No primeiro artigo sobre agricultura biológica desmistificamos algumas crenças relacionadas com essa prática: (1) A agricultura biológica baseia-se numa filosofia e não na evidência científica existente, (2) usa pesticidas e por vezes mais prejudiciais para a saúde que os utilizados na agricultura convencional e (3) não há provas que os alimentos biológicos sejam melhores para a saúde, mas certamente pesam mais na carteira. Neste artigo vamos falar do impacto ambiental da agricultura biológica versus agricultura convencional. Um assunto extremamente importante dado que os consumidores referem consumir produtos biológicos (e pagar mais por isso) não apenas por questões de saúde mas também porque querem ajudar o ambiente. E este é um ponto de marketing feroz da agricultura biológica. Vamos ver se o marketing vai de encontro à realidade.
Começamos com a meta-análise mais recente
Em 2017 foi publicada uma meta-análise que comparou o impacto ambiental da agricultura biológica versus agricultura convecional. Os autores compararam 742 sistemas agrícolas que produziam cerca de 90 alimentos diferentes – cereais, leguminosas e oleaginosas, frutas, legumes, laticínios, ovos e carne.
Dividiram o estudo por cinco áreas de impacto ambiental:
- Emissões de gases de efeito estufa: diz respeito ao dióxido de carbono e equivalentes de dióxido de carbono como o metano e óxido nitroso libertados para atmosfera decorrentes de atividades agrícolas, incluindo a produção e aplicação de fertilizantes, manejo do estrume, fermentação entérica animal, etc.
- Uso de energia: inclui a energia usada durante as atividades pré-produção e na quinta incluindo a produção de fertilizantes, construção de infraestruturas e uso de maquinaria.
- Uso da terra: quantidade de terra ocupada para a produção de alimentos.
- Potencial de acidificação: inclui o potencial de acidificação do dióxido de enxofre, óxido de azoto, óxido nitroso e amónia, entre outros. É uma medida do potencial aumento na acidez de um ecossistema. O excesso de acidificação dificulta a absorção de nutrientes pelas plantas e, consequentemente, a diminuição do seu crescimento. Atividades como aplicação de fertilizantes, combustão de combustível e manejo de estrume estão incluídas nestes parâmetros;
- Potencial de eutrofização: inclui o potencial de eutrofização do fosfato, óxido de azoto, amónia e azoto, entre outros. A eutrofização é uma medida do aumento de nutrientes que entram no ecossistema. A eutrofização tem impactos ambientais substanciais incluindo a proliferação de algas nos corpos de água com diminuição de oxigénio e criação de zonas mortas aquáticas (conforme falamos no artigo sobre transgénicos).
Portanto, um artigo bastante completo. Mas para ser ainda mais rigoroso, o estudo fez 164 análises que contabilizaram todo o ciclo de vida dos produtos analisados, incluindo atividades pré-exploração agrícola, produção de culturas, produção de alimentos para animais e colheita, transporte, distribuição e cozinha, o que aumenta a confiança nos resultados apresentados.
E que resultados foram esses? Bem, foram bastante surpreendentes como podemos ver na imagem abaixo:
Como ler este gráfico, de uma forma simplificada? As barras que estiverem acima da linha horizontal indicam que os métodos agrícolas orgânicos/biológicos são mais prejudiciais para o ambiente. Quando as barras estão abaixo da linha horizontal, significa que a agricultura orgânica é melhor. Se as barras tocam na linha horizontal, significa que as diferenças não são estatisticamente significativas.
E o que verificamos?
Segundo os autores:
“Descobrimos que os sistemas orgânicos requerem 25% a 110% a mais de uso da terra, usam 15% menos energia e têm 37% maior potencial de eutrofização do que os sistemas convencionais por unidade de alimento. Além disso, sistemas orgânicos e convencionais não diferiram significativamente nas suas emissões de gases de efeito estufa ou potencial de acidificação, embora estes fossem 4% menores e 13% maiores em sistemas orgânicos, respectivamente.”
Portanto, a distinção mais clara entre sistemas de produção é no uso de terra para cultivo, no potencial de eutrofização (ambos piores na agricultura biológica) e no que diz respeito ao uso de energia (melhor na agricultura biológica). No entanto, se contabilizarmos os impactos que a agricultura imprime nos diferentes pontos avaliados, concluímos que o uso de energia é o fator menos importante.
Em todos os tipos de alimentos não há um vencedor claro quando se trata de emissões de gases de efeito estufa. Os resultados variam dependendo do tipo de alimento, embora a maioria seja equivalente entre culturas orgânicas e convencionais (onde as diferenças no impacto entre os sistemas são relativamente pequenas). Com base nos valores médios podemos concluir que para reduzir as emissões de gases de efeito estufa devemos comprar leguminosas e frutas biológicas e cereais, vegetais e produtos animais de origem convencional.
Porque é que os sistemas orgânicos são tipicamente piores na eutrofização e eventualmente na acidificação dos solos?
O fornecimento de nutrientes nos sistemas convencionais e orgânicos é muito diferente. O suprimento de azoto/nitrogénio na agricultura convencional é fornecido com a aplicação de fertilizantes sintéticos, enquanto as quintas biológicas obtêm seu azoto através da aplicação de estrume e derivados de compostagem. O tempo de libertação de nutrientes nesses sistemas é diferente: os fertilizantes sintéticos libertam nutrientes em resposta às demandas das culturas, o que significa que o azoto é libertado quando necessário para as culturas, enquanto o azoto libertado pelo estrume e similares é mais dependente das condições ambientais como a humidade do solo e temperatura. Por essa razão, a libertação de nutrientes do estrume e similares nem sempre vai de encontro às exigências das culturas. O excesso de nutrientes que por vezes é libertado não é absorvido pelas plantações e “contaminam” os cursos de água. Como consequência, a poluição dos ecossistemas pela agricultura orgânica poderá ser maior que na agricultura convencional.
Impacto na biodiversidade
O estudo acima citado não tem em consideração dois fatores importantes: o impacto da biodiversidade e o que aconteceria se todo o sistema se tornasse orgânico.
Sobre o impacto na biodiversidade dos diferentes sistemas agrícolas, não existem grandes comparações. Sabemos que a agricultura intensiva tem impactos importantes sobre a biodiversidade local. Quanto mais intensiva a agricultura, maior o impacto na biodiversidade, seja o sistema orgânico ou convencional. Dado que a agricultura convencional tende a ser mais intensiva, é provável que o impacto deste tipo de agricultura seja maior na biodiversidade. Por outro lado, dado que a agricultura biológica requer mais terra para produzir a mesma quantidade de alimento, o efeito que tem na biodiversidade resultado da destruição de habitats naturais poderá ter um impacto maior que a agricultura intensiva. Isso cria uma divisão na opinião sobre a melhor forma de preservar a biodiversidade: cultivar intensivamente uma área menor (entendendo que a biodiversidade será severamente afetada nessa área) ou optar pela agricultura biológica, com consequências na biodiversidade (talvez menos severa por área plantada) ao longo de uma área muito maior.
Até novos estudos nesta área surgirem, não parece existir consenso.
A “Shadow Land Footprint” da agricultura biológica
Como vimos, a meta-análise anterior refere que a agricultura biológica necessita de mais 25-110% de terra para obter a mesma quantidade de alimento. Podemos questionar estes números, mas não há dúvidas que as diferenças existem. No entanto, os defensores da agricultura biológica referem que a diferença na ocupação de terra pode ser reduzida de forma importante. Recorrendo ao aumento na aplicação de nutrientes e à adoção de técnicas como rotação de culturas, cobertura de culturas, cultivo múltiplo e policultura poderiam reduzir para metade essa diferença (artigo e artigo). Além disso, em algumas circunstâncias como cultura de leguminosas, culturas perenes, nos sistemas dependentes de água da chuva e em solos ligeiramente ácidos a ligeiramente alcalinos, a diferença de uso da terra torna-se bastante menor comparando os dois sistemas (artigo e artigo).
No entanto, a agricultura biológica é habitualmente estudada num contexto em que representa apenas uma porção minoritária da agricultura praticada.
Mas o que aconteceria se toda a agricultura fosse orgânica/biológica?
Nesse caso, íamos ter um problema bastante grave devido à “shadow land footprint” da agricultura orgânica. É no fundo uma grande parte de utilização de terras necessárias para termos uma agricultura biológica viável, mas que nunca foi contabilizada nos estudos científicos que comparam os sistemas agrícolas biológicos com os convencionais. Ou seja, para além dos 25-110% de terra a mais necessária, a agricultura biológica precisará ainda de mais terra agrícola num sistema completamente biológico. O The Breakthrough Institute tentou estimar essas necessidades neste artigo, que passarei a traduzir e resumir.
O que é a Shadow Land Footprint?
Fornecer azoto/nitrogénio suficiente aos terrenos de plantação tem sido um dos principais desafios da agricultura ao longo da história. Este elemento é essencial na produção agrícola. Está presente em todas as células vivas e é responsável pelo crescimento das plantas, particularmente na plantação de cereais. Embora o azoto represente quase 80% da atmosfera da Terra, as plantas não conseguem utilizá-lo desta forma. As formas de azoto que elas exigem para o crescimento – principalmente amónia e nitrato – são escassos e esta escassez é frequentemente o fator que mais limita a produção agrícola (assim como a escassez de fósforo).
Os agricultores têm enfrentado este desafio recorrendo a duas abordagens básicas: fixar o azoto atmosférico e reciclar o azoto presente nas plantas. As leguminosas como a soja e o tremoço, por exemplo, podem fazer fixação de azoto, assim como os seres humanos recorrendo a processos industriais que desenvolvemos. O azoto também pode ser reciclado do estrume animal, alimentos estragados e resíduos de colheitas para devolver o azoto às plantações. No entanto, uma parte do azoto reciclado é inevitavelmente perdida e, portanto, há uma necessidade constante de fixar este elemento.
No passado os agricultores dependiam de técnicas como a derrubada, queimada e o pousio para fornecer nutrientes suficientes às terras para poder proceder ao cultivo. Os agricultores cortavam e queimavam árvores e outras biomassas, limpando a terra e libertando o azoto armazenado nas plantas para o solo. Depois cultivavam a terra até drenarem o solo de nutrientes. Quando isso acontecia, deixavam a terra em pousio, permitindo que árvores e outras plantas crescessem e fixassem os nutrientes necessários para poderem repetir o processo. Cada parcela de terra passava mais tempo em pousio do que em cultivo. Isso limitou a quantidade total de alimentos que uma aldeia ou sociedade poderia cultivar.
A baixa produtividade da terra dependente destes métodos forçou as pessoas a encontrar novos formas de adubação das terras. Há pelo menos oito mil anos, agricultores do Médio Oriente adicionaram azoto ao solo plantando leguminosas. Rotações de culturas de leguminosas permitiram que os agricultores aumentassem os rendimentos e pousassem menos as suas terras. Agricultores na China encontraram maneiras de reciclar grande parte dos resíduos animais e humanos, transportando “solo noturno” (um eufemismo para excrementos/fezes) das cidades para o campo, onde foram era compostados e aplicados às plantações. Da mesma forma, os agricultores da Europa desenvolveram rotações de culturas cada vez mais complexas que incluíam leguminosas.
Durante os séculos XVII e XVIII, os agricultores britânicos começaram a fazer rotação de culturas de cereais, como trigo e cevada, com culturas nas quais o gado podia pastar, incluindo nabos e trevos. As grandes quantidades de azoto adicionadas do trevo e do estrume levaram a um aumento dramático na produtividade, muitas vezes sendo-lhe atribuído o salto necessário para a revolução industrial da Inglaterra. Apesar desses métodos inovadores e laboriosos de fixar azoto através de leguminosas e de reciclar nutrientes do lixo, a necessidade de azoto continuou a aumentar.
Durante o século XIX, as populações dos Estados Unidos e da Europa cresceram a um ritmo sem precedentes – a população dos EUA aumentou dez vezes e a da Grã-Bretanha mais do que triplicou. Para aumentar a produtividade agrícola, essas potências imperiais começaram a importar guano rico em azoto (excrementos de morcegos) de locais como as Caraíbas, América do Sul e África.
No entanto, essas fontes eram finitas e o crescimento populacional parecia superar a disponibilidade de azoto. Na passagem do século XIX para o século XX houve avisos explícitos de que o mundo estava a ficar sem azoto. Sir William Crookes, presidente da Associação Britânica para o Avanço da Ciência, alertou para o risco de fome se novas fontes de azoto não fossem descobertas ou sintetizadas. Ele declarou que “todas as nações civilizadas estão em perigo mortal de não ter o suficiente para comer … Estamos dependentes do capital da Terra, e as nossas necessidades não serão perpetuadamente honradas“.
O fertilizante sintético mudou tudo
No início de 1900, cientistas alemães desenvolveram o processo Haber-Bosch para produzir fertilizantes em escala industrial. O processo converte azoto atmosférico em amónia, uma forma de azoto que as plantas podem utilizar com facilidade. Isso permitiu a produção de abundante fertilizante de amónia, libertando os agricultores da sua dependência de reservas limitadas de guano e outras fontes de azoto.
Também aumentou drasticamente a produção agrícola. Entre 1908 e 2008, o número de humanos apoiados por hectare de terra arável aumentou de 1,9 para 4,3 pessoas (126%) e 30-50% deste aumento de rendimento foi devido à aplicação de fertilizantes sintéticos. O processo de Haber-Bosch é tão relevante atualmente que consome entre 1 a 2% da energia produzida a nível mundial. Já agora, fica o TedxPorto do David Marçal onde ele também aborda esta temática:
O azoto sintético do processo Haber-Bosch possibilitou esse aumento histórico na produtividade, tornando o azoto mais facilmente disponível. Os agricultores não precisaram limitar sua produção agrícola à quantidade de estrume à disponibilidade de outros compostos ricos em nitrogénio. Além disso, o fertilizante sintético fornecia nitrogénio às lavouras numa formulação química que facilitava a absorção.
Aqui entra a “shadow land footprint” dos sistemas agrícolas biológicos
Como referido acima, agricultura orgânica rejeita os fertilizantes sintéticos, recorrendo apenas a opções “naturais”, como o estrume, derivados de compostagem e similares. Mas estas soluções não são tão boas a fornecer azoto às plantas. E é uma das principais razões da diferença de produtividade entre a agricultura orgânica e convencional.
O que muitas vezes é esquecido é que também são necessárias terras adicionais para produzir ou fixar azoto quando fertilizantes sintéticos não são usados. Esta é a parte da terra utilizada que habitualmente não é contabilizada nos estudos (a tal “shadow land footprint“).
Num sistema totalmente orgânico, rejeitando os fertilizantes sintéticos, haveria grandes dificuldades em obter azoto suficiente para o cultivo de terras, tal como aconteceu no passado. Terras agrícolas teriam que ser reservadas para regenerar os nutrientes do solo ou cultivadas com plantas fixadoras de azoto para posteriormente serem usadas como fertilizante para cultivo. Isto teria um impacto brutal na quantidade de uso de terra para agricultura, particularmente quando considerado globalmente. Tradicionalmente, os agricultores reservavam na ordem de 25-50% das suas terras para cultivar leguminosas fixadoras de azoto, que podiam ser pastadas pelo gado ou incorporadas diretamente no solo. O fertilizante sintético permitiu que os agricultores plantassem culturas continuamente todos os anos em vez de colocá-las de lado para as culturas de fixação de azoto. Isso reduziu o impacto ambiental da agricultura de forma significativa. Agora imaginem se isto fosse revertido.
Mas podemos recorrer ao estrume. Não necessita de mais terra, certo?
Ao contrário do plantio de leguminosas, a aplicação de azoto reciclado como estrume e derivados de compostagem não requer uso adicional da terra. São subprodutos de processos existentes e geralmente seriam produzidos independentemente dos agricultores os aplicarem como fertilizantes. No entanto, o que se verifica relativamente ao estrume é que os agricultores, seja de agricultura orgânica ou convencional, obtêm este produto de gado que come forragens ou pastagens que foram cultivadas com fertilizantes sintéticos. Um levantamento de quintas biológicas em França descobriu que o azoto sintético representava mais de 80% do nitrogénio no estrume que eles usavam. Se toda a agricultura fosse orgânica e o fertilizante sintético fosse eliminado por completo, esse azoto do estrume precisaria ser adicionado por sistemas como a plantação de leguminosas, aumentando ainda mais a pegada ambiental da agricultura biológica.
Então, o que aconteceria num sistema agrícola totalmente biológico? Qual o impacto na quantidade de terra necessária para produção agrícola?
Como o fertilizante sintético fornece quase 60% do azoto atual para a produção agrícola, eliminá-lo sem outras alterações exigiria muito mais terra agrícola para fixar azoto suficiente para manter a produção . O mundo precisaria mais do que o dobro do quantidade de terra cultivável, aumentando-a numa área maior que toda a Rússia para produzir tanta comida quanto hoje. Isso pressupõe que um corte de 60% no azoto levaria a uma diminuição similar nos rendimentos na produção agrícola e que cada nova área de terra agrícola utilizada forneceria a mesma quantidade de azoto que as terras agrícolas atuais. No entanto, mesmo que os rendimentos globais médios caíssem 30% se a quantidade de nitrogénio diminuísse 60%, seriam necessários milhões de hectares de terra para manter a produção atual, se todas as outras variáveis se mantivessem constantes.
Que medidas compensatórias poderiam ser adotadas para diminuir esse impacto?
Para compensar estas perdas, os agricultores poderiam tornar-se mais eficientes na produção de azoto, através da plantação de mais culturas de cobertura e utilização de leguminosas que fixam mais azoto. Nos Estados Unidos, apenas 2% das terras utilizam culturas de cobertura. Parece haver uma grande oportunidade para fixar mais azoto nos outros 98% das terras agrícolas. No entanto, tanto nos EUA como globalmente, muitos agricultores já plantam culturas para a colheita durante o inverno, quando as plantações de cobertura poderiam ser cultivadas. Um estudo estimou que metade da área plantada global já é plantada em culturas de inverno e 25% é inadequada por várias razões, como baixa disponibilidade de água. Portanto, não mais do que 25% da área de terra cultivável do mundo serviria para cultura de cobertura.
Mas mesmo este tipo de culturas de cobertura tem a sua pegada ambiental. Se os agricultores escolhessem (e pudessem) plantar nestes 25% de terra agrícola culturas para colheita em vez de culturas de cobertura fixadoras de azoto, poderiam ajudar a reduzir o uso geral da terra pela agricultura. É fácil de perceber que aumentando a produtividade de terra, diminuímos a necessidade de terra agrícola. Essa dinâmica foi observada globalmente, com aumento de rendimento reduzindo a taxa de expansão de terras cultiváveis em cerca de 1,5% ao ano.
Outra forma seria utilizar de forma mais eficiente o estrume animal, o desperdício de alimentos e os resíduos dos esgotos transformando-o em fertilizante vegetal. A maioria dos nutrientes no estrume não é usada atualmente pelas plantas. Em vez disso, são perdidos como emissões gasosas ou diluem-se nos corpos de água. Sem dúvida que devemos usar estrume e outras fontes de azoto da maneira mais eficiente. No entanto, o uso das melhores práticas de gestão e aplicação de dejetos só poderia reduzir as perdas de azoto em 10 a 20 milhões de toneladas globalmente. (artigo e artigo) Isso não estaria perto o suficiente para substituir o fertilizante sintético. No máximo, poderia substituir cerca de 21% do uso atual de fertilizantes. Da mesma forma, a aplicação de metade de todos os nutrientes provenientes do desperdício de alimentos nas terras agrícolas – mais de 10 vezes a quantidade aplicada atualmente – iria substituir não mais do que 16% do azoto sintético atual.
Mesmo com estas medidas compensatórias, a necessidade de terra agrícola iria ser devastador
Mesmo com os cenários mais otimistas para melhorar a fixação de azoto e a reciclagem de nutrientes, as terras agrícolas precisariam expandir dramaticamente para substituir totalmente o fertilizante sintético. Essas melhorias poderiam fornecer não mais do que 90% do azoto atualmente fornecido às culturas.
Se considerarmos a perda de rendimento agrícola dos sistemas orgânicos em comparação com a agricultura convencional e considerarmos esta pegada ambiental escondida, mesmo com medidas compensatórias, o impacto seria brutal. Só esta “shadow land footprint” poderia necessitar de terra extra do tamanho da Austrália. E isto nas estimativas mais otimistas. Nas estimativas médias esse valor seria três a quatro vezes superior. Dadas as muitas barreiras económicas, técnicas e biológicas, a quantidade de o azoto “natural” que o mundo poderia gerar de forma realista é provavelmente muito menor.
Os custos ambientais totais de tal expansão são difíceis de entender. Florestas e habitats seriam completamente destruídos. Quantidades imensas de carbono seria libertado das árvores e do solo. Podemos certamente discutir sobre o tamanho exato desta “shadow land footprint” e como calculá-la, mas a conclusão fundamental permanece: um sistema alimentar livre de fertilizantes significaria converter uma enorme quantidade de área em terra agrícola.
Concluindo
Não há nada particularmente errado com os métodos santificados como “biológicos” ou “orgânicos”. O alimento produzido é tão bom quanto qualquer outro alimento. No entanto, como verificamos, todos os argumentos de marketing utilizados pela agricultura orgânica são falsos. São um absurdo, uma contradição, uma deturpação, uma mentira. As pessoas compram produtos biológicos porque (1) acham que é melhor para o meio ambiente: não é; (2) Que é mais seguro: não é; (3) Tem um sabor melhor: não tem; (4) É mais nutritivo: não é. E esses são todos equívocos que foram deliberadamente promovidos por agricultores orgânicos e defensores desta filosofia, apesar das evidências científicas não apoiarem nenhuma dessas afirmações.
Relembro: agricultura biológica tem como base uma filosofia. E ignora a ciência quando desafia essa filosofia.
E a verdade é que é graças à ciência que conseguimos aumentar de forma impressionante a quantidade de alimento produzido por área, algo que permitiu a produção abundante de alimento com menores impactos ambientais, em comparação com esta visão “naturalista” completamente desligada da realidade que é a agricultura biológica.
Isto não isenta de responsabilidades o enorme impacto da agricultura, como um todo. Tem um grande impacto ambiental que não pode ser ignorado. Os agricultores devem trabalhar para utilizar todas as ferramentas ao seu dispor por forma a minimizar esse impacto. Mas prefiro depender de um sistema que tem como base a ciência do que um sistema que ignora a ciência por conveniência, por mais nefasto que seja essa recusa em aceitar os factos.
Fonte: Scimed