O aumento de preço dos combustíveis arrasta atrás de si uma série de outros produtos e serviços, a começar pelos cereais. A atividade agropecuária está ser severamente penalizada, mas não só: o comércio e os serviços também sofrem e, até, a proteção civil pode vir a ressentir-se.
Texto Aníbal Fernandes
“Isto não pára e as perspetivas não são as melhores”, disse ao “Diário do Alentejo” Rui Garrido, presidente da ACOS – Associação de Agricultores do Sul: “São esperados novos aumentos nos cereais, não apenas nos combustíveis, e outras matérias-primas e fertilizantes que em grande parte vinham da Rússia também vão subir”.
“Pouco e pouco vamos procurar novos mercados abastecedores, mas não é algo que se carregue num botão e se resolva”, explica o dirigente associativo recordando que a Rússia e a Ucrânia, são responsáveis por 30 por cento das exportações globais de trigo e de 20 por cento de milho.
Há duas semanas, e pela primeira vez, Portugal comprou cereais à África do Sul. Segundo o semanário “Expresso”, esse material deverá chegar durante a próxima semana por barco. No entanto, os preços já não são o que eram: o milho, em dois meses subiu de 650 dólares a tonelada para 748 dólares; o trigo, no mesmo período subiu dos 800 para os 1205 dólares por tonelada.
Nuno Faustino, da Associação de Criadores de Porco Alentejano (ACPA) diz que estes “são aumentos que não estávamos habituados a ter e deixa toda a gente muito preocupada. Na nossa fileira estamos dependentes dos cereais na fase de recria que dura cerca de oito meses, só após isso é que os animais se alimentam no montado”, diz explicando que “todo este processo é feito à base de ração e cereais que estão ao dobro do preço do ano passado”.
Mas isso não é o pior: a incerteza quanto ao preço a que estes fatores de produção possam vir a ser vendidos leva muitos produtores “a equacionar abandonar a atividade” já que as medidas propostas, nomeadamente “os empréstimos bonificados não são uma solução”.
Também João Rosa, proprietário do Beja Parque Hotel está preocupado com o aumento dos preços dos combustíveis e com as implicações que isso acarreta no mundo do turismo, comércio e serviços.
“Sabemos como a guerra começou, mas não sabemos como vai acabar. Estas situações causam transtorno em todo o lado, mas numa região débil, como a nossa, é pior”, diz, temendo que possa vir a ser muito mais grave.
“O setor do turismo estava a dar sinais de se levantar e quando ainda não estava de pé levou um empurrão. O aumento dos combustíveis arrasta tudo o mais e a capacidade de mobilidade das pessoas é fortemente prejudicada”, diz João Rosa, que espera que não venha a ser necessário a introdução de “senhas de racionamento” […]