Mais de 80% dos subsídios da Política Agrícola Europeia (PAC) foram direcionados à criação de animais, tendo sido investido muito menos no cultivo de plantas. É a principal conclusão de um estudo publicado na Nature Food, citado no site do The Guardian.
Os subsídios atribuídos pela PAC “favorecem os alimentos de origem animal, que utilizam 82% dos subsídios agrícolas da União Europeia, dos quais 38% diretamente e 44% para alimentação animal”, avança o estudo, que analisou o impacto dos subsídios agrícolas no sistema alimentar europeu.
A União Europeia, que planeia se tornar o primeiro continente neutro em termos climáticos até 2050, investiu quase um terço do seu orçamento em subsídios da PAC, salienta o estudo. “A grande maioria está a ser investido em produtos que nos estão a levar à beira do abismo”, referiu Paul Behrens, investigador no setor das alterações ambientais na Universidade de Leiden, nos Países Baixos, e coautor do documento, citado no The Guardian.
Pagar mais aos terrenos que ocupam mais metros quadrados, origina “resultados perversos para uma transição alimentar”, pois o gado ocupa mais espaço do que as plantas e é alimentado “de forma ineficiente”, com culturas que poderiam ter sido direcionadas para as pessoas, avança o estudo.
“Para produzir a mesma quantidade de proteína, a carne bovina requer 20 vezes mais terra do que as nogueiras e 35 vezes mais do que cereais”, explicam os investigadores. Neste sentido, Paul Behrens refere que “estamos a incentivar o pior cenário”.
Para calcular a extensão total do apoio da UE aos produtos de origem animal, os investigadores associaram os registos de subsídios a uma base de dados académica sobre os fluxos alimentares e investigaram os dinheiros públicos através da cadeia de abastecimento em 2013, o último ano para o qual possuíam dados.
“A PAC foi reformada duas vezes desde então, mas a divisão dos subsídios diretos – antes de ter em conta os fluxos comerciais – manteve-se praticamente constante para os alimentos à base de animais e vegetais”, explica a análise.
Os investigadores descobriram que 12% dos subsídios foram incorporados em produtos que foram enviados para fora da UE, principalmente para países de renda média-alta e alta. “A China consumiu mais subsídios agrícolas da UE do que a Holanda, enquanto os EUA consumiram mais do que a Dinamarca”, segundo o estudo.
Para Mario Díaz Esteban, ecologista do Museu Nacional de Ciências Naturais, em Espanha, citado no site do jornal britânico, estes resultados são “tão sólidos e claros quanto devastadores”.
Já para Florian Freund, economista agrícola da Universidade de Braunschweig, na Alemanha, “o estudo ilustra que a maioria dos subsídios não apoia uma transição urgentemente necessária para dietas saudáveis e sustentáveis”.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.