Projeto junta Portugal e Espanha na definição de um plano de ação comum para a conservação e regeneração do ecossistema de Montado, ligando proprietários, investigadores, associações e entidades governamentais em territórios de aprendizagem.
O projeto CI Montado-Dehesa acaba de divulgar o seu vídeo de apresentação, no qual mostra como esta iniciativa de cooperação transfronteiriça pioneira visa estabelecer uma estratégia integrada para melhorar a conservação e assegurar a regeneração deste ecossistema único.
Classificado como prioritário pela Diretiva Habitats da EU, o Montado (Dehesa em Castelhano), habitat 6310 integrado na Rede Natura 2000, enfrenta ameaças críticas. “O seu principal problema vem associado à sua sustentabilidade, principalmente pela falta ou dificuldade de regeneração, assim como por algumas doenças associadas”, explica Jose Luis del Pozo da Junta da Extremadura.
A baixa rentabilidade das explorações pecuárias e elevados impactos das alterações climáticas são acompanhadas de uma intensificação ou abandono das explorações. O projeto, lançado no âmbito do programa Interreg POCTEP (2021-2027), cofinanciado pelo FEDER, mobiliza entidades públicas, produtores, investigadores e associações de Portugal e Espanha, com o objetivo de reverter esta tendência.
Foram definidos quatro Territórios de Aprendizagem em Portugal (Parque Natural do Vale do Guadiana e ZEC Monfurado) e Espanha (Sierra de San Pedro e Parque Nacional de Monfragüe e Parque Natural Sierra Morena de Sevilla). Estes territórios têm como objetivo reunir atores chave, como produtores, administração publica e investigadores, para debater problemas e soluções.
Nestes espaços, estão a ser testadas diferentes intervenções, num total de 13 áreas-piloto (520 hectares), com o objetivo de melhorar a saúde dos montados. “Essa melhoria passa por uma avaliação inicial do que cada propriedade precisa, em articulação com o proprietário, para definir medidas”, com o objetivo de assegurar a manutenção dos montados, explica María Bastidas da Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM).
As intervenções são implementadas tendo em conta as especificidades de cada exploração, avaliadas através de indicadores visuais. “Daqui a um ano vamos voltar a avaliar esses mesmos indicadores e tentar compreender se houve uma melhoria do estado ecológico do montado, informa Maria Helena Guimarães do Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED) da Universidade de Évora.
“Para melhorar o pasto, o que pretendemos é aumentar esta produção, torná-la mais sustentável ao longo do tempo, para que permanência durante o maior número de anos possível”, potenciando a sua qualidade, esclarece Mónica Murillo do CICITEX. Esta melhoria é feita através de diversas medidas, por exemplo, o pastoreio rotacional, assim como medidas de mitigação da erosão dos solos, essenciais para a regeneração do ecossistema.
A conservação de elementos promotores da biodiversidade, que servem uma função de pequenos habitats dentro do montado – como, charcos temporários, afloramentos rochosos e manchas de arbustos – são também um foco dentro do projeto. Adicionalmente, está a ser realizada uma avaliação e gestão da qualidade da água, com medidas como a instalação de bebedouros e limitação do transito nestas zonas.
“Estamos também a fazer uma avaliação económica para compreender os custos que estas melhorias podem implicar”, clarifica Helena Guimarães. Este trabalho é acompanhado por uma análise das políticas aplicáveis ao Montado, identificando contrastes entre as regiões e modelos-tipo de gestão. “A baixa rentabilidade das explorações precisa de ser compensada através de ajudas, subvenções, como atualmente acontece”, afirma Ana Gómez da CorSevilla.
Central no projeto é também a construção de um Plano de Ação Conjunto Transfronteiriço, cuja primeira reunião ocorreu a 17 de junho em Mérida. “O resultado final será um plano que incluirá a transferência da medida agroambiental ‘Gestão do Montado por Resultados’ (intervenção D.2.2 do PEPAC, Portugal) para Espanha”, explica Rosa Blanco, da Andanatura, entidade coordenadora da iniciativa.
Esta medida de política pioneira em Portugal, está a ser implementada em 6500 hectares de montados e é uma das referências do projeto, pela inovação na abordagem às políticas setoriais, pelo que serviu da base para a definição dos indicadores de referência. Esta nova abordagem, cujos apoios podem chegar a 189€/hectare, permite “passar das políticas que apoiam praticas ou ações, para políticas que apoiam resultados”, afirma María Bastidas.
Para além das intervenções no terreno, o projeto inclui ações de capacitação: workshops, dias abertos e um ciclo de formação b-learning, com componentes teóricas e materiais audiovisuais. “Procuramos oferecer ao produtor novas e boas praticas que podem aplicar nas suas explorações, que facilitem e agilizem um pouco a tomada de decisões”, afirma María Soto Gallardo, da Fundación COOPRADO.
O vídeo de apresentação procura dar a conhecer este projeto, para que o trabalho apresentado consiga sensibilizar, assim como aumentar o conhecimento e as capacidades técnicas dos gestores e especialistas ligados ao Montado no espaço transfronteiriço.
Fonte: Projeto CI Montado-Dehesa