As alterações climáticas e gestão da água no Alqueva são tema de um projeto artístico que vai ter exposições na Bienal de Fotografia do Porto e na Aldeia da Luz, concelho de Mourão, no distrito de Évora.
A iniciativa, da autoria do artista Gonçalo C. Silva, é desenvolvida no âmbito da terceira edição do projeto “SUSTENTAR” e pretende ‘mergulhar’ nos temas da “escassez e abundância de água” e do “natural ‘versus’ tecnológico”, foi hoje divulgado.
Desta forma, é explorada uma “tensão e dualidade” existente naquele território que “não é tão visível” para quem visita o local, explicou hoje à agência Lusa o autor do projeto fotográfico.
“Foi desenvolvido em torno desta dualidade entre o natural e o artificial, entre o que vemos à superfície e o que não vemos, e como é que esta tensão e dualidade opera para encontrar soluções para a gestão, manutenção e vigilância deste corpo de água que é o maior lago artificial da Europa”, disse.
É que, embora a albufeira de Alqueva tenha “uma aparência bastante natural”, há um conjunto de “lógicas” envolvidas na sua “existência e subsistência” que são “artificiais”, salientou Gonçalo C. Silva.
“Então, havia qualquer coisa nesta dualidade e nesta tensão que me interessou e que me interessava explorar. Esta questão do que está visível e do que não está visível à superfície”, revelou.
Nomeadamente “toda esta rede de infraestruturas, de tubagens e de condutas”, as quais “permitem a subsistência do lago” e que, segundo o artista, se comparam a “vasos sanguíneos” que o fazem “existir e funcionar”.
“O objetivo foi dar a entender como é que toda esta rede invisível, que é quase como se estivesse submersa debaixo do lago, consegue funcionar e contribuir para criar soluções e formas de combater as alterações climáticas”, sintetizou Gonçalo C. Silva.
Em residência artística na Aldeia da Luz em “três momentos” distintos de duas semanas cada, em maio, julho e agosto/setembro, que terminam esta sexta-feira, o artista beneficiou ainda de “diferentes alturas do verão” alentejano, no âmbito do qual “as temperaturas são mesmo muito altas”, para “evocar esta ideia” do Alqueva como “quase um oásis no deserto”.
“No meio de uma atmosfera sobretudo árida e seca, que é visível nas margens do Alqueva, mais uma vez, reflexo das alterações climáticas, isto contrasta com a imensidão das águas azuis do lago. Portanto, há aqui uma tensão e uma dualidade bastante visível até no próprio território”, salientou Gonçalo C. Silva.
Sem saber precisar quantas fotografias analógicas fez, mas admitindo que “foram bastantes rolos”, o autor frisou ainda que levar a exposição ao Museu da Luz permite “trazer o projeto para a localidade” onde esteve em residência artística e fomentar “uma troca e diálogo com o próprio lugar em si”.
A exposição estará presente na Bienal de Fotografia do Porto, entre 15 de maio e 29 de junho de 2025, mas “ainda não tem data definida” para ser apresentada na Aldeia da Luz.
Esta é a segunda vez que o projeto “SUSTENTAR” se instala na região do Alqueva, que “já tinha acolhido a primeira edição, em 2020”, recordou a organização, em comunicado.
O projeto é produzido e organizado pela plataforma Ci.CLO, com o apoio da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA) e do Museu da Luz, que integra a Rede Portuguesa de Museus.