Dezenas de pessoas foram lesadas este ano no programa Pinheiro Bombeiro, com atrasos nas entregas, falta de comunicação com os responsáveis e até pinheiros que nunca chegaram e cujo dinheiro não foi devolvido.
A ‘startup’ portuguesa que criou o projeto Pinheiro Bombeiro lamenta o sucedido, explicando que houve “algumas dificuldades” decorrentes de ter delegado serviços em terceiros, mas garante que os casos de pessoas lesadas são uma minoria e que todos vão ser ressarcidos.
Lançada em 2017 pela Rnters, o Pinheiro Bombeiro é uma iniciativa solidária que consiste em retirar pinheiros da natureza, para manter os terrenos limpos e prevenir incêndios. Esses pinheiros são alugados, revertendo parte do dinheiro para ajuda aos bombeiros, e depois devolvidos para serem transformados em biomassa.
O preço do aluguer do pinheiro é 25 euros, dos quais cinco revertem para a Associação Portuguesa dos Bombeiros Voluntários (APBV). O pinheiro podia ser levantado no HUB do Beato ou entregue em casa mediante pagamento de uma taxa de 20 euros.
Naquela que foi a sua sexta edição, as páginas das redes sociais do Pinheiro Bombeiro encheram-se de queixas e reclamações de pessoas que não receberam, ou receberam muito tarde, o pinheiro que encomendaram, que não receberam o dinheiro de volta e que não conseguiram entrar em contacto com os responsáveis, nem obter justificações ou esclarecimentos sobre o sucedido, falando mesmo em “opacidade” neste processo.
Joana Tavares encomendou o pinheiro no início do mês, como já fizera em anos anteriores, mas contrariamente ao que sempre aconteceu, desta vez não foi contactada para agendar a entrega, não lhe responderam aos seus contactos e o pinheiro não chegou.
“Fiz inúmeros pedidos de esclarecimento que nunca foram abertos sequer no ‘site’, não existe um contacto telefónico, recorri às redes sociais. Foi-me pedido o contacto telefónico para averiguar o sucedido, não me responderam mais. Três dias depois verifiquei que a uma semana do Natal o HUB foi fechado, mesmo assim continuei sem resposta. Paguei 45 euros e hoje, a um dia do Natal, não tenho pinheiro, tenho quatro filhos em casa pequeninos que me perguntam onde está a árvore de Natal. É triste, porque nem uma resposta, nem o dinheiro de volta, nada. Já fiz queixa via email, e vai seguir uma para o meu advogado nos próximos dias”, contou à Lusa.
Para Dora Azevedo esta foi a primeira vez que encomendou um Pinheiro Bombeiro, porque tem um filho pequeno, mas não só não o recebeu, como não foi contactada. Só obteve alguma resposta quando começou a queixar-se nas páginas do Facebook e do Instagram do Pinheiro Bombeiro, mas mesmo assim, ninguém a esclareceu quanto ao sucedido.
“O pinheiro não chegou, mas muito honestamente estamos lesados, nem é tanto por não ter chegado, mas pela falta de resposta da parte deles”, disse à Lusa, acrescentando ter pedido a devolução do dinheiro e apresentado uma queixa na DECO.
Rosa Pedroso Lima, cliente deste projeto desde o início, contou à Lusa que encomendou o pinheiro no início de dezembro para colocar no átrio do prédio, para que as crianças que lá vivem o pudessem ir decorando, mas o pinheiro só chegou ao fim de três semanas.
“Este ano correu tudo mal e o que me assustou foi que deixei de ter um interlocutor. Todos os anos nunca houve problema, encomendava e dois dias depois estava o pinheiro a ser entregue, era contactada por mensagem. Este ano, não só não tive nenhuma espécie de ‘feedback’ durante três semanas, como tentei perceber qual era o número de telefone, quem era o rosto”, relatou.
Alexis Trindade encomendou pela primeira vez o pinheiro, juntamente com uns enfeites de Natal, que custaram mais 20 euros (cinco euros dos quais para os bombeiros), a pedido dos alunos da escola onde trabalha, para pôr na sala de aula.
A encomenda foi feita no dia 30 de novembro, mas dias depois sem qualquer contacto por parte dos responsáveis e sem resposta ao pedido de informação que fez através do canal de suporte do ‘site’ do Pinheiro Bombeiro, começou a encher as redes sociais de reclamações e pedidos de esclarecimento.
Só nesta altura é que recebeu algumas parcas respostas que, posteriormente, verificou não terem sido “fidedignas”.
A árvore chegou no dia 19 de dezembro, quando as aulas já tinham terminado e os alunos já estavam de férias.
A Rnters, que este ano se expandiu – deixando o aluguer de produtos entre particulares para se focar nas empresas – e passou a chamar-se Flecto, geriu pela primeira vez o projeto “com o apoio de diversos prestadores de serviços externos de forma a chegar a mais pessoas por todo o país”, disse à Lusa fonte desta ‘startup’.
A empresa ficou responsável pela marca e comunicação enquanto os fornecedores (serviços contratados) assumiram a maioria da parte operacional”, acrescentou, explicando que “serviços como os de logística de entrega e agendamento, empresas de transportes para recolha e entrega das árvores tiveram algumas dificuldades em responder a todos os pedidos atempadamente”.
“O Pinheiro Bombeiro já é uma iniciativa com mais de 5 anos e que sempre nos habituou a centenas de pedidos de suporte diários. Este ano, com o atraso da logística e um problema informático, assinalaram-se algumas dificuldades de resposta. Infelizmente, esta situação criou um aumento de pedidos de suporte que [a iniciativa] não teve dimensão para responder atempadamente”.
Admitindo que não conseguiu “assegurar a resposta com a celeridade desejada”, a empresa garante que assume “a responsabilidade com o problema operacional e logístico” que teve e que todos os lesados estão a receber “o reembolso total”.