Situada em Santarém, a unidade bioindustrial vai transformar 36.000 toneladas de desperdício vegetal em proteína e fertilizante, através da Mosca Soldado-Negro, e criar 66 postos de trabalho diretos
Projeto aprovado pelo Portugal2020 e cofinanciado pelos fundos da série Innovation da BlueCrow e pelo Banco de Fomento através do Fundo 200M
A EntoGreen, uma marca da Ingredient Odyssey SA, focada na economia circular no setor agroalimentar, alcançou um investimento que lhe permitirá implementar um projeto de 10,7 milhões de euros para construir uma unidade bioindustrial em Santarém.
A nova unidade, inovadora pela forma como utiliza os insetos como ferramenta de bioconversão, utilizará como biodigestor a Mosca Soldado-Negro para converter, anualmente, 36.000 toneladas de subprodutos vegetais em 2.500 toneladas de proteína, 500 toneladas de óleo de inseto para a alimentação animal e 7.000 toneladas de fertilizante orgânico para os solos, devolvendo às plantas e aos animais nutrientes que hoje são desperdiçados.
Segundo Daniel Murta, CEO da Ingredient Odyssey SA, “Estimamos que em Portugal se desperdiça, por ano, cerca de um milhão de toneladas de alimentos; desperdício que pode ser convertido em produtos essenciais a diversas indústrias e com enormes ganhos económicos e ambientais. O nosso projeto vem dar o primeiro passo no combate a este desperdício, constituindo um exemplo de economia circular.”
A instalação da unidade fabril, na Zona Industrial de Santarém, estará em plena laboração em meados de 2022, criando 55 postos de trabalho diretos. A EntoGreen encontra-se, ainda, a criar uma unidade de Investigação e Desenvolvimento (I&D), com a qual gerará mais 11 postos de trabalho para recursos humanos altamente qualificados. Esta unidade permitirá à empresa continuar a desenvolver conhecimento na utilização de insetos para a criação de soluções inovadoras e sustentáveis.
A indústria das rações para animais será o principal mercado para os primeiros produtos da EntoGreen, que serão integrados na alimentação para peixes, aves, suínos e animais de companhia. Já os fertilizantes orgânicos terão como destino produções agrícolas, nomeadamente de hortícolas, permitindo reduzir a percentagem de importações realizadas atualmente neste setor.
A instalação da nova unidade bioindustrial irá implicar um investimento total de 10,7 milhões de euros, cofinanciado por fundos do Portugal2020, no âmbito de um projeto de inovação produtiva, pelo recém-criado Banco de Fomento e pelos fundos da série Innovation, geridos pela capital de risco BlueCrow. O projeto conta, ainda, com a participação do Crédito Agrícola.
O investimento, agora conquistado, apoiará também a Ingredient Odyssey SA, detentora da EntoGreen, no seu plano geral de I&D que engloba um investimento estimado em 5 milhões de euros entre 2021 e 2026 para novos projetos de investigação que incidem na criação de novas soluções de sustentabilidade ambiental.
Neste âmbito, já foram apresentadas novas candidaturas a concursos nacionais e internacionais, nomeadamente no âmbito do sistema de incentivos a I&D empresarial do PT2020, do PRIMA (projetos de âmbito mediterrânico), do Horizonte2020 (projeto de âmbito Europeu) e dos EAA Grants (projeto em parceria com a Noruega, na área do Mar).
Na vanguarda de soluções de alimentação mais sustentáveis
A nova unidade fabril permitirá dar escala aos produtos desenvolvidos no âmbito do projeto de investigação da EntoGreen, iniciado em 2014, com o objetivo de criar soluções de alimentação mais sustentáveis, através de tecnologias de base biológica que possibilitem a reutilização de desperdícios nutricionais que ocorrem no setor agroalimentar, reintroduzindo-os na cadeia de valor.
O projeto de investigação, que se distingue por ser 100% assente em I&D nacional, foi financiado, inicialmente, por um programa em copromoção no âmbito do PT2020 – o EntoValor – e contou com o apoio do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária e de várias empresas, como a Consulai, a Rações Zêzere e a Agromais Plus.
Através deste programa, a EntoGreen conseguiu a demonstração e o reconhecimento, quer científico, quer industrial, do seu processo e dos produtos resultantes do mesmo, comprovando que é possível criar valor e unidades fabris inovadoras assentes em investimentos de base científica e tecnológica, tendo a partir daí iniciado a fase de preparação para a instalação da sua primeira unidade industrial.