A população de rola-brava diminuiu 75% em Portugal, desde 2004. Face a estes números, é urgente agir para preservar esta espécie – e há uma solução evidente. Também preocupante é o declínio mais recente de aves que vivem em habitats agrícolas, incluindo espécies como o pintassilgo e o pardal. Os mais recentes dados do Censo de Aves Comuns de Portugal, recolhidos por dezenas de voluntários num esforço coordenado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), mostram que é necessário acompanhar de perto os efeitos da intensificação da agricultura no nosso país, e que a continuação da caça à rola-brava é insustentável.
“Uma espécie que diminuiu 75% em menos de 15 anos não tem hipótese de recuperar se estiver a ser caçada. Independente de outras medidas, temos de suspender a caça à rola-brava, antes que seja tarde demais”, diz Domingos Leitão, Diretor Executivo da SPEA.
O declínio alarmante da rola-brava provavelmente resulta da conjunção de vários fatores, como mudanças nos meios agro-florestais portugueses onde passa o verão, e problemas nas zonas de África onde passa o inverno, para além da caça. Mas, de entre estas ameaças, uma pode facilmente ser eliminada: basta suspender a caça à rola-brava em Portugal continental.
Os dados dos últimos anos indicam que também as aves de habitats agrícolas poderão estar a entrar em declínio em Portugal continental, embora ainda longe do cenário de alguns países europeus, onde as populações destas espécies têm caído a pique. O índice de abundância multiespecífico, um indicador usado a nível europeu que procura avaliar o panorama geral das várias espécies estudadas, indica que as populações de aves agrícolas têm diminuído no nosso país. Três espécies que já estavam em declínio moderado entre 2004 e 2011 mantiveram essa tendência nos últimos 7 anos: picanço-real, abelharuco e milheirinha. Mais recentemente, a estas juntaram-se outras espécies ainda mais conhecidas, como o pintassilgo, o pardal e o cartaxo, cujas populações começaram também a diminuir nos últimos anos.
“O declínio de espécies como o abelharuco, o picanço-real e o cartaxo é preocupante também para quem vive da atividade agrícola, uma vez que estas aves insetívoras ajudam a controlar pragas que podem dizimar as culturas”, salienta Domingos Leitão. “É preciso acompanhar de perto esta situação, e implementar políticas agrícolas que potenciem a biodiversidade, para bem de todos.”
Para o mês que vem, dezenas de voluntários irão de novo para o campo em todo o país, para ajudar a contar aves na edição 2019 deste Censo de Aves Comuns: uma contagem anual, por todo o país, de aves das espécies mais facilmente detetáveis, que serve de barómetro para o estado da nossa biodiversidade. Os registos dos voluntários são analisados pela SPEA e incorporados em estudos a nível europeu e mundial, servindo para informar decisões políticas sobre conservação de espécies, agricultura, sustentabilidade e gestão do território.
“Estamos imensamente gratos a todos os que participam neste censo, e aproveito para deixar o convite a quem quiser juntar-se a este projeto por um par de dias. Não é preciso ser um especialista: basta saber identificar as espécies da sua área, e ter vontade de aprender e ajudar a proteger a nossa biodiversidade” diz Domingos Leitão.