O valor de um milhão de ienes pode parecer exorbitante, mas mesmo que seja o equivalente a 8804 euros não é coisa pouca para vinte quilos de mandarinas japonesas. Os produtores receavam que a crise provocada pela covid-19 estragasse o primeiro leilão da época.
Pagar por cem mandarinas 8804 euros – ou um milhão de ienes – não é coisa pouca, mas foi o valor que atingiram as caixas especiais com 20 quilos dessa fruta apresentadas num leilão que decorreu na semana passada no Mercado Ota, em Tóquio.
O que têm estas mikan, o nome japonês desta espécie de mandarinas, para atingirem um preço tão elevado? Primeiro vêm de uma ilha do sul do Japão, Shikoku. Segundo, foi o primeiro leilão para os apreciadores. Terceiro, são produzidas numa área limitada junto à costa e com um sol especial…
É esta terceira razão que está na origem do preço fabuloso, pois o reflexo do sol no mar ilumina o local onde as mandarinas crescem e cria uma particularidade no sabor da fruta, um gosto marcadamente doce, além de ter poucos caroços e uma casca fácil de retirar.
São chamadas mandarinas dos três-sóis porque o astro reflete-se naturalmente, através do espelho do mar e nas pedras dos socalcos em que as colinas estão divididas, nada que os produtores de vinho do Porto não façam há séculos e os portugueses não conheçam bem quando observam os socalcos xistosos das terras do Douro.
E, tal como no Douro, a região onde se plantam a mandarinas mikan é demarcada, existindo apenas cem produtores desta fruta.
O valor tão elevado a que chegaram neste leilão deve-se ainda ao facto de este ano a colheita ser de muito boa qualidade e por ter sido o primeiro leilão da época. É esta primeira venda que vai orientar os preços da produção a partir de agora e ao atingir um milhão de ienes deu esperança aos produtores para que os seguintes lotes mantenham um bom preço. Se o valor fosse muito mais baixo, refletir-se-ia nos lucros de quem a cultiva.
Para quem está curioso sobre o preço normal das mandarinas mikan, pode dizer-se que a mesma quantidade que agora foi vendida por um pouco mais de oito mil euros costuma ter o preço de mercado de pouco mais de 130 euros.
O que surpreendeu os agricultores foi a alta oferta neste leilão, pois a crise no setor devido à pandemia de covid-19 deveria ter baixado os preços. Mas não, o recorde foi igualado ao passado, altura em que o primeiro leilão das mikan também atingiu um milhão de ienes.
O artigo foi publicado originalmente em DN.