A classificação da paisagem da cultura da vinha do Pico como Património Mundial deu um empurrão, a ousadia de três homens fez o resto
Pretende partilhar este texto? Utilize as ferramentas de partilha que encontra na página de artigo. Todos os conteúdos da VISÃO são protegidos por Direitos de Autor ao abrigo da legislação portuguesa. Apoie o jornalismo de qualidade, não partilhe violando Direitos de Autor.
https://visao.sapo.pt/atualidade/sociedade/2023-03-29-azores-wine-company-os-vinhos-que-nascem-no-mar/
Os homens que fundaram a Azores Wine Company sempre souberam bem aquilo que queriam, mas na verdade foi só seguir o que diziam os antigos: os melhores vinhos são produzidos pelas vinhas plantadas junto ao mar, onde se ouve o cantar do caranguejo. O enólogo António Maçanita, o economista Filipe Rocha e o viticultor Paulo Machado, os três sócios da empresa criada no início de 2014 começaram por plantar 30 hectares em São Mateus, no Sul da ilha do Pico. Hoje, no total, já recuperaram 125 hectares e a Azores Wine Company – que em 2021 viu o seu Vinha Centenária 2017 obter 95 pontos Parker na Wine Advocate, a mais alta pontuação de sempre para um vinho branco nacional – também já não é apenas um projeto de vinhos.
“Isto não se replica”, diz-nos Filipe Rocha. O “isto” a que Filipe se refere é a ilha do Pico – e, no fundo, a ideia de que é possível retirar o melhor dos melhores daquela terra vulcânica de características únicas, daqueles currais de pedra a 50 metros do mar. Para o economista açoriano, que durante muitos anos dirigiu a escola de hotelaria de São Miguel, a classificação da paisagem da cultura da vinha do Pico como Património Mundial, nos idos de 2004, constituiu “um ponto de viragem”. “Houve uma tomada de consciência de que o Pico era algo de excecional e que estes 500 anos de História tinham significado”, explica à VISÃO.
A distinção da UNESCO também deu balanço para a tentativa, levada a cabo pelos serviços de desenvolvimento agrário, do governo regional, de recuperar uma casta quase extinta, a Terrantez do Pico, a que mais tarde António Maçanita, com raízes familiares nos Açores, deitou mão (juntamente com outras duas castas autóctones da região, a Verdelho e a Arinto dos Açores).
Para se ter uma noção da diferença, depois da classificação de Património Mundial, duplicou-se a área de vinha plantada na ilha em apenas dez anos (em 2004 havia 120 hectares; em 2014, passou-se para os 250). Mais do que isso, reforça Filipe, provou-se que o Pico era “um sítio excecional para fazer vinhos”, “as uvas deixaram de ser vendidas a 0,80 cêntimos” e passou a haver “uma lógica de negócio” associada ao setor: “A ilha voltou à vinha e ao vinho.” […]