Residentes da Benfeita, em Arganil, decidiram avançar com a criação de uma associação para trabalhar a regeneração ambiental mas também comunitária numa região muito afetada pelos grandes incêndios de 2017.
A Associação da Região de Benfeita para Objetivos Regenerativos (ARBOR) foi constituída em julho por residentes da freguesia que fica no coração da Serra do Açor, tendo começado a dar os seus primeiros passos com uma reflorestação nos baldios de Pai das Donas no início de dezembro e que se estende até janeiro.
Para além do trabalho em torno da conservação da natureza, a associação pretende ainda avançar com um banco de sementes local e um banco de conhecimento local, disse à agência Lusa a presidente da associação, Bárbara Sá.
Apesar de os incêndios de 2017 não terem sido a razão para a constituição da associação, vieram “catalisar a necessidade de organização dos recursos, conhecimentos e vontades”, salienta.
A associação é constituída por jovens famílias portuguesas e estrangeiras que foram morar para a zona da Benfeita, que tinham já uma ideia de viver “de forma mais sustentável, em harmonia com a natureza”, explica.
Para Bárbara Sá, o fogo apenas acentuou a necessidade de se tentar mudar aquilo que acreditam que “está errado a nível local”.
A primeira ação concreta passa por um projeto de reflorestação com espécies autóctones, em conjunto com os baldios de Pai das Donas, a Comissão de Melhoramentos de Pai das Donas e o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
Ao todo, serão plantadas 5.600 árvores, estando a última ação marcada para 02 e 03 de janeiro.
“A ideia é de, ao longo de muitas décadas, termos ali uma potencial floresta a crescer, de onde depois se poderá ter mel, castanhas, licor de medronho – tudo formas de ter retorno sem afetar a floresta em si”, frisa Bárbara Sá.
Porém, o trabalho não passa apenas por ações de reflorestação e de tentativa de mudança de uma paisagem em parte marcada pelas monoculturas do pinhal e do eucalipto, mas também por aprofundar as relações com a comunidade onde estão inseridos, sublinha.
Por isso mesmo, a associação vai criar um banco de sementes local, contactando as populações da freguesia para perceber o que plantam naqueles terrenos e que espécies estão adaptadas ao clima de montanha.
Para além disso, a ARBOR pretende também avançar com um banco de conhecimento local, para registar e preservar conhecimentos das populações em torno de áreas como a natureza, a agricultura, a pastorícia ou a construção tradicional.
“Não podemos forcar-nos só no ambiente, como se fosse uma coisa separada dos hábitos e costumes da região. Temos que aprender com a comunidade local”, conta.
Nesse trabalho de proximidade, a associação também pretende fazer um trabalho de consciencialização em torno da natureza.
“Sentimos que existe muito a ideia da exploração e produtividade, que são tudo o que se pode retirar da natureza. Queremos disseminar uma outra cultura”, nota Bárbara Sá.
Para a presidente da associação, mudanças no tipo de floresta na região poderão trazer benefícios “no turismo, na saúde, mas também qualidade da terra, dos solos e da água”.
“A ideia de que fazer dinheiro rápido é a única maneira, está errada. Essa ideia tem delapidado os nossos vales, com monoculturas que só beneficiam alguns”, assevera, acreditando que uma mudança de paradigma também tornará a região mais resiliente aos fogos.
A associação está aberta a parcerias, podendo ser contactada através do site arborbenfeita.org.