A decisão de adiar a definição do quantitativo de vinho do Porto para esta vindima foi concertada entre produção e comércio e deve-se à ausência de resposta do Governo às medidas propostas, esclareceu hoje a Casa do Douro.
Anualmente, em meados do mês de julho, o conselho interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) aprova o comunicado de vindima que tem como ponto principal a fixação do quantitativo de benefício, ou seja, a quantidade de mosto que cada viticultor pode destinar à produção de vinho do Porto e que representa uma importante fonte de receita para os produtores.
Para este ano tinha sido pedida uma antecipação do comunicado de vindima com o objetivo de impulsionar a aplicação da colheita em verde (corte antecipado das uvas), e no dia 27 de junho decorreu uma reunião que terminou sem consenso quanto ao benefício.
O interprofissional, onde estão representados a produção e o comércio, volta a reunir-se no dia 18 de julho.
Hoje, em comunicado, a Casa do Douro esclareceu que se “perdeu a urgência inicialmente justificativa desta antecipação” uma vez que, para este ano, a colheita em verde não foi implementada pelo Governo e também acabou, depois, por “não se revelar uma medida necessária devido à perda de produção registada por forte ataque de doenças”.
É também, acrescentou, em julho que os comerciantes de vinho do Porto “procedem ao balanço das vendas do primeiro semestre e reveem os planos comerciais para o segundo semestre”.
A Casa do Douro lembrou que, em 2025, “persiste uma incerteza significava” e que está relacionada com os impostos alfandegários que serão aplicados pelos Estados Unidos aos vinhos importados.
“A decisão concertada entre produção e comércio para adiar o estabelecimento do quantitativo deve-se igualmente à persistente ausência de respostas às medidas concretas propostas pela Casa do Douro e conselho interprofissional ao Governo para fazer face aos desafios do setor vitivinícola duriense”, lê-se ainda no comunicado.
A associação representativa da produção salientou que, “lamentavelmente, a resposta do Ministério da Agricultura continua a tardar, deixando ao produtores numa situação de incerteza inaceitável”.
Na quarta-feira, o ministério liderado por José Manuel Fernandes garantiu que está a preparar soluções estruturais para “assegurar a sustentabilidade económica, social e ambiental” da Região Demarcada do Douro, que serão dirigidas “sobretudo aos pequenos produtores”.
Esta garantia foi deixada no dia em que viticultores se manifestaram, no Peso da Régua, distrito de Vila Real, para alertar para a crise instalada na região, para a dificuldade em escoar a uva e a sua venda a preços baixos e para reclamar, pelo menos, um benefício idêntico ao de 2024, de 90.000 pipas de vinho (550 litros cada).
No seio da Casa do Douro, reposta como associação pública e de inscrição obrigatória, foi criada uma comissão de vindima que enumerou um conjunto de medidas para a região e que passam pelo preço das uvas, rendimento por hectare, destilação de crise, a proibição da entrada de produtos vínicos a granel na região demarcada, colheita em verde e aguardente regional.
Em discussão encontram-se ainda medidas como a uva para destilação, proposta pela Casa do Douro, que pretende ser uma alternativa à colheita em verde, representa um apoio direto ao viticultor e que consiste no aproveitamento das uvas excedentárias diretamente para a destilação.
Outras medidas são o rateio de benefício escalonado, que visa a preservação de pequenas parcelas de vinha, e o estudo, pelo Governo, do apoio à preservação das vinhas velhas.
“A Casa do Douro apela ao Governo para que assuma as suas responsabilidades e apresente rapidamente soluções concretas e eficazes para os desafios que o setor enfrenta, permitindo assim um diálogo construtivo e a tomada de decisões consensuais em prol da sustentabilidade da viticultura duriense”, concluiu a associação duriense.