O mais recente episódio do podcast “Em Rede”, da Rede Nacional PAC, explora o papel crescente das tecnologias digitais na agricultura e o que este avanço representa para o ensino, a inovação e a renovação geracional no setor. A conversa, moderada por Custódia Correia, Coordenadora da Rede Nacional PAC, juntou Mário Campos Cunha e Filipe Neves dos Santos, docentes da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e investigadores do INESC TEC.
Ao longo do episódio, os convidados sublinham que a digitalização — dos sensores à inteligência artificial, passando pelos drones — deve ser entendida como uma ferramenta ao serviço da agricultura, e não como um fim em si mesma.
“A tecnologia está lá para auxiliar a agricultura. Só saberemos criar boas ferramentas se conhecermos as necessidades reais no terreno”, afirmou Filipe Neves dos Santos, destacando a importância da presença dos investigadores nas explorações agrícolas.
Para os docentes do INESC TEC, a aplicação prática da tecnologia exige uma forte ligação ao campo, à diversidade de territórios e aos diferentes sistemas de produção. Produzir vinho no Douro ou gerir culturas no Alentejo implica desafios distintos, que devem orientar o desenvolvimento tecnológico.
Uma parte central da discussão incidiu sobre a transformação do ensino agrícola. Mário Campos Cunha defendeu um modelo mais interdisciplinar e colaborativo:
“Um agrónomo por si não chega para ensinar agronomia. Precisamos de competências de outras áreas, da computação à engenharia, para formar profissionais preparados para os novos desafios.”
Na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, esta visão já está a ser aplicada através de aulas ministradas diretamente em explorações agrícolas, em parceria com produtores. Este modelo, referiu, aproxima estudantes da realidade profissional, permite que agricultores conheçam novas tecnologias e gera problemas reais para investigação aplicada.
Além disso, o docente sublinhou a importância de mecanismos de reskilling, permitindo que profissionais regressem à universidade para atualizar competências, sobretudo em áreas como a agricultura de precisão.
O debate abordou também a renovação geracional e a estratégia europeia que será apresentada ainda este mês. Custódia Correia destacou que a tecnologia pode ser um elemento decisivo para atrair novos agricultores:
“As novas tecnologias facilitam tarefas, trazem eficiência e podem mudar a perceção da sociedade sobre o que significa trabalhar no setor.”
Filipe Neves dos Santos reforçou, contudo, que a entrada de jovens no setor deve ser acompanhada de conhecimento e de uma visão de longo prazo:
“Precisamos de uma perspetiva estratégica do território. A sociedade tem de decidir o que quer ver daqui a 10 ou 15 anos. Sem isso, andamos apenas a fazer remendos.”
Outro tema em destaque foi o papel do Sistema de Inovação e Transferência de Conhecimento para a Agricultura (AKIS). Para os investigadores, é essencial que universidades, centros tecnológicos, agricultores e organizações do setor se reconheçam como parte integrante deste ecossistema.
“Os atores que produzem conhecimento são tão importantes como o agricultor que o aplica. Falta ainda reconhecer esse papel no AKIS”, referiu Mário Campos Cunha.
O professor defendeu ainda que o sistema deve incentivar abordagens mais disruptivas e experimentais, permitindo explorar novos modelos agrícolas e não apenas soluções de curto prazo.
O episódio completo está disponível no Spotify e no YouTube do podcast “Em Rede”, concebido pela equipa de apoio técnico da Rede Nacional PAC e financiado pelo PEPAC e pelos Fundos Europeus Agrícolas.
O artigo foi publicado originalmente em Rede Rural Nacional.













































