O diretor do Departamento de Conservação da Natureza e Florestas do Norte disse que a cabra-montês não pode ser caçada por ser espécie protegida e que é proibido caçar em mais de dois terços do Parque Peneda-Gerês.
Em declarações à Lusa, Armando Loureiro explicou hoje que a cabra-montês “não é uma raça cinegética” por estar classificada no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, como “Criticamente em Perigo”.
O responsável falava a propósito de dúvidas levantadas pelo Fundo para a Proteção dos Animais Selvagens (FAPAS) quanto à preservação daquela espécie, na sequência de umas jornadas que previstas para decorrer em Arcos de Valdevez, promovidas por associações ligadas à caça, e foram, entretanto, suspensas.
Na semana passada, em comunicado, o FAPAS pediu à Câmara de Valdevez a anulação das jornadas, alegando serem “propaganda de caça”.
“Ao fim de 20 anos de repovoamento da espécie, já a querem caçar, provavelmente para a levar de novo à extinção”, frisou a organização ambientalista.
De acordo com informação disponível na página na internet do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal “classifica as espécies de vertebrados que utilizam o território nacional (peixes dulciaquícolas e migradores, anfíbios e répteis, aves e mamíferos) em função da sua probabilidade de extinção, num dado período de tempo”.
O livro, “classifica as espécies em função do seu maior ou menor risco de extinção, documenta a forma consistente o conhecimento de base para proceder a essa avaliação, identifica as ameaças e medidas de conservação necessárias para melhorar o estatuto das espécies ameaçadas e quase ameaçadas, proporciona às autoridades competentes, organizações não governamentais e ao público em geral uma ferramenta prática de conservação, e contribui para o Cadastro Nacional dos Valores Naturais Classificados e Inventário da Biodiversidade”.
Segundo o INCF, a cabra-montês “tem uma população extremamente reduzida (menos de 50 indivíduos maduros) e uma área de ocupação muito restrita”.
“Os animais observados em Portugal pertencem a uma população transfronteiriça, “o Parque Nacional da Peneda-Gerês e várias serras em Espanha”.
O PNPG foi criado em 1971 e é a única área protegida no país com a classificação de parque nacional.
Com uma área de mais de 69 mil hectares, conta com “uma diversidade biológica destacada, uma riqueza específica elevada e um número significativo de espécies endémicas”.
Constitui, juntamente com o Parque Natural da Baixa Limia/ Serra do Xurés, na Galiza, o Parque Transfronteiriço Gerês-Xurés e, em conjunto com esse Parque natural espanhol, integra, desde 2009, a Reserva Mundial da Biosfera.
Segundo Armando Loureiro, “em mais de dois terços do PNPG não é permitido caçar, sendo que aquela atividade apenas pode ser exercida nas zonas situadas na periferia do parque em espécies menores, como o coelho, perdiz, lebre, entre outras”.
Segundo o FAPAS, que integra o Conselho Estratégico do PNPG, as jornadas agora suspensas, eram “promovidas pelo Clube Português de Monteiros e o Safari Clube Internacional – Lusitânia Chapter”, com “o apoio do município de Arcos de Valdevez, do Ministério da Agricultura, Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), do Turismo do Norte e com a anunciada presença do ministro do Ambiente e do secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural”.
Armando Loureiro adiantou que o “ICNF foi convidado para participar nos trabalhos onde iria abordar os aspetos legais e formais da conservação da natureza”.
Em resposta escrita ao pedido de esclarecimento hoje enviado pela Lusa, o presidente do Clube Português de Monteiros anunciou a suspensão das I Jornadas Internacionais sobre Sustentabilidade Económica dos Espaços Ordenados e Protegidos, previstas para os dias 13 e 14 de abril, em Arcos de Valdevez.
Artur Torres Pereira invocou “razões técnicas” para a suspensão do evento.
Fonte: Sapo.pt