A nova adega da Granvinhos que abriu nesta vindima, na Régua, teve um investimento de 25 milhões de euros, possui 95% dos procedimentos automatizados, capacidade para vinificar 8.000 toneladas de uvas e serve seis concelhos do Douro.
Jorge Dias, diretor-geral da Granvinhos, disse à agência Lusa que o desafio foi criar “a adega do futuro”, juntando inovação nos procedimentos de vinificação com práticas sustentáveis, eficiência energética e poupança de água.
O projeto foi desenvolvido no âmbito da agenda mobilizadora para a inovação empresarial Vine & Wine Portugal, apoiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
A transição digital no funcionamento da adega foi um dos desafios e a aposta centrou-se na automatização dos procedimentos – que ronda os 95% – permitindo, segundo Jorge Dias, “diminuir a dependência de mão de obra, que é cada vez mais escassa, e o risco associado” a uma adega de grande dimensão.
“A automatização destes processos, a monitorização e a integração de todos os sistema num único interface com o enólogo ou com os operadores que estão no chão da adega, eu acho que faz toda a diferença”, afirmou.
Cláudio Santos, responsável de projetos da Granvinhos, disse que a ideia foi maximizar o uso da tecnologia para respeitar a matéria-prima e operacionalizar melhor as tarefas executadas no dia a dia, sobretudo durante a vindima.
A adega tem quatro linhas de receção, tapetes vibratórios para o transporte e desengace das uvas, e está dotada de um sistema automático de distribuição de massas e de vinhos, com cerca de 16 quilómetros de tubagens, e de um parque com 60 cubas de vinhos tintos, brancos e rosés.
Com um ‘tablet’ na mão, o enólogo tem acesso “a tudo”. Consegue ver o que está a acontecer a todo o momento numa cuba, controlando de forma mais precisa o processo de fermentação ou de alcoolização em cada uma.
É ainda possível, segundo Cláudio Santos, ficar com um registo histórico preciso, de vindima para vindima, da fermentação em cada cuba.
Jorge Dias realçou a poupança nos consumos energéticos.
“Temos capacidade de operar, durante o período da vindima com 30% de energias renováveis e 40% fora do período da vindima”, referiu, explicando que foram instalados painéis fotovoltaicos.
Concretizou-se ainda uma poupança no consumo de água. O empurre dos líquidos de vinho ou dos mostos passou a ser feito com um torpedo impulsionado por ar comprimido e a Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) possui um sistema de filtração que permite a reutilização até 100 mil litros de água por dia para a higienização dos pavimentos ou a rega dos espaços verdes.
A adega tem capacidade para vinificar 8.000 toneladas de uvas, podendo chegar às 10.000 toneladas numa segunda fase, em que se pretende também apostar no enoturismo.
Durante a vindima, trabalha com 30 pessoas, conseguindo funcionar com quatro durante o resto do ano.
Jorge Dias disse que a empresa compra uvas a cerca de 1.700 viticultores do Douro, 900 dos quais estão a deixar a produção na nova adega que serve os concelhos de Santa Marta de Penaguião e Vila Real, Régua, Mesão Frio, Lamego e Armamar.
O ano zero de funcionamento coincide com uma quebra de produção na Região Demarcada do Douro.
Os viticultores que colaboram com a Granvinhos e já terminaram a vindima – quase um terço – registaram quebras de produção “ligeiramente acima dos 40%” relativamente a 2024 e cerca de 30% comparativamente com a média dos últimos cinco anos.
“O que é enorme”, referiu Jorge Dias, que adiantou que “provavelmente não há uvas suficientes” para cumprir as expectativas de produção de vinhos do Porto ou do Douro.
Instalado na Quinta do Cedro, no Rodo, no Peso da Régua, o novo centro de vinificação substituiu a antiga adega no lugar dos Avidagos, em Santa Marta de Penaguião, e reforça a capacidade de operação do grupo que, no Douro, possui ainda adegas em Alijó e Tabuaço.
O investimento foi de 25 milhões de euros, mais do que o previsto inicialmente, com cerca de 15% de comparticipação do PRR.
“Em teoria deveria financiar a 30%, contudo o PRR foi preparado antes da crise da subida das taxas de juros e da inflação. Desde que os projetos foram submetidos, o aço duplicou o preço”, exemplificou Jorge Dias, que adiantou que a conclusão dos projetos do consórcio Vine & Wine, liderado pela Granvinhos, foi adiada para meados de 2026.
Jorge Dias apontou para uma “ligeira redução” nas vendas nos vinhos do Douro realçando, contudo, que a Porto Cruz, a maior marca mundial de vinho de Porto, estava “com crescimento no final de agosto”.
A Granvinhos tem uma produção média anual de 30 milhões de garrafas, no conjunto de todas as empresas do grupo, com exportações na ordem dos 75 a 80% e um volume de negócios de 110 milhões de euros.