A cereja do Fundão, o pêssego da Cova da Beira e o mirtilo da Beira Interior vão ser transformados em suplementos alimentares naturais, graças a uma parceria entre o Instituto Politécnico da Guarda (IPG) e uma empresa farmacêutica.
O objetivo, explica a comunicação da Instituição, passa por combater a síndrome metabólica, responsável por doenças cardíacas, a diabetes tipo 2 e outras doenças crónicas.
O projeto “RedSup4Health” será liderado pela empresa Natural Green Biological (NGB), em colaboração com a Cerfundão, e contará com a participação de investigadores e laboratórios do Instituto Politécnico da Guarda (IPG), da Universidade da Beira Interior (UBI) e da Universidade Católica Portuguesa, através do seu Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde (UCP).
A iniciativa tem início marcado para o mês de junho, terá uma duração de 36 meses e será financiado em cerca de 1,1 milhões de euros através do FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.
O principal objetivo do projeto é desenvolver “suplementos alimentares inovadores”, em formato líquido e sólido, utilizando frutos vermelhos endógenos da região da Beira Interior.
Estes frutos são ricos em compostos bioativos e reconhecidos pelos seus efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios, antidiabéticos e anti obesidade, sendo valorizados pelo seu potencial preventivo contra a síndrome metabólica.
“A síndrome metabólica está associada a estilos de vida sedentários, a dietas desequilibradas e a fatores ambientais, representando desafios significativos para a saúde pública global: o RedSup4Health pretende contribuir para a prevenção e combate a um dos principais problemas globais de saúde e bem-estar, tirando partido do potencial existente na região interior de Portugal e dando um novo uso a produtos endógenos como a cereja do Fundão, pêssego da Cova da Beira e mirtilo da Beira Interior”, afirmou Luís da Silva, investigador no Politécnico da Guarda e responsável pelo projeto RedSup4Health”.
E continua: “em colaboração com o setor farmacêutico e outras instituições de ensino superior, vamos lançar esses produtos em cadeias de valor internacionais, incluindo-as em soluções de alto valor acrescentado, como é o caso dos suplementos alimentares”.
O projeto está organizado em sete atividades interligadas, nomeadamente:
– Caracterização química e biológica das matérias-primas (cerejas, pêssegos e mirtilos), dos extratos e das misturas, com avaliação do seu potencial antidiabético, anti obesidade, antioxidante e anti-inflamatório;
– Otimização dos métodos de extração e formulação dos suplementos alimentares, tanto em formato sólido como líquido, com base nos frutos vermelhos endógenos;
– Avaliação e caracterização dos suplementos, incluindo análise química, estudo do potencial biológico e ensaios in vivo para validação farmacêutica;
– Desenvolvimento de prototipagem e ensaios pré-clínicos;
– Produção de lotes piloto dos suplementos, com avaliação de amostras e ensaios de estabilidade;
– Promoção e divulgação das atividades e resultados do projeto junto da comunidade científica, setor empresarial e público em geral;
– Gestão e coordenação global do projeto.
Segundo a comunicação, estas atividades têm como finalidade assegurar que os compostos bioativos e as propriedades naturais dos frutos vermelhos são preservados nos novos suplementos alimentares. Paralelamente, pretende-se que os produtos desenvolvidos tenham viabilidade comercial, tanto no mercado nacional como internacional.
“Ao reunir ciência, inovação e recursos endógenos, o RedSup4Health pretende, não só dar resposta ao preocupante aumento das doenças crónicas, que afetam seis em cada dez pessoas a nível mundial, como também promover a valorização económica de produtos locais, com vista à sua comercialização e internacionalização”, afirmou Luís da Silva, que sublinha que este projeto representa “uma aposta estratégica na bioeconomia regional, promovendo o desenvolvimento sustentável e a saúde pública a partir de soluções de base natural”.
Já Joaquim Brigas, presidente do Politécnico da Guarda, refere que “para além da inovação em nutrição funcional, o projeto pretende também gerar conhecimento científico que possa ser aplicado no avanço da saúde pública e da investigação biomédica, impulsionando a competitividade e a inovação no setor agroalimentar e farmacêutico”.
Para além da aposta na inovação em nutrição funcional, os responsáveis pelo projeto RedSup4Health sublinharam ainda que este visa também responder a desafios territoriais prementes, nomeadamente a valorização dos produtos locais, a diversificação da economia regional e a fixação de população em zonas de baixa densidade.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.