A agricultura é uma das mais importantes áreas da economia portuguesa mas, como tantas vezes acontece, esta importância passa muitas vezes despercebida por parte da população em geral. Isto deve-se em parte ao facto de, ao longo das últimas décadas, o emprego no setor primário ter decrescido de forma constante e significativa.
De acordo com os números oficiais mais recentes [1], no 4.º trimestre de 2022 a população ativa empregada na agricultura, pecuária, caça, silvicultura e pesca era de 131.300 pessoas, ou seja, apenas 2,7% do total do emprego total – um valor que representa um decréscimo em relação ao trimestre homólogo (-4,7%, menos 6.500 empregos).
No entanto, estes são dados que não podem ser vistos apenas de forma negativa. Por exemplo, em Portugal, o setor hortícola regista uma produtividade por hectare cultivado sem precedentes. Dados de 2022 [2] colocam Portugal no topo dos países europeus nesta métrica, com apenas os Países Baixos acima dos nossos valores de produtividade. Já no olival, Portugal é o líder europeu incontestado. [3]
Para se ter uma ideia desta evolução, em 1960 o setor primário em Portugal era responsável por gerar um total de cerca de 100 milhões de euros, valor que foi subindo de forma constante ao longo das décadas para atingir 4.697 milhões em 2022. [4]
Como foi isto possível? Numa palavra: tecnologia. A otimização das explorações, a utilização de técnicas avançadas de cultivo e irrigação, fertilizantes e pesticidas de nova geração e, claro, inovações ao nível dos equipamentos (quer do lado das alfaias agrícolas, quer das tecnologias da informação) permitiram esta evolução só aparentemente contraditória, de produzir mais com menos recursos humanos.
Hoje, usamos o termo “agricultura inteligente” para nos referirmos a todas as tecnologias capazes de potenciar níveis de eficiência e de responder a pressões cada vez maiores no que diz respeito ao aumento dos níveis de rentabilidade e otimização dos recursos.
Uma das áreas onde a tecnologia pode ajudar é na tarefa de localizar as viaturas, máquinas e equipas no terreno. A utilização desta tecnologia é especialmente relevante em explorações de maiores dimensões e pode mesmo ser considerada crucial, já que o roubo de ativos pode ter um grande impacto financeiro para um setor já por si bastante exposto a condições voláteis e incontroláveis.
As condições meteorológicas, por exemplo, podem ditar o sucesso ou insucesso de uma campanha. Com esta tecnologia, nomeadamente a localização de viaturas através de GPS, o empresário conta com uma ajuda para o assumir do controlo sobre os seus negócios. As soluções de gestão de ativos, ajudam a identificar o local onde as máquinas e equipamentos são deixados no final do dia de trabalho ou mudança de turno, assim como acompanhar as rotas e localizações durante o seu período de utilização. Os indicadores sobre a sua localização instantânea são essenciais para a sua proteção, já que desconhecer a localização de um ativo dificulta a gestao de turnos e coloca em risco a sua segurança.
Esta tecnologia permite também realizar delimitações geográficas nas zonas de cultivo, fertilização e colheitas. As delimitações geográficas (ou “zonas de segurança”) criam delimitações virtuais em torno de locais específicos considerados relevantes e podem ser utilizadas para monitorizar entradas e saídas desse perímetro, tornando mais fácil para os gestores agrícolas, saberem com segurança que as máquinas estão a trabalhar nos locais designados e que fora do horário de trabalho receberão um alerta caso uma máquina seja movimentada para fora deste perímetro virtual.
Em concreto para o setor agrícola, as delimitações geográficas podem também ajudar a identificar locais a evitar ou que exijam cuidados especiais. Entre outros cenários, podemos dar prioridade a áreas de fertilização e colheita, de forma a acompanhar os ciclos mais exigentes e as pressões para o aumento de produção; delimitar zonas que precisem de ser deixadas em pousio; isolar zonas de pasto para ajudar a evitar a probabilidade de acidentes envolvendo pessoas ou gado; e identificar os locais que foram tratados com pesticidas ou que se destinam apenas ao cultivo orgânico.
A pressão para gerir os terrenos agrícolas de forma eficiente faz com que as equipas de trabalho tenham a responsabilidade de utilizar os equipamentos da forma mais produtiva possível. Nesse sentido, a localização GPS para equipamentos agrícolas pode ser utilizada para manter um registo das áreas que já foram intervencionadas.
No contexto da agricultura inteligente, a localização GPS, a otimização de rotas e a monitorização dos equipamentos no terreno estão já hoje a moldar aquilo que poderá ser o setor agrícola no futuro. Num mundo cada vez mais marcado pela tecnologia, as possibilidades são praticamente ilimitadas para o futuro da agricultura.
Referências:
[2] https://www.pordata.pt/europa/produtividade+das+principais+culturas+agricolas-3678-5438
[3] https://www.pordata.pt/europa/produtividade+das+principais+culturas+agricolas-3678-5441
Paulo Carvalho
Senior Sales Manager, Verizon Connect Portugal