Localizada em Goiás e no Distrito Federal, a área chegou à marca de 6 ton/ha na safra de verão 2021/22. Segundo William Matté, engenheiro agrônomo e um dos proprietários da fazenda, foram diversas as ações de manejo promovidas, todas amparadas por consultores e técnicos, até que a colheita de sucesso fosse conseguida, entre elas: adoção de protocolos de irrigação, utilização de tecnologias avançadas como pulverização por aeronaves e uso de Veículos Aéreos Não Tripulados (Vant) no acompanhamento da lavoura para ajuste na aplicação de nitrogênio.
A Fazenda Alvorada produz 15 culturas diferentes, em sistema de rotatividade. De acordo com William, em função das condições favoráveis, como clima e altitude, as hortaliças estão fortemente presentes entre o que se produz, seguindo a tendência da Região, hoje um polo desses cultivos. “Em dado momento, percebemos que a correção de solo promovida pelo plantio das hortaliças, promoveu ganho substancial de produtividade nos grãos que vinham em sucessão e que deveríamos estender essa prática para todos os pivôs”, diz ele, apontando essa reconstrução do solo como mais um dos fatos potencializadores da produção recorde, junto com os ajustes na adubação nitrogenada, da população de plantas e o controle de crescimento.
Projeto 6 toneladas
Em 2002, nascendo dentro de um Projeto de TT da Embrapa Arroz e Feijão, que visava a facilitar o fluxo de informações entre o campo e a pesquisa, surgiram o Grupo Técnico de Consultores (GTEC-Feijão) e, posteriormente, a Associação Brasileira de Consultores de Feijão (ABC-Feijão), formados por membros da Embrapa, técnicos e produtores que trabalhavam com a cultura. A ideia era fazer com que as demandas chegassem até os pesquisadores de forma mais rápida e clara, permitindo que eles encontrassem ali pontos coincidentes com o que já haviam desenvolvido, ou percebessem as necessidades nas quais as novas pesquisas deveriam trabalhar. Da mesma forma, as respostas eram devolvidas aos consultores, para que fizessem o caminho de volta até o agricultor.
Desde a criação dessas duas instituições, o Grupo e a Embrapa já realizaram mais de 2.000 tratamentos em testes e experimentos previamente debatidos e demandados, resultando em valiosos dados que proporcionaram segurança para as recomendações ao produtor e se transformaram em ganhos expressivos, ano após ano. No começo desses trabalhos, a produtividade média das lavouras de feijão chegava a 40 ou 45 sacas/ha. Com os estudos, esses números foram aumentando e, em dado momento, o Grupo decidiu por propor a si mesmo uma meta ousada, já ventilada mesmo quando da sua criação, em 2002: alcançar a marca de 100 sacas por hectare (ou seis toneladas, como ficou registrado esse desafio). Duas décadas depois do início, com foco nas ações e esforços dedicados em comum, o propósito foi realizado. “Seria questão de tempo”, afirma Hélio Dal Belo, diretor presidente da Instituição.
No dia 8 de dezembro, a Embrapa Arroz e Feijão recebeu em sua sede, na Fazenda Capivara, em Santo Antônio de Goiás, a reunião anual da GTEC/ABC Feijão, que teve a apresentação do balanço das atividades realizadas e seus resultados, e discussão em busca de novos horizontes a seguir em 2023. O evento contou com a presença de William Matté, que fez um relato dos caminhos seguidos até o recorde de 6 ton. “O que nos faz adotar algo ou não é o retorno financeiro, por isso temos tentado muita coisa, muita experiência a campo e visitado muitas pesquisas. Estamos estudando o uso do arroz na rotação, que assume o lugar das plantas de coberturas e promove aumento nos lucros com sua produção. Estamos medindo os resultados para adoção real futura”, revela o engenheiro, compartilhando suas experiências com os demais produtores e pesquisadores presentes ao receber homenagem pelo feito histórico.
Para o engenheiro agrônomo Pedro Sarmento, analista de Transferência de Tecnologia (TT) da Embrapa Arroz e Feijão, esse objetivo atingido abre expectativas para produtividades ainda maiores. Segundo ele, a cultivar utilizada nesse momento, BRS-Estilo, lançada em 2009 e mantendo-se até hoje como uma das principais do portfólio de grãos (feijão-comum) da Embrapa, apresenta inúmeras virtudes agronômicas, mesmo não sendo indicada para cultivo sob pivô, condição na qual foi adotada nessa meta e, ainda assim, foram colhidas as 6 Ton. O agrônomo, lembra que podem surgir números melhores, com novas variedades apresentadas pela Empresa ao mercado com essa característica, casos das BRS FC-402 e BRS FC-415.
Artigo publicado originalmente em Embrapa.