A guerra na Ucrânia agravou uma situação já complexa e fez disparar os preços de forma generalizada. Comprar comida é mais caro do que há um ano ou há uns meses e, segundo as empresas de distribuição, a tendência vai manter-se nos próximos meses. Nos mercados, já se nota uma redução da afluência.
O ponteiro marcava as 11h00 de terça-feira quando o NOVO visitou o Mercado da Boa-Hora, na Ajuda, em Lisboa. À excepção dos vendedores, por lá circulavam seis pessoas. “O mercado está vazio, não era costume… enchia sempre”, começa por contar a Anita dos Caracóis, que vende fruta no local. “Não sou vendedora do 25 de Abril. Sou a terceira geração de vendedores de rua, a minha mãe criou oito filhos a vender na rua. Não éramos ricos, mas ver o mercado como vejo hoje… nunca vi”, garante. O sucessivo aumento dos preços obrigou-a a subir os valores dos produtos. “Por exemplo, o feijão-verde e o tomate sofreram um aumento de mais de 50% desde o início da guerra na Ucrânia, em 24 de Fevereiro. As frutas e os ovos também aumentaram muito. A parte dos legumes, não tanto, porque tento comprar a produtores nacionais”, detalha, acrescentando que as pessoas reduziram a ida ao mercado.
Do mesmo se queixa a responsável pela Charcutaria Celeste. “Todos os produtos ficaram mais caros. Em termos de queijos, aumentaram no início do ano – tal como já era usual – e aumentaram de novo depois da guerra. Em média, foi um aumento de 30%”, diz. Na bancada ao lado, onde se situa a Padaria Central, as queixas não diferem. “Só para ter uma ideia, o pão aumentou duas vezes desde que começou a guerra. Esteve anos consecutivos sem aumentar”, começa por contar o responsável. “O aumento foi de 15% mais ou menos, mas é possível que não fique por aqui”, alerta.
Os comerciantes destacam que a zona da Ajuda é sobretudo habitada por uma população mais velha. “Tentamos chamar a freguesia e não subir muito os preços, mas temos uma margem muito pequena. As pessoas queixam-se porque isto é um bairro de pessoas mais velhas, com reformas que rondam os 300 euros. Não conseguem sobreviver”, diz a Anita dos Caracóis. “As pessoas não têm dinheiro, estão com a corda ao pescoço”, sublinha o gestor da Padaria Central.
O cenário é semelhante no Mercado de Campo de Ourique, em Lisboa. “Estou cá há 19 anos e nunca vi o mercado assim”, começou por dizer ao NOVO Ana Ventura, que vende peixe naquele mercado. “E estou aqui há 67 anos e não me lembro de tal coisa”, acrescenta Zezinha – como é conhecida -, que começou a vender carne no local aos nove anos. Ana Ventura afirma que o preço do peixe aumentou cerca de 10% desde que a guerra começou. “Os distribuidores dizem-nos que isto deverá continuar. Tem subido de semana para semana”, afirma, salientando que “há muito menos clientes do que havia na pandemia.”
O aumento do preço dos bens alimentares é evidente e já se faz sentir nas prateleiras dos supermercados e do comércio local. Em apenas uma semana, um cabaz de produtos alimentares aumentou quase sete euros. As contas foram feitas pela Deco Proteste que, desde Fevereiro, tem acompanhado todas as quartas-feiras, com base nos preços recolhidos no dia anterior, a evolução dos preços de um cabaz de 63 produtos alimentares essenciais, que inclui bens como peru, frango, pescada, carapau, cebola, batata, cenoura, banana, maçã, laranja, arroz, esparguete, açúcar, fiambre, leite, queijo e manteiga. Se, a 6 de Abril, o cabaz custava 194,92 euros, uma semana depois, a 13 de Abril, o preço já ultrapassava os 201 euros. Já esta quarta-feira, 20 de Abril, o mesmo capaz custaria ao consumidor 200,79 euros. “Se analisarmos a evolução do custo do cabaz entre 23 de Fevereiro, um dia antes […]
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