No início do ano, a Associação de Beneficiários do Mira (ABM) fez chegar aos utilizadores precários da água do perímetro de rega uma carta em que informava cerca de uma centena de pequenos proprietários que só teriam acesso a este recurso fundamental em 2022 se se comprometessem a arranjar uma solução alternativa para 2023.
“Com a formalização da inscrição na campanha de 2022, considera-se que V. Exª assume o compromisso de, até ao final do ano de 2022, promover uma solução alternativa à captação instalada, assumindo o compromisso de remoção da captação existente até essa data”, lê-se no documento a que o “Diário do Alentejo” teve acesso.
Acresce que a aceitação deste pressuposto era obrigatória para quem quisesse ter acesso à água este ano e informava que os custos com a remoção da captação seriam “suportados pelo utilizador”.
Fátima Teixeira do Juntos Pelo Sudoeste (JPS) considerou a posição da ABM “inqualificável” e classificou-a como “chantagem pura”. A dirigente ambientalista local criticou também a exigência da assinatura de um contrato sem a prévia informação do preço a pagar e a cláusula em que os utilizadores permitiam que a associação gestora da água suspendesse ou revogasse do acordo de forma unilateral “sem necessidade de justificação e/ou fundamentação”.
Piedade Guerreiro, 51 anos, vive há 36 no Monte Corte de Enchária, entre São Teotónio e Sabóia, com a restante família. Com a água que obtém no canal – a cerca de mil metros da propriedade – rega 10 hectares de milho e prado para alimentar cerca de 40 vacas e meia dúzia de bezerros.
“Eles foram tirando água e as culturas de verão terminaram. No ano passado, como disseram que não havia água para regar a horta para consumo próprio, ficou pendente”, acusa a agricultora que diz ter ido este ano “fazer a inscrição”, mas não a terem deixado.
“Se me tirarem a mangueira é como se me metessem uma corda ao pescoço. Se temos seca não deixem fazer mais estufas”, reclama Piedade Guerreiro que diz que sem água “é melhor vender as vacas e ir viver para outro sítio”.
Há […]