O Centro de Estudos Aplicados da Católica-Lisbon, School of Business & Economics em parceria com a ANIPLA realizou um estudo à população portuguesa, no passado mês de março, para aferir o seu conhecimento quanto às realidades da produção agrícola. Este estudo procurou apurar o nível de compreensão da população adulta portuguesa quanto à realidade da produção de alimentos em algumas áreas fundamentais como: a relação entre os produtos fitofarmacêuticos e a produtividade agrícola, o impacto económico e a acessibilidade aos bens alimentares e ainda a perceção face à produção e aos alimentos de agricultura biológica.
Estudo ao consumidor – Conhecimento do consumidor sobre os desafios da alimentação mundial
Em evidência fica o facto deste estudo revelar que grande parte da população portuguesa desconhece quais os desafios da produção alimentar mundial e a ligação existente entre a produtividade e o preço dos alimentos.
Metodologia: O tamanho total da amostra foi de 961 participantes adultos, representantes da população portuguesa. O estudo online foi realizado junto dos participantes inscritos no Painel de Estudos Online (PEO) da Católica-Lisbon. Os dados foram recolhidos entre 8 e 17 de março de 2018 e foram pesados de maneira a garantir a representatividade de toda a população (maiores de 18 anos) de Portugal.
Principais resultados
Portugueses desconhecem que a produção alimentar mundial precisa de aumentar 60% até 2050
Os dados divulgados pelo Parlamento Europeu[1] referem que 40% das culturas agrícolas mundiais são perdidas todos os anos devido a pragas, doenças e infestantes. O estudo revelou que 82% dos portugueses desconhece essa percentagem.
Relativamente ao tema da produção global de alimentos, a FAO (Food & Agriculture Organization of the United Nations[2]) indica que a produção alimentar global devia aumentar 60% até 2050, por forma a atender às necessidades da população mundial em crescimento – número que apenas 7% dos inquiridos deste estudo estimou acertadamente.
Portugueses apontam alterações climáticas e falta de terras aráveis como os fatores com maior impacto no aumento do custo dos alimentos
A maioria dos inquiridos concorda que perturbações à produção têm impacto no preço dos produtos, com 98% dos respondentes a revelar que o preço dos produtos alimentares deve permanecer acessível para garantir que as famílias têm acesso a alimentos saudáveis e frescos.
Quando questionados sobre quais os fatores que mais influenciam o aumento do custo dos alimentos no mundo, a falta de alimentos devido às alterações climáticas foi a seleção de 86% dos inquiridos, seguido da falta de terra adequada ao cultivo, por 60% dos inquiridos.
Perante a questão sobre o papel dos produtos fitofarmacêuticos e o seu impacto no custo dos alimentos, ficou evidente que mais de metade dos portugueses (61%) está de acordo que, para manter os seus alimentos acessíveis, os agricultores devem ser capazes de combater infestantes, pragas e doenças recorrendo aos produtos fitofarmacêuticos.
Fatores como a “Procura dos consumidores por produtos fora de época ou sem considerar a sua origem” e a “Alteração dos hábitos de consumo dos consumidores (ex: a procura de frutas e legumes de agricultura biológica, opções de alimentos sem glúten, alternativas…)” foram os menos selecionados, com apenas 32% e 33%, respetivamente.
Destaque ainda para o facto de que, aproximadamente, 38% da população portuguesa vê no crescimento populacional um fator com impacto no incremento dos preços dos alimentos.
População portuguesa vê nos produtos fitofarmacêuticos um aliado da produção agrícola
No que concerne ao conhecimento dos portugueses sobre o papel dos produtos fitofarmacêuticos, o estudo elucidou que 85% dos indagados reconhece que estes produtos químicos são concebidos com o objetivo de proteger as plantas das influências prejudiciais, incluindo insetos nocivos, infestantes, fungos e outros parasitas.
De forma inequívoca, esta amostra da população portuguesa concordou, na sua maioria (68% das respostas), que sem o uso de produtos fitofarmacêuticos mais de metade das culturas mundiais podem ser perdidas anualmente, devido a pragas e doenças das culturas.
Portugueses revelam preferir alimentos biológicos, mas desconhecem a forma como são produzidos
No que diz respeito aos hábitos alimentares dos portugueses, o estudo da Universidade Católica evidenciou que 65% dos inquiridos tem preferência por consumir apenas alimentos biológicos. Contudo, apenas de a maioria dos respondentes preferir alimentos produzidos em agricultura biológica, muitos destes revelou desconhecer algumas das realidades da sua produção. Destaque para o facto de que 60% dos inquiridos não sabe ou discorda totalmente do facto de a agricultura biológica utilizar produtos fitofarmacêuticos químicos na sua produção.
Desconhecimento que fica evidente também no facto de, revela o mesmo estudo, 66% dos inquiridos acreditar que comer alimentos biológicos regularmente reduz o risco global de cancro.
Número em oposição a apenas 19% da população estudada, que revelou conhecer que esta forma de produção agrícola faz uso destes produtos fitofarmacêuticos.
SOBRE O CENTRO DE ESTUDOS APLICADOS DA UNIVERSIDADE CATÓLICA
O CEA é a unidade de consultoria da CATÓLICA-LISBON, que presta serviços de consultoria a diversas instituições dos domínios privado, público e social. É, dentro da Universidade Católica Portuguesa, um elo de ligação à economia real, sendo através do CEA que muitos dos docentes da universidade realizam trabalhos nas suas diversas áreas de excelência. O CEA recorre ao corpo docente da CATÓLICA-LISBON, que conta atualmente com um corpo docente e uma equipa de investigação internacionais, que permitem responder à maioria das solicitações de trabalhos nos domínios da Gestão e Economia. Vários docentes da CATÓLICA-LISBON destacam-se, ainda, pela sua relevante experiência profissional.
[1] European Union, European Parliament. (2015), Draft Report on Technological solutions to sustainable agriculture in the EU (2015/2225(INI))
[2] Fonte: Alexandratos, N. and J. Bruinsma. 2012. World agriculture towards 2030/2050: the 2012 revision. ESA Working paper No. 12-03. Rome, FAO.