A AlgarOrange – Associação de Operadores de Citrinos do Algarve emitiu um alerta sobre «três grandes motivos de preocupação para a citricultura da região»: água, Citrus greening e mosca da fruta. Para os três problemas, «a citricultura do Algarve exige respostas e decisões das entidades com responsabilidades no sector», afirmando a associação num comunicado de 13 de Agosto que estes problemas «são considerados estruturantes para a citricultura, pelo que o sector exige que sejam considerados nos próximos planos de investimento os financiamentos para a sua implementação».
Quanto ao «enorme desafio» da água no Algarve, a AlgarOrange diz que «se não chover até ao final do ano, as reservas de água acumuladas nas barragens duram até Dezembro» e que «este problema tem que ser atacado de imediato». Entre as «muitas coisas» que haverá a fazer, a entidade defende que «a solução da bombagem de água do Guadiana para as barragens do Sotavento tem que ser de implementação prioritária». A associação considera ainda que «as necessidades da agricultura não se compadecem com as utilizações de água das ETAR [Estação de Tratamento de Águas Residuais] nem com a dessalinização, embora se reconheça que todas as medidas devem ser trabalhadas».
No caso da doença Huanglongbing (ou Citrus greening) – que é causada pela bactéria Candidatus liberibacter, a qual ainda não foi detectada no território europeu, e que tem como vector a Trioza erytreae –, a AlgarOrange avisa que, se a Trioza erytreae se propagar para o Algarve, «a probabilidade de disseminação» da Citrus Greennig «será praticamente impossível de ser travada a partir do momento em que chegar à região». A entidade classifica de «inacreditável e inaceitável» «nada mais ter sido feito» após se ter realizado uma largada experimental do parasitóide Tamarixia dryi em Outubro de 2019 – em quatro locais na região Centro do País e em três locais na região Oeste, no âmbito de um programa experimental de luta biológica contra a praga –, acrescentando que «desde Outubro de 2019 que se está à espera que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) dê autorização a novas largadas de insectos parasitoides». Realçando que «esta doença pode significar a ruína de todo o sector da citricultura», a associação explica que «a citricultura do Algarve exige respostas de todas as entidades envolvidas neste processo, quer essas responsabilidades sejam técnicas quer sejam políticas».
Quanto à Ceratitis capitata – ou mosca da fruta, uma praga que «causa anualmente enormes prejuízos à citricultura do Algarve» –, a AlgarOrange destaca que «as dificuldades no combate a esta praga aumentam ano após ano, pois não há uma coordenação nem planeamento de âmbito regional», e que «a luta é feita individualmente por cada produtor, essencialmente através da aplicação de produtos fitofármacos», num panorama de limitação crescente destes produtos na União Europeia. «É reconhecido unanimemente pelos especialistas, mas também pelas entidades que tutelam o sector, que esta luta tem que ser feita de forma integrada e num âmbito regional. Tem que ser feita utilizando a vertente química, mas essencialmente a vertente autocida, que configura melhores práticas ambientais. Para conseguir isto é necessário fazer o cadastro georreferenciado dos pomares de citrinos da região, mas também das culturas de hospedeiros da Ceratitis capitata. É necessário criar condições para a produção de machos esterilizados em número suficiente para que as largadas possam ser feitas em toda a região. É também necessário implementar um sistema de monitorização e avisos capaz de orientar os produtores quando e em que modos devem ser feitas as acções de luta a esta praga.»
A AlgarOrange refere que «temos sinalizado várias vezes as principais preocupações sentidas pelo sector e achamos que é tempo de respostas e acções». «A citricultura tem que ser encarada e planeada de uma forma integrada e estruturada. As soluções dos principais problemas deverão ser preparadas com carácter de urgência e, inevitavelmente, com acções de âmbito regional, Se um dia vier a acontecer a falência do sector por inacção de quem tem o dever de decidir, então iremos até às últimas consequências, exigindo a sua responsabilização».
Acresce a isto que, segundo a associação, numa lógica de «diversificação e desenvolvimento de outros sectores» no Algarve – cuja economia «assenta fundamentalmente nas actividades ligadas ao turismo, hotelaria e restauração» –, a agricultura – que «tem vindo a dar passos firmes e significativos num desenvolvimento sustentável e de crescente criação de riqueza» – e, em concreto, culturas como frutos vermelhos, abacate, plantas ornamentais, vinho e citrinos, «poderão representar alternativas de empregos que se irão perder no futuro próximo».