A população do distrito de Caia, centro de Moçambique, enfrenta a falta de frutos silvestres e de tubérculos aquáticos, que têm sido a alternativa à escassez alimentar provocada pela seca, devido ao fenómeno El Niño, disseram as autoridades.
“Estamos com défice alimentar e é natural que as pessoas digam que não têm comida”, porque o fenómeno El Niño provocou uma seca que afetou os campos agrícolas, disse Nobre dos Santos, administrador de Caia, província de Sofala, em declarações aos jornalistas.
Mais de 200 mil pessoas estão a passar por uma crise alimentar em Caia e a época agrícola está perdida, devido à seca, causada por aquele fenómeno climátérico, acrescentou.
“Para fazer face à escassez de alimento e aproveitando a queda da chuva, o Governo distribuiu sementes resilientes aos camponeses”, avançou.
O administrador de Caia admitiu que as autoridades não têm sementes resilientes suficientes para distribuir pelos camponeses.
Líderes comunitários de Caia relataram que há famílias que não conseguem fazer, pelo menos, uma refeição diária, devido à falta de comida.
Pedro Joaquim, um líder comunitário, disse que a crise alimentar afeta os camponeses de Caia há cerca de um ano, porque os campos foram arrasados pelo ciclone Freddy e agora pelo El Niño.
“Temos crise de fome ao nível do distrito. Nossas machambas [campos agrícolas] não têm nada”, afirmou.
Cerca de 3,3 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar em Moçambique, devido à seca e inundações, disse em março a secretária executiva do Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN), Leonor Mondlane.
“Neste momento, temos um estudo pós-choque de 2023, que estimou em cerca de 2,3 milhões de pessoas que estão em insegurança alimentar e projetou, até março, 3,3 milhões”, afirmou Mondlane, sobre o total de pessoas atualmente nessa situação.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril, e seca em outros pontos do país.
O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas dos ciclones Idai e Kenneth, dois dos maiores de sempre a atingir o país.
No final de setembro de 2023, o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, apelou para a preparação da população e das entidades para os previsíveis efeitos do fenómeno ‘El Niño’ no país nos meses seguintes, com previsões de chuvas acima do normal e focos de seca.