Os terrenos dos baldios de Pincães têm vindo a ser alvo de uma gestão ativa, com ações de poda, desmatamento e controlo da vegetação.
Em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, os baldios da aldeia de Pincães estendem-se por 1.947,8 hectares, com áreas de matos, pinhal, medronhal, carvalhal (maioritariamente carvalho-negral e carvalho-alvarinho), sobreiral e outras folhosas das galerias ripícolas. Encontram-se aqui muitas árvores centenárias. A quase totalidade da área (99,98%) encontra-se certificada para serviços de ecossistemas, com a conservação da biodiversidade e das espécies de folhosas nativas, bem como o sequestro e armazenamento de carbono. Uma escolha clara, em terrenos que estão integralmente localizados em áreas de Rede Natura 2000.
“Ter primeiro a certificação da gestão florestal em FSC® e PEFC, em novembro de 2018, e agora a certificação para serviços de ecossistemas do FSC, é algo que também nos obriga a cuidar e a preservar este território”, admite Rui Silva, técnico do Agrupamento de Baldios da Serra do Gerês, de que o baldio de Pincães faz parte. Para o técnico, nascido e criado na região, é cada vez mais evidente o orgulho que os locais têm na natureza que os envolve e a
preocupação com a conservação ambiental.
Um dos locais emblemáticos dos baldios é o medronhal, junto a uma curva da estrada, com árvores têm resistido ao fogo. A zona do Parque Nacional tem sido afetada por incêndios nos últimos anos, mas as áreas ocupadas pelas folhosas autóctones têm evidenciado uma boa resiliência. O aspeto verdejante das zonas intervencionadas dos baldios de Pincães, atingidas pelo fogo em 2018, são disso um exemplo.
No futuro, Rui Silva acredita que a certificação de serviços de ecossistemas poderá estender-se a outros serviços, como o suporte de taludes, a produção melífera ou uma eventual exploração comercial do medronho.
Uma forma de manter os terrenos limpos e reduzir o risco de incêndio passa por uma tradição antiga, a vezeira, um pastoreio comunitário, que também é realizado na vizinha aldeia de Fafião. Em Pincães, têm 170 cabras e ovelhas e 165 vacas e garranos. E se a vezeira do gado bovino e equino ocorre nos terrenos mais altos e menos vegetados, o gado de menor porte é pastoreado a cotas mais baixas. Uns e outros fazem parte de um modo de vida sustentável e em ligação direta com o meio natural seguido na região há séculos, e que é motivo de curiosidade para os forasteiros.
“Esta certificação permite-nos também potenciar o turismo e trabalhar para selecionar o tipo de turista que queremos atrair a Pincães e ao Parque Nacional”, explica Rui Silva. Os terrenos dos baldios têm vindo a ser alvo de uma gestão ativa, com ações de poda, desmatamento e controlo da vegetação, com resultados que, defende o técnico, são evidentes.
No futuro, Rui Silva acredita que a certificação de serviços de ecossistemas poderá estender-se a outros serviços, como o suporte de taludes (garantido pela arborização), a produção melífera (estão instalados nos baldios de Pincães oito apiários, cada um com cerca de 50 colmeias), ou uma eventual exploração comercial do medronho.
De momento, o principal rendimento vem da comercialização da madeira de pinho, mais presente nas cotas baixas, junto ao rio Cávado. Serviços de ecossistemas como a captura e armazenamento de carbono ainda não são remunerados, mas os 79 compartes de Pincães esperam que tal venha a acontecer no futuro.
Nota: Este artigo foi originalmente publicado na revista nº 11, de setembro de 2023, no âmbito de várias reportagens sobre casos de áreas florestais com certificação de serviços de ecossistema. Pode descarregar e ler a revista, na íntegra, aqui.
O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.