Caçadores alertam para a importância de intensificar o abate de javalis, para prevenir a entrada em Portugal da peste suína africana, contestando a decisão do Governo em acabar com a caça em grandes propriedades muradas
Depois da matança de centenas de animais na Herdade da Torre Bela, na Azambuja, o Governo quer rever a lei da caça, tendo o ministro do Ambiente admitido que uma das alterações venha a passar pela proibição dos chamados cercões, uma modalidade de caça grossa em terrenos murados. Mas os caçadores contestam e avisam que essa opção iria potenciar o crescimento de javalis, multiplicando o risco da peste suína africana chegar ao território.
A Federação Portuguesa de Caça alerta que o presunto de porco preto ou os secretos grelhados na brasa ficam ameaçados pela proliferação dos javalis, perante o “fim ou limitação” das montarias que o Governo tenciona aplicar nas grandes propriedades rurais.
“Temos uma situação em que a população de javalis aumentou mais do que nos anos anteriores, porque nos últimos meses houve a interrupção das montarias devido à pandemia”, sublinha Jacinto Amaro, revelando que este impedimento inviabilizou até mil sessões de caça por fim de semana.
“Se abatendo uns milhares de javalis, em anos anteriores, nós temos a população descontrolada, este ano, não abatendo esses animais, eu imagino o que vai ser esta primavera com acidentes rodoviários e prejuízos na agricultura”, insiste o dirigente.
Sem o controlo de densidade, os javalis já estão a evidenciar comportamentos mais agressivos na procura de comida, chegando mesmo a atacar rebanhos, como foi exemplo o que sucedeu esta semana em Mora. “Um produtor mostrou fotografias de javalis que mataram e comeram seis borregos. Mas também já há relatos de terem comido bezerros na zona do Algarve. Quando lhes falta comida no campo, vão à procura de alimento onde calhar”, insiste Jacinto Amaro.
A Associação Nacional de Criadores do Porco Alentejano subscreve as preocupações, numa altura em que existem apenas 5 mil porcas desta raça. Francisco Alves recorda que a produção é lenta e totalmente feita em extensivo, o que facilita frequentes contactos com os porcos selvagens.
“Desde que nasce até ao abate, o porco preto anda no campo entre 18 a 20 meses e todos os dias pode haver contacto com javalis e com o risco da peste suína africana. Só o controlo da espécie pode minimizar o risco”, sublinha.
Numa altura em que os javalis mais se aproximam das populações, o dirigente dá o exemplo dos métodos aplicados noutros países, onde são os próprios militares que estão junto às fronteiras para evitar que os animais circulem entre os países.
“Cá, com a expansão de regadio, os javalis já estão por todo o lado e a única possibilidade de tentarmos que não causem estragos é procedendo ao seu abate”, resume.
A peste suína africana tem 480 casos notificados na Alemanha e já chegou à Bélgica. Não é transmissível aos seres humanos embora seja mortal para os animais.
O artigo foi publicado originalmente em TSF.
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