O subsecretário-geral da ONU Jorge Moreira da Silva afirmou que a revisão das metas climáticas não pode esperar até 2028 e deve ser feita já para manter o planeta na trajetória de 1,5 graus Celsius.
“Para mim é muito importante que desta COP saia uma mensagem clara, que é, não esperemos pela nova avaliação, que será em 2028, mas que se diga já aos países: é tempo de refazer as metas”, afirmou à Lusa Jorge Moreira da Silva, que se encontra na cidade amazónica brasileira de Belém para participar da 30.º Conferência das Nações Unidas do Clima (COP30) que arranca hoje.
“Os países vão ter que refazer as suas metas para nos colocar novamente na trajetória de 1,5°C”, insistiu.
Jorge Moreira da Silva frisou que as atuais contribuições “são insuficientes” já que os compromissos apresentados pelos países antes da COP30 colocam o aquecimento global entre 2,3°C a 2,5°C, “muito distante de 1,5°C”.
“Primeiro, uma grande parte dos países não apresentou sequer as metas no prazo previsto, que era 28 de setembro. Segundo, mesmo somando todas as declarações que os países fizeram, mesmo não tendo submetido formalmente os NDCs, [Contribuições Nacionalmente Determinadas] estamos neste momento numa trajetória de aumento da temperatura de 2,3°C a 2,5°C,”, detalhou o diretor executivo do Gabinete das Nações Unidas para os Serviços de Apoio a Projetos (UNOPS).
“Nós não podemos dar por garantido que vamos ter a inevitabilidade do aumento de 1,5°C na próxima década, nós temos que fazer ainda o que é possível agora, não em 2028, mas agora, para rever as metas”, frisou o ex-ministro do Ambiente de Portugal entre 2013 e 2015, que participou ativamente nas negociações do Acordo de Paris.
Este ano, os 195 signatários do Acordo de Paris estavam obrigados a apresentar novos objetivos de redução de emissões. Contudo, apenas 79 países cumpriram antes desta cimeira climática.
“A última década depois do Acordo de Paris de facto alterou a trajetória, mas ainda não ajustou a velocidade, isto é, nós estamos no caminho certo, mas com uma velocidade que não é compatível, não só com as necessidades, mas também com aquilo que foi prometido”, considerou o subsecretário-geral da ONU, frisando que as reuniões que vão acontecer durante os próximos dias na cidade amazónica devem dar primazia à “avaliação dos resultados”.
Até porque, ao ritmo atual, recordou o responsável, citando o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP), o planeta vai provavelmente ultrapassar os 1,5°C na próxima década.
Jorge Moreira da Silva reconheceu, contudo, que alguns países cumpriram com metas compatíveis com os 1,5°C, “mas há uma área onde praticamente ninguém cumpriu, que é no financiamento aos países em desenvolvimento”.
“Portanto, mesmo os países ricos, que na União Europeia fizeram muito esforço de redução das emissões e têm metas ambiciosas, ninguém pode dizer claramente: eu também apoiei com os níveis necessários os países em desenvolvimento”, criticou.
Representantes de cerca de 170 países participam a partir de hoje na COP30, sendo a primeira vez que a conferência climática se realiza na maior floresta tropical do planeta, um ecossistema vital para a regulação da temperatura global, mas também um dos mais ameaçados pela desflorestação e pela mineração ilegal.
O tema do financiamento continua pendente: os países em desenvolvimento insistem em negociar em Belém como alcançar os 1,3 biliões de dólares anuais até 2035, necessários para cumprir os seus objetivos climáticos.
As negociações prolongar-se-ão até ao dia 21, com possibilidade de se estenderem por mais alguns dias, em Belém, cuja preparação para esta COP30 foi marcada por graves problemas logísticos e pelos preços exorbitantes dos hotéis, que limitaram a estrutura das delegações presentes.









































