As temperaturas altas e a falta de precipitação têm deixado a vegetação que cresceu com as chuvas de inverno disponível para arder. O investigador Domingos Xavier Viegas diz que “os sinais não são bons” para a próxima época de incêndios e defende que as populações devem estar envolvidas nos planos de evacuação das localidades. Carlos da Câmara, climatologista, também antevê “sinais alarmantes” e pede tolerância zero com as ignições. Esta segunda-feira, 15 de maio, o dispositivo de combate a incêndios passa ao nível II
Não se espera chuva para as próximas semanas, as temperaturas vão continuar altas e o tempo vai estar quente e seco. Segundo os dados mais recentes, divulgados a meio de abril pelo Instituto da Conservação das Florestas, já arderam este ano em Portugal mais de sete mil hectares de terreno – mais de 48% de área ardida em relação à média anual do ano passado. Estamos com 40% do território nacional em situação de seca e a situação, já admitiu a ministra da Agricultura, “tende a piorar”. O panorama é desolador e deixa antever um verão em sobressalto, apesar de o ministro da Administração Interna já ter garantido um reforço dos meios de combate a incêndios, com mais veículos, aeronaves e cerca de 1.000 elementos a mais no efetivo operacional.
Temos vindo a melhorar o sistema e tem havido progressos”, concorda Domingos Xavier Viegas, investigador do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra, que coordenou o estudo independente sobre o incêndio de Pedrógão Grande, em 2017. “Mas nunca podemos estar suficientemente preparados para qualquer evento de maior dimensão. Infelizmente, sabemos que há de acontecer, mais tarde ou mais cedo, com a evolução das condições climáticas: todos os países estão à espera de que a situação se agrave e em qualquer altura poderá vir a acontecer um incêndio de graves proporções”, assinala o perito em incêndios florestais.
Sobre o ano de 2023, o ministro da Administração Interna já alertou que será “ainda mais difícil” do que 2022 no combate aos incêndios florestais, pedindo mesmo às populações que “se preparem”. No início do mês passado, admitiu que os indicadores que tinha não permitiam grande otimismo e Xavier Viegas corrobora: “Os sinais não são bons”, reflete. “Estamos num período de seca. Por outro lado, nos meses de inverno, mesmo desde outubro e até janeiro, houve uma precipitação muito forte, que permitiu o crescimento de muita vegetação. E se em muitas zonas do país está a ser cortada, noutras zonas isso não está a ser feito. Se estas condições de falta de precipitação persistirem, e infelizmente a previsão que temos é de que não se espera chuva para as próximas semanas, esta vegetação ficará seca e disponível para arder”, conclui.
O perito em incêndios rurais dá o exemplo do que tem acontecido nos últimos meses, repetição do que se verificou em 2022: entre fevereiro e abril, registaram-se já vários incêndios – que queimaram os já referidos sete mil hectares -, numa antecipação da época mais intensa dos fogos florestais. “O que verificamos é que, mesmo nos locais onde caiu recentemente alguma precipitação, a vegetação já arde muito bem passados poucos dias sem chuva. Isso é preocupante”, declara ainda.
Reforço de meios no terreno
Desde 2018 que as fases de combate a incêndios rurais foram substituídas por níveis de prontidão permanente ao longo do ano, previstas no Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR). O “permanente nível I” vigora entre 1 de janeiro e 14 de maio, o “reforçado nível II” entre 15 e 31 de maio, o “reforçado nível III” entre 1 e 30 de junho e o “reforçado nível IV”, o nível máximo, entre 1 de julho e 30 de setembro, vindo depois os níveis a diminuir novamente até ao “permanente nível I” entre 1 de novembro de 31 de dezembro.
Segundo a Diretiva Operacional Nacional aprovada pelo Governo para 2023, durante o período de maior empenhamento de meios – no nível IV -, o dispositivo terrestre contará com 13.891 elementos e 2.990 veículos. Esta segunda-feira, inicia-se o “reforçado nível II” e, segundo o ministro da Administração Interna, que falava na sexta-feira no final de uma reunião com o ministro espanhol do Interior, vão estar no terreno 10.400 operacionais de 2.303 equipas e 34 meios aéreos.
No domingo, a Força Aérea precisou, no entanto – numa resposta enviada à agência Lusa – que estão garantidos para operar a partir desta segunda-feira 23 meios aéreos, aos quais se vão juntar mais nove “assim que cumpridas todas as formalidades administrativas e assinatura dos respetivos contratos”, num total de 32 aeronaves. Em junho, quando todos os meios aéreos estiverem operacionais, serão 65 as aeronaves disponíveis para o combate aos incêndios, mais cinco do que em anos anteriores, precisou ainda fonte militar. O objetivo, porém, era ter operacionais 72 meios aéreos na época de força máxima – meta já anunciada por José Luís Carneiro, que admitiu dificuldades nos concursos públicos internacionais que foram lançados pela Força Aérea.
Devido aos dias quentes e ventosos da semana passada, foi necessário tomar medidas antecipadas: na quinta-feira, o Governo aprovou um dispositivo excecional de 56 equipas de combate a incêndios para estarem em maior prontidão. No sábado, este dispositivo excecional passou a 68 equipas e 340 elementos. Segundo a nota do Ministério da Administração Interna emitida a meio da semana passada, a decisão teve por base as “temperaturas elevadas que se verificam em vários pontos do território continental, associadas à situação de seca provocada por valores de precipitação muito abaixo da média”.
A seca é, naturalmente, uma preocupação nesta altura do ano, depois de um mês de abril com três ondas de calor. Até porque as dificuldades no abastecimento de água começam a chegar a várias regiões do país e a agricultura ressente-se, pedindo apoios. No que diz respeito ao combate a incêndios, a disponibilidade de água para os bombeiros também começa a ser um problema e Xavier Viegas defende a criação de mais pontos para tomada de água. “No ano passado verificou-se essa situação, não a de não haver água, mas a de a ir buscar mais longe porque não havia perto”, explica o especialista. “Estou a referir-me sobretudo aos meios aéreos, pela baixa cota das barragens ou cursos de água, que não conseguiam abastecer onde, em anos anteriores, conseguiam fazê-lo. Tínhamos um tempo de intervalo entre largadas de água maior do que o desejável, o que prejudicou o combate aos incêndios”, afirma.
Para colmatar estas faltas de água, o especialista pede “medidas de várias escalas”, seja pela criação de grandes embalses de água, pequenas represas, charcas ou reservatórios. “Não estamos apenas a evitar que a água que recebemos da chuva vá escoando para o mar, estamos a criar reservas e a aumentar a humidade no ambiente”, esclarece.
A criação de reservas de água faz parte de um conjunto de passos que, segundo Xavier Viegas, deveriam ser acautelados a longo prazo para um combate bem-sucedido aos incêndios florestais. Mas, deste conjunto de passos preparatórios, o especialista destaca um que considera determinante e que não está a ser trabalhado como devia: “Quando se fala de preparação, o ponto fraco que costumo apontar, e tenho de continuar a apontar, é a preparação da população”, diz o perito. “Quando falamos de grandes incêndios, sabemos que esses incêndios vão afetar, mais cedo ou mais tarde, zonas habitadas, aldeias, vilas, por vezes até cidades. Creio que ainda não se está a fazer o necessário para preparar as pessoas para esse tipo de situações”, defende. “Tivemos a lição de Pedrógão, perdemos 66 pessoas em junho e 52 em outubro, e essa lição devia ter sido aprendida. Mas o que está a ser feito pelas autoridades a vários níveis, desde o nacional ao local, é muito pouco face à dimensão do problema”, acrescenta ainda. “Devia trabalhar-se mais com a comunidade, sensibilizá-la, formá-la, equipá-la e treiná-la”.
Milhares de infrações por falta de limpeza preventiva
Segundo o Governo, não têm faltado ações de prevenção no terreno, nomeadamente da GNR, mas o objetivo tem sido, essencialmente, o de evitar fogos que deflagram por negligência: no final de abril, José Luís Carneiro revelou que 64% dos incêndios registados desde janeiro de 2023 tiveram como causa a “a negligência nas atitudes e nos comportamentos, nomeadamente no uso de fogo e no uso de máquinas”. Um padrão que se repete do ano anterior: a maioria dos fogos em Portugal são causados por pessoas com mais de 60 anos, a maioria do sexo masculino, que fazem deflagrar as chamas por inconsequência e não por terem intenção de dolo. Os incendiários, chegou mesmo a admitir o primeiro-ministro no verão passado, são “uma parte pequena” do problema.
Também a falta de limpeza dos terrenos privados tem sido um foco da fiscalização das autoridades, que identificaram como prioritárias para a sua atuação cerca de 1.000 freguesias, admitiu também o ministro da Administração Interna, referindo que foram detetadas mais de 14 mil situações de infração por falta de limpezas preventivas – o prazo para os proprietários as fazerem terminou no final do mês de abril e as coimas podem variar entre os 500 e os 5.000 euros.
Mas não é a esta sensibilização que Xavier Viegas se refere: o perito em fogos florestais pede planos estabelecidos com antecedência para evacuações de localidades e sugere até que se equipem aqueles que, admitindo que querem ficar a defender as suas propriedades, podem ser um auxílio para os bombeiros no combate aos fogos.
“Há uma altura em que as pessoas têm de tomar uma decisão, se vão embora, se devem ficar ou se podem ficar. O que sabemos é que muitas pessoas, pelas suas condições físicas ou psíquicas, deverão ser retiradas da zona do incêndio, mesmo que seja apenas uma ameaça, porque podem estar potencialmente em perigo. Mas esta retirada deve ser feita com muita antecedência, tem de ser preparada e planeada, não devem ser coisas improvisadas. As autoridades devem envolver as pessoas nessa preparação”, defende Xavier Viegas. “Por outro lado, sabemos que muitos cidadãos têm a opção de permanecer nas suas casas, nas suas aldeias, para defender o que é seu. Às vezes, é a opção mais sensata e permite-lhes proteger os seus bens, sendo uma ajuda para os bombeiros. Pode ser a opção mais segura do que fugir à última da hora”, explica o investigador da Universidade de Coimbra.
Xavier Viegas pede também planos antecipados para o caso de não ser possível retirar os habitantes das zonas ameaçadas pelos incêndios, fazendo-lhes saber para onde devem ir em caso de perigo, “se para casa de um vizinho, para um lugar previamente identificado na aldeia que seja mais seguro, e quase sempre existe. Se as pessoas optarem por ficar a combater o fogo, deviam estar devidamente equipadas, uniformizadas e identificadas”, tendo recursos e conhecimentos para fazer frente ao fogo, defende o perito.
Recorde-se que, além da atuação das autoridades no terreno, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) emite avisos por SMS às populações quando existe risco extremo de incêndio rural, pedindo que se evite recurso ao fogo em espaços rurais e florestais. Mas está já a ser planeado um novo sistema de avisos à população em caso de eventos adversos, nomeadamente em situações de mau tempo ou incêndios florestais. A nova tecnologia, de difusão por rede móvel, será mais rápida do que as atuais mensagens escritas, chegando os alertas aos telemóveis dos portugueses quase em tempo real. Segundo a portaria publicada em março em Diário da República, o Governo espera receber até ao próximo mês de junho um relatório da ANEPC, Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna e da ANACON (Autoridade Nacional de Comunicações) com propostas para a implementação do novo sistema de alertas.
Fogos rápidos em zonas planas
Sobre os recursos disponíveis em Portugal para combate aos incêndios, Xavier Viegas é da opinião que “os meios nunca são suficientes”, mas reconhece as limitações financeiras – José Luís Carneiro tem frisado que o Governo procurou várias vezes no mercado o reforço do dispositivo, mas já admitiu recorrer a ajustes diretos para adquirir meios aéreos devido à atual escassez e preços elevados. “Tem sido um mercado difícil”, sublinhou, num ano em que a expectativa, já referida, era a de passar para 72 meios aéreos.
Quanto aos veículos usados pelos operacionais, também têm chegado críticas: na antena da CNN Portugal, o comandante Jorge Mendes, membro do Observatório Nacional de Bombeiros, declarou que há viaturas com mais de 25 anos a fazer combate a incêndios e defendeu a necessidade de serem substituídas por outras mais modernas.
Xavier Viegas, por seu lado, mostra-se favorável a que sejam mantidos os meios em boas condições: “Se há veículos que são antigos e não estão em boas condições devem ser substituídos. Não devemos tolerar, por exemplo, acidentes de viação com vítimas, que acontecem”. E defende também melhor equipamento individual para os bombeiros, que vai perdendo qualidade com as lavagens e utilizações, ainda que note melhorias nessa matéria desde 2013.
Para o perito em fogos florestais, é fundamental passar agora, antes de se iniciar a época de incêndios florestais, uma mensagem de alerta a todos os portugueses, para que tenham cuidado e não produzam focos de incêndio.
Sabemos que mais de 90 por cento dos focos de incêndio em Portugal são causados pelo homem”, assinala Xavier Viegas. “Alguns são de intenção dolosa, mas também temos cada vez mais vigilância e monitorização para os descobrir e controlar. O meu maior apelo é para os cidadãos comuns que, por descuido, ao fazerem trabalhos que pensam que não vão ter consequências, causam incêndios com esses comportamentos”, sublinha.
E se, até aqui, era possível identificar as zonas mais favoráveis ao desenvolvimento rápido de fogos, devido à sua orografia, Xavier Viegas admite que o calor e a baixa humidade tornam esta questão menos linear. De um modo geral, as regiões do centro e interior norte de Portugal eram mais propícias a incêndios; atualmente, o deflagrar rápido do fogo está menos circunscrito a estas áreas que já são, na prática, grande parte do país. “A vegetação torna-se disponível para receber fogo e propagar fogo. E pode acontecer em zonas planas, como vimos nalgumas zonas do distrito de Leira, e noutras que, não sendo territórios completamente planos, são onde a topografia não é tão acidentada como a da Serra da Estrela, por exemplo. Tivemos incêndios com propagação porque a humidade da vegetação era muito baixa”, esclarece.
Sinais “alarmantes” da meteorologia e tolerância zero para ignições
Nos últimos dias, e apesar da subida das temperaturas no fim de semana, o calor não tem estado acima da média esperada para esta altura. “Em princípio, até dia 21 de maio as temperaturas vão manter-se, os valores de temperaturas máximas ficam abaixo dos 30 graus, excetuando o fim de semana e segunda-feira”, diz à CNN Portugal Patrícia Gomes, meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Olhando mais para a frente, e segundo a previsão alargada do IPMA – que é uma previsão estatística – os modelos a médio prazo indicam que, a partir de 22 de maio, se verifica uma “anomalia positiva” para precipitação. “É normal para esta época do ano”, explica a meteorologista. “Não significa que vá chover muito, pode não ser nada de significativo e ainda pode mudar”, assinala.
“O final de maio e início de junho são normalmente caracterizados por aguaceiros e trovoada, principalmente nas regiões do interior”, diz Patrícia Gomes. “Se isto se verificar, os valores de humidade relativa, que têm estado bastante baixos, deverão aumentar “, refere também a meteorologista. Na semana passada, por exemplo, no Alentejo e alguns locais do interior do Algarve, os valores de humidade relativa eram inferiores a 20%, ainda que a grande preocupação tenham sido as rajadas de vento forte, que levaram o Governo a reforçar os meios de combate a incêndios no terreno.
O climatologista Carlos da Câmara, investigador do Instituto Dom Luís e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tem estado, juntamente com a sua equipa, a desenvolver modelos de antecipação da severidade de uma época de incêndios. E se, do ponto de vista meteorológico, ainda falta cerca de um mês para obter resultados significativos, em termos gerais o especialista admite que já tem “alguns sinais que não são muito animadores”.
“De uma forma simples, qual é o racional para poder antever a severidade de uma época de incêndios?”, questiona o especialista. “Imagine-se que em março chove bastante, a vegetação rasteira vai crescer. Abril é muito seco, maio e junho também, e essa vegetação rasteira que cresceu bastante em março vai ficar stressada, seca e sem água. Quando chegamos a julho, início da época forte de incêndios, temos muita biomassa e muito stressada. Se vier uma onda de calor, que não sou capaz de antever a três meses, vai ter um impacto muito maior do que se o solo não estivesse seco”, explica o climatologista, em declarações à CNN Portugal. “Dou o exemplo da areia seca e da areia molhada: estão a receber a mesma energia do sol, mas a areia seca fica escaldante porque não tem água”, resume. “Agora, transponha-se isto para a vegetação”, acrescenta ainda, traçando um cenário facilmente aplicável ao que tem acontecido nos últimos meses, avançado também pelo investigador Domingos Xavier Viegas.
Num ano em que “sabemos que a média das máximas de abril foi a maior dos últimos 70 anos”, assinala Carlos da Câmara, “ainda que chova alguma coisa, duvido que vá servir de muito”, declara, admitindo que a conjugação de fatores pode trazer meses muito difíceis de combate a fogos. “Se vai ser um ano anómalo, vai depender das condições meteorológicas do próprio verão”, refere o especialista, alertando que, por esta altura, ainda não é possível tirar conclusões sólidas em relação à meteorologia por falta de fiabilidade dos modelos.
Para falar sobre prevenção, o climatologista faz outra analogia, com os três lados do triângulo do fogo – combustível, comburente e ignição. “Imagine que tem uma lareira. Do que precisa para ter um bom fogo? Boa lenha, seca e pronta a arder, uma chaminé com boa tiragem, logo, abundância de oxigénio e permanentemente renovado, e algo que ateie o lume, uma fonte de ignição”. Passando o triângulo do fogo para a floresta, basta que exista vegetação seca numa paisagem desordenada e sem limpeza, que as condições meteorológicas favoreçam a entrada de oxigénio durante o incêndio e ventos fortes, quentes e secos, com temperaturas elevadas, baixa humidade do ar e falta de precipitação. Quanto às ignições, “sabemos que 90 por cento das ignições são de origem humana, seja por descuido ou incendiarismo”, diz Carlos da Câmara. “E, se olharmos agora para estes três lados do triângulo, qual poderemos controlar? A meteorologia não é controlável, mas previsível. A vegetação é ordenável, mas não se faz de um dia para o outro. O que posso controlar são as ignições”, conclui.
Repetindo que “os sinais são alarmantes”, o climatologista diz que é importante passar aos portugueses a mensagem da “tolerância zero para ignições”, insistindo na mudança de hábitos. Com a sua equipa, prepara-se para apresentar, na International Wildland Fire Conference, conferência internacional sobre combate a incêndios que se realiza esta semana no Porto, um estudo sobre como o controlo agressivo de ignições em regiões delimitadas de forma precisa pode fazer a diferença no combate aos fogos.
Vale a pena começarmos a pensar seriamente num sistema de alertas com medidas drásticas: GNR, observações, vigilância, helicópteros, de maneira a dizer às pessoas: se fizer uma ignição neste sítio, está tramado, é tão grave como ir a 160 Km/h na autoestrada”, defende. “Esta forma cirúrgica e incisiva de atuar vai limitar grandes ignições”, garante.
Carlos da Câmara refere também que as alterações climáticas e a evolução socioeconómica do país, que alterou completamente a paisagem agrícola – “praticamente desapareceu”, frisa -, bem como a “paisagem contínua de vegetação florestada ou sobretudo de mato”, são fatores propícios a que os grandes incêndios comecem antes daquela que era considera a fase de maior risco para fogos florestais. “Em 2017, quando foram os incêndios que mataram pessoas? Em junho e outubro”, recorda.
Admite que houve evolução e congratula-se pelo facto de a época de incêndios, em termos de meios, já não estar marcada por despacho e depender também do estado geral da paisagem; mas diz que se compararmos um mapa dos incêndios entre 1980 e 2000 com outro de 2000 a 2020 a diferença “é abissal”. Defende que “estamos mais predispostos a grandes fogos” mas que a floresta tem um “valor inestimável” e é preciso ensiná-lo desde os bancos da escola. “É educação num sentido lado, as crianças têm de aprender que o clima está a mudar. E quem não aprender, terá de ser forçado”, resume.