanhamento do nível piezométrico – para que possa controlar a água subterrânea que utiliza (e capacidade de reposição).
- Monitorização e alerta de perdas nos sistemas de distribuição da água de rega.