[Fonte: Diário Noticías] A chegada de jovens formados está a revolucionar a agricultura – novas técnicas, novos produtos. E exportações a crescer.
“Nos próximos dez anos vai haver uma grande mudança. Vai haver uma revolução na agricultura portuguesa”, garante Jaime Ferreira, presidente da Agrobio. Hoje, mais de metade dos agricultores portugueses (132 mil) têm mais de 65 anos e apenas 70% concluíram o ensino básico; mas está a aparecer toda uma nova geração que está a criar startups e a aventurar-se em novos produtos agrícolas, apostando na exportação, numa escala nunca imaginada.
Os novos agricultores têm mais formação, estão mais informados, são mais dinâmicos. E conseguem tirar maior vantagem das novas tecnologias e da abertura dos mercados, reconhece Jaime Ferreira. E as mudanças já são visíveis. “Hoje, com menos pessoas, produz-se mais”, refere Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores Portugueses (CAP). “Quando o país aderiu à CEE [1986], a população ativa na agricultura era 25%, agora são 5%”, lembra. E a produção agrícola atingiu, no ano passado, 6,84 mil milhões de euros, o valor mais alto de sempre.
Capoulas Santos, o novo ministro da Agricultura, já traçou uma meta ambiciosa: “Manter o setor agrícola a crescer a um ritmo duas vezes superior ao resto da economia.”
E como se chegou aqui? Capoulas Santos atribui a mudança na agricultura ao “processo de integração europeia que ocorreu há 30 anos”, que levou à criação de infraestruturas, outras plantações e novos equipamentos. Mas a pedra de toque desta transformação foi a formação, defende o ministro. “Um simples trator tornou-se um computador com rodas, que exige muito mais qualificações”, assinala Luís Mira. “Hoje, há mais respeito pelo ambiente, menos mobilização do solo e o uso sofisticado da rega.” Neste último ponto, destaque para os israelitas, os inventores do sistema gota a gota, que já estão a aplicar em Portugal uma versão enterrada no solo, com ganhos superiores.
Os novos agricultores têm uma “abordagem empresarial”, com benefícios em termos de redução de riscos, garante o secretário-geral da CAP. José Martino, consultor agrícola, concorda: “O agricultor quer ser cada vez mais um empreendedor agrícola.” E os resultados não enganam. “Os agricultores com mais lucros são os que vendem o produto transformado, ou seja, que conseguem acrescentar valor”, acrescenta Luís Mira.
Em Portugal, a Companhia das Lezírias, uma empresa controlada pela holding estatal Parpública, é a maior exploração agropecuária e florestal existente – são 18 mil hectares onde se produz arroz, milho, vinho, azeite e cortiça e se cria gado e cavalos. Mas para responder às exigências dos consumidores e conquistar novos mercados, o desafio para criar novos produtos adquiriu estatuto de emergência e a cooperação com universidades multiplicou-se. Jovens licenciados estão agora a aventurar-se no mundo da agricultura, com novas ideias e novas técnicas. Desde a agricultura biológica aos frutos exóticos. E a unir forças. “São precisas sinergias para ganharmos escala, senão seremos sempre pequenos”, avisa Pedro Bragança, um engenheiro informático que se lançou, com outros parceiros, na criação de frutos vermelhos, cujas produções podem ser controladas a partir de um telemóvel, com tecnologia desenvolvida em Portugal.
A “origem Portugal, como sabor, qualidade e segurança alimentar”, nas palavras de José Martino, está a impor-se nos mercados externos, com a ajuda da Portugal Foods, no agroalimentar, e da Portugal Fresh, para frutas, hortícolas e flores.
Manuel Évora, presidente da Portugal Fresh, assume que, em cinco anos, houve uma mudança enorme: “Em 2010, quando a associação foi criada, Portugal exportava 62% do valor do que importava e, em outubro de 2015, esse valor subiu para 97%.” Em 2014, as exportações somaram 1100 milhões de euros. A meta é duplicar esse valor para dois mil milhões de euros em 2020.
No processo da integração europeia, Capoulas Santos reconhece ter havido um “ajustamento estrutural fortíssimo”, que “provocou uma alteração do perfil da nossa agricultura”. Essa mudança traduziu-se, segundo refere, “no grande crescimento de alguns setores que adquiriram vocação exportadora”, apontando como exemplo “o vinho, o azeite, o leite ou as hortofrutícolas”. E admite que “o futuro passa pelo reforço desta aposta”.
A Sovena, presidida por António Simões, por exemplo, é já a segunda maior produtora de azeite do mundo, com dez mil hectares de olival e dez milhões de oliveiras plantadas. Exporta 80% da produção, para mais de 80 países. A Sogrape, de Salvador Guedes, é outro exemplo de sucesso: exporta 70% dos seus vinhos para mais de 120 países e foi considerada a melhor produtora vitivinícola do mundo em 2015.
O certo é que “estamos a fazer história – diz José Martino -, ser agricultor em Portugal já dá prestígio”.