Angola desembolsou, nos últimos quatro anos, cerca de 1,5 mil milhões de dólares (1,3 mil milhões de euros) para importar arroz, com um consumo médio anual de 500 mil toneladas, revelou hoje um responsável do setor.
Segundo o diretor nacional de Florestas, a produção interna do arroz, cereal que considerou “tão importante” para a dieta dos angolanos, está abaixo das 30 mil toneladas.
Domingos Veloso ao proceder à abertura da VI Conferência sobre Agricultura, promovida pela revista Economia & Mercado, subordinada ao tema “As Metas e os Desafios da Produção de Cereais em Angola”, frisou que a resposta para os baixos níveis de produção deste e de outros produtos agrícolas está no aumento da produção interna, remoção dos constrangimentos ainda existentes e reforço das políticas setoriais.
O responsável afirmou que a necessidade de se alavancar a produção interna de cereais, com destaque para o arroz e o trigo, levou o Ministério da Agricultura e Florestas a eleger o atual ano agrícola 2023/2024 “como ponto de viragem na abordagem que se tem sobre a produção destas duas importantes culturas”.
No que se refere a este cereal, a diretora do Instituto Nacional dos Cereais (Incer) adiantou que os dados de 2021 apontaram que o setor empresarial produziu cerca de 10.000 toneladas, havendo um ligeiro aumento em 2022.
“Nós temos de trabalhar muito o arroz, a tecnologia do arroz e as extensões do arroz e incluir a agricultura familiar neste processo”, referiu Maria Garção, admitindo que o país vai continuar a importar por mais tempo e as metas são para cobrir os défices.
A Associação Agro-Pecuária de Angola (APPA) tem registados entre cinco a sete produtores empresariais de arroz.
O diretor nacional de Florestas disse que o Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2023-2027 prevê que a agricultura, pecuária e florestas vão aumentar a sua contribuição no Produto Interno Bruto (PIB), nos próximos quatro anos, passando dos atuais 5,6% para 12,1%, sendo que a produção de cereais nesse período deverá atingir cerca de 5,5 milhões de toneladas, quantidade que foi revista em baixa, “por serem quantidades superiores as que o setor se comprometeu a atingir”.
De acordo com Domingos Veloso, o ano agrícola 2022-2023 foi satisfatório e cresceu 6,6%, destacando que foram produzidas 3,3 milhões de toneladas de cereais, representando um crescimento de 5,3% a mais que o ano anterior, mas as necessidades foram de 10 milhões de toneladas.
Relativamente às raízes e tubérculos, leguminosas e oleaginosas, hortícolas e frutas também foi registado um crescimento médio acumulado de 7,1% comparativamente ao ano agrícola anterior, sendo que a as culturas da mandioca e da batata-doce continuam a liderar e fazem vincar a autossuficiência do país sobre estes produtos.
Domingos Veloso salientou que no domínio das sementes foram produzidas internamente quase 2.000 toneladas de sementes, das quais 1.155 de milho, 200 de feijão, 110 de soja e 500 de trigo “o que ainda apresenta um grau de disponibilidade bastante reduzido” para as necessidades do país.
O Governo angolano criou, em 2022, o Programa Nacional de Grãos (PlanaGrão), que visa reduzir a dependência da importação e fomentar a produção do milho, arroz, trigo e soja, no período entre 2022 e 2027, a ser implementado nas províncias do leste, com um investimento médio anual de cerca de 670 milhões de dólares (623,3 milhões de euros) para a produção e outros cerca de 471 milhões dólares (438,1 milhões de euros) anual para a construção e reabilitação de infraestruturas de apoio ao setor produtivo e social.
Abordando sobre os resultados do primeiro ano do PlanaGrão, o presidente da AAPA, Wanderley Ribeiro, disse que os indicadores demonstram que “são maus”, porque “a meta foi mal definida”, isto é, porque “não trouxe consigo o elemento de execução de como seriam atingidos esses objetivos”.