Há unanimidade de opiniões que as maçãs da Beira Alta são maioritariamente, frutos de qualidade excecional, quando são produzidas, conservadas, classificadas e embaladas nos distritos de Viseu e da Guarda e do distrito de Coimbra, nos concelhos de Arganil, Oliveira do Hospital e Tábua.
Esta diferenciação superior de qualidade destas maçãs é fruto da experiência da sua produção regional ao longo de muitas gerações, do saber fazer tradicional e das condições naturais: montanha, altitude, climas com pendor continental, invernos com muitas horas de frio responsáveis pela quebra de forma natural da dormência da macieira, verões quentes e secos, com grandes amplitudes térmicas diárias, traduzidas em coloração intensa dos frutos, aromáticos e equilíbrio açucarado, apesar de rico; os solos principais são derivados do granito, predominantemente ácidos.
Pode ser comercializada sob a designação de Maçã da Beira Alta IGP, Indicação Geográfica Protegida, toda a que seja produzida, conservada, normalizada e embalada na área geográfica indicada acima, os operadores cumpram todas as condições previstas no respetivo caderno de especificações aprovado pela UE em cada um dos elos da fileira, no fundo, garante que a produção está ligada à tradição da região, à sua reputação ou a características ligadas ao território e que o produto foi sujeito a um rigoroso sistema de controlo independente por um organismo certificador legalmente autorizado.
Na minha opinião, a qualidade deveria ter como contrapartida valor acrescentado em cada um dos elos da fileira, principalmente na produção e na agroindústria, os elos mais fracos da cadeia de abastecimento. Na realidade, o que acontece é que distribuição organizada retém, em média, pelo menos 15 cêntimos por quilo de maçãs da Beira Alta que comercializa, valor este que que deveria chegar ao pomicultor para que ele equilibre a conta de cultura, tenha rentabilidade, além desta forma, se sentir motivado por estar a ser justamente remunerado pelo seu esforço e risco. Mais, tivesse orçamento disponível para fazer face aos sobrecustos decorrentes das alterações climáticas (e.g. cobrir os pomares com redes para controlo do escaldão, etc.) às operações culturais usuais nas macieiras, executando-as com o máximo rigor e organização, pudessem angariar mão de obra em quantidade sempre que necessário, correção e melhoria contínua do solo pelas práticas que levam ao incremento do teor de matéria orgânica e demais caraterísticas físicas, assim como, aplicação dos fatores de produção necessários e suficientes à alta produtividade que tem de atingir sob pena de comprometer o seu negócio (largas dezenas de toneladas de maçãs por hectare) tudo isto, feito sem atrasos, a operação certa na hora certa, executado na melhor oportunidade técnica de operação.
Resultado, produção de maçãs que além da alta qualidade regional intrínseca, teriam adicionalmente, mais atributos reconhecidos e valorizados pelo mercado, decorrentes do predomínio das categorias e calibres em linha com a sua procura, frutos mais valorizados, minimização da percentagem dos frutos desclassificados para comercialização em fresco, o denominando refugo, daí, custos mais baixos, longo tempo potencial de conservação em câmara frigorífica, com o consequente alongamento temporal da campanha de comercialização, consequência, maior satisfação do cliente pelo mais baixo risco de rutura de fornecimento.
A região da Beira Alta é um autêntico viveiro de experiências de sobrevivência e falência de agricultores, cooperativas, entrepostos, operadores que são simultaneamente produtores e comercializadores, intermediários, etc. uma desorganização regional, não há uma única Organização de Produtores reconhecida, o que denota a autêntica inércia existente, esperam-se soluções para os problemas sem trabalhar para montar uma estratégia de resposta, um equilíbrio débil que se tem mantido na linha do tempo assente entre a produção local e as maçãs importadas. Este é o resultado de ausência de lideranças regionais que alinhassem minimamente os players, nalguns, poucos, denominadores comuns, consensuais, onde todos ganham, mas mais grave, denota que não há nem parece vir a haver, políticas específicas para o produto e para a região.
Anoto como positiva, como primeiro passo para encontrar soluções, a vontade e ação do Presidente da CCDR- Norte, António Cunha, do Presidente da Câmara Municipal de Moimenta da Beira, Paulo Figueiredo, em encontrarem soluções para a crise regional da maçã da Beira Alta, fizeram-no através da organização de um evento denominado “A Inovação no Setor Frutícola do Norte”, Moimenta da Beira, 7 junho último. António Cunha quer montar um Centro de Inovação Frutícola em Moimenta da Beira com o objetivo de encontrar respostas científicas e técnicas para a produção de maçãs. Paulo Figueiredo teve a coragem de elencar publicamente os problemas da fileira para os quais é preciso encontrar soluções.
Na minha opinião, é incontornável que o Ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes e a sua equipa, têm de ser chamados a darem soluções políticas que só deles e do governo dependem! A bem da fileira da maçã da Beira Alta, da coesão territorial e de Portugal!
Especialista em Desenvolvimento Territorial