Investir no regadio é investir no PIB: setor quer travar reforma da PAC e acelerar execução da Água que Une
Evento Nacional do Regadio 20205 da FENAREG Lança Aviso: Resiliência Hídrica e Soberania Alimentar estão em Jogo
Presidente da República apela a mais investimento em regadio sustentável
Futuro alimentar de Portugal depende de investimento urgente no Regadio
Água que Une: a maior revolução económica e estrutural dos últimos 50 anos em Portugal
Instabilidade na UE coloca futuro da PAC em risco com corte de 20% no financiamento da agricultura num orçamento que propõe um aumento geral de 40%
Parlamento Europeu rejeita fusão da Coesão e da Agricultura e desaparecimento de €800 Mil Milhões de financiamento específico
Renacionalização proposta pela Comissão Europeia poderá constituir um enorme falhanço e deixar Portugal sem nenhum financiamento para agricultura
Observatório do Regadio: passo decisivo na construção de uma agricultura mais sustentável, eficiente e competitiva
Setor do Regadio Exige Mudança na PAC para Evitar Colapso do 2.º Pilar da UE
Lisboa recebeu este ano a XVI Jornada FENAREG – Encontro do Regadio 2025, subordinado ao tema Regadio: Um olhar para o Futuro num ano marcado por decisões estratégicas para o futuro económico do país e da Europa.
A mensagem do Presidente da República marcou de forma indelével aquele que foi o evento do ano do setor, elogiando o papel da Federação na modernização e sustentabilidade da agricultura nacional e destacando o quão estratégico é o Regadio enquanto motor da economia rural, da coesão e competitividade do país.
Presidente da República apela a mais investimento em regadio sustentável e enaltece papel estratégico da FENAREG no desenvolvimento
“A agricultura portuguesa, e o regadio em particular, evoluíram de forma notável nas últimas duas décadas. São hoje mais tecnológicos, mais eficientes e mais sustentáveis”, sublinhou o Chefe de Estado, reconhecendo a FENAREG como “um parceiro essencial de todos quantos regam ou pretendem regar”.
Marcelo Rebelo de Sousa alertou, contudo, para os desafios que o futuro impõe, frisando a necessidade de investimento em mais e melhor regadio, capaz de responder às alterações climáticas e de assegurar a produção alimentar económica, social e ambientalmente sustentável, e disse estar certo “de que a FENAREG continuará a desempenhar um papel central neste caminho”.
Futuro Alimentar de Portugal Depende de Investimento Urgente no Regadio
As keynotes, apresentações e debates realizados ao longo do evento evidenciaram quatro conclusões centrais: o regadio afirma-se como um ativo económico e estratégico crucial para Portugal; o custo da inação no investimento público e privado neste contexto é demasiado elevado para o país; é urgente avançar com medidas imediatas e com um modelo de governação centralizado, articulado e participado que garanta a resiliência hídrica nacional, incluindo no setor do regadio; e torna-se imprescindível reverter a atual proposta da Comissão Europeia para a PAC e para o orçamento do próximo quadro europeu 2028-2034, evitando o colapso do 2º Pilar da UE e garantindo a soberania alimentar europeia.
Água que Une: a maior revolução económica e estrutural dos últimos 50 anos em Portugal
A Estratégia Água que Une (AqU) está a afirmar-se como uma das mais ambiciosas reformas nacionais das últimas décadas, com impacto direto na competitividade da economia portuguesa, esta foi uma das principais conclusões do painel “Água que Une – Modelo de Governação e de Investimento”, onde participaram António Carmona Rodrigues, coordenador da AqU, Álvaro Mendonça e Moura (CAP), de Francisco Gomes da Silva (AGROGES) e Pedro Parias (FERAGUA – Andaluzia).
António Carmona Rodrigues, na keynote inicial, destacou que a Estratégia já está na agenda política e é uma prioridade do Governo tanto a nível interno como externo.
“A AqU é a chave para passarmos da contingência à resiliência. Muda a forma como Portugal gere o seu recurso mais valioso: a água”, afirmou.
O plano incluído na Estratégia para o Regadio prevê 117 mil hectares de novas áreas de regadio e a reabilitação de 60 mil hectares existentes, num total de 180 mil hectares de regadio moderno e eficiente. Está igualmente em curso a criação de uma nova empresa pública que integrará vários ministérios, para uma gestão coordenada da água.
No debate que se seguiu, a CAP, a AGROGES e a FENAREG defenderam que a AqU é “a maior reforma estrutural do país em décadas”, apelando à sua execução imediata e à criação de uma rede nacional da água.
Francisco Gomes da Silva (AGROGES) sublinhou que os Planos Nacionais da Água e Rega podem avançar já, e alertou para que “Portugal deve gastar melhor o dinheiro que recebe e apostar na eficiência”.
O Presidente da CAP, que apelou a que o Primeiro-Ministro e o Ministro dos Negócios Estrangeiros assumam a posição já defendida pelo responsável ministerial pela pasta da Agricultura, dado que serão eles a encabeçar as negociações para Portugal no contexto do próximo Orçamento Europeu em Bruxelas, criticou ainda o novo modelo da PAC proposto pela Comissão Europeia (que reduz em 20% o orçamento para a agricultura, quando no geral há um aumento de 40%), considerando-o inaceitável e lesivo para a economia portuguesa, porque com ele, no limite, Portugal poderá ficar sem acesso a nenhuns fundos para a agricultura. “O que seria um desastre”, declarou.
“A AqU é uma oportunidade histórica para reforçar a resiliência, a competitividade e a coesão económica do país”, concluiu Carmona Rodrigues.
Observatório do Regadio: passo decisivo na construção de uma agricultura mais sustentável, eficiente e competitiva
Durante o evento, a FENAREG apresentou também o Observatório do Regadio, a primeira plataforma nacional que reúne num só espaço dados oficiais sobre o regadio em Portugal. Desenvolvido em parceria com o COTR e a Consulai, este novo instrumento digital centraliza informação do INE, IFAP e DGADR, tornando-a acessível, transparente e fácil de consultar.
A iniciativa, que pretende desmistificar perceções erradas, mostrar o dinamismo tecnológico do setor e apoiar decisões públicas e investimentos numa gestão mais inteligente da água, está integrada na Agenda de Investigação e Inovação para o Regadio Nacional, lançada o ano passado pelo COTR, afirmando-se como instrumento estratégico para políticas públicas e decisões de investimento, promovendo uma gestão mais inteligente da água – um recurso crítico num contexto de crescente pressão climática.
Aberto à colaboração de entidades públicas e privadas, o Observatório do Regadio nasceu para evoluir de forma participativa, reforçando o compromisso do setor com a sustentabilidade e a transparência. Com esta iniciativa, a FENAREG consolida a sua liderança na inovação e valorização do regadio nacional.
Setor do Regadio Exige Mudança na PAC para Evitar Colapso do 2.º Pilar da UE
O Eurodeputado Paulo do Nascimento Cabral apresentou as linhas da Estratégia Europeia de Resiliência Hídrica e os desafios colocados pela atual proposta de reforma da PAC (2028-2034), num momento em que Bruxelas discute matérias decisivas para a competitividade do setor agrícola.
Instabilidade na UE coloca futuro da PAC em risco
Na abertura do painel “Estratégia Europeia de Resiliência Hídrica & O Papel da PAC na Modernização do Regadio”, o eurodeputado Paulo do Nascimento Cabral alertou para a crescente divisão entre a Comissão Europeia (CE) e o Parlamento Europeu sobre o próximo quadro financeiro e o futuro da PAC.
Parlamento Europeu rejeita fusão da Coesão e da Agricultura e desaparecimento de €800 Mil Milhões de financiamento específico
Nascimento Cabral sublinhou que o Parlamento Europeu (PE) não aceita a fusão das duas políticas num fundo único, por implicar o desaparecimento de 800 mil milhões de euros em financiamento específico. O PE já pediu à Comissão Europeia a reformulação da proposta.
Resiliência hídrica é questão económica e estratégica
O eurodeputado destacou que a água é hoje determinante para a soberania alimentar, preços acessíveis dos alimentos e estabilidade económica. Apesar de Portugal ter sido impulsionador da estratégia europeia agora apresentada, o documento tem falhas de financiamento superiores a 3 mil milhões de euros e não integra adequadamente a agricultura, o setor que mais consome água na UE.
Modernização do regadio e inovação são decisivas para 2027
Com a ligação entre a PAC e a Estratégia de Resiliência Hídrica prevista para 2027, o eurodeputado defendeu maior aposta em inovação, eficiência hídrica, boas práticas e sistemas de rega modernos, recordando que a falta de água já custou 480 mil milhões de euros à Europa em 2024.
Tecnologia, IA e novos fundos como chave do futuro
Nascimento Cabral apelou a investimento em tecnologias de ponta e inteligência artificial na gestão e reutilização da água, e destacou a existência de dois instrumentos do Fundo de Coesão para financiar sistemas de armazenamento hídrico
Para o eurodeputado, a Europa enfrenta desafios críticos, que vão da resiliência hídrica à renovação geracional, exigindo financiamento robusto e modernização urgente para garantir um setor agrícola competitivo e sustentável.
Especialistas alertam para riscos na reforma da PAC e defendem plano robusto de desenvolvimento rural para Portugal
Seguiu-se um debate que contou, além de Nascimento Cabral, com a presença dos antigos Secretários de Estado da Agricultura, José Diogo Albuquerque e Gonçalo Rodrigues moderado por Rui Veríssimo Batista, diretor da FENAREG. O painel concluiu que há um risco enorme de perda de coerência estratégica na PAC e com impacto na segurança alimentar; que é preciso reforçar o investimento a nível nacional em infraestruturas rurais e não apenas em apoio à atividade; que o novo Orçamento proposto pela CE para o novo quadro avança no sentido do desaparecimento prático do Fundo de Coesão no novo modelo proposto; e que Portugal deve ser mais interventivo a nível europeu, para garantir a sua competitividade e autossuficiência alimentar.
Os antigos responsáveis governamentais e o representante nacional no Parlamento Europeu alertaram igualmente para os impactos económicos relevantes da proposta de reforma da Política Agrícola Comum (PAC) e da Estratégia de Resiliência Hídrica Europeia.
Estrutura da PAC deve manter-se intacta porque é um dos pilares fundadores da UE
José Diogo Albuquerque, antigo Secretário de Estado da Agricultura, defendeu que a estrutura da PAC deve manter-se intacta, sob pena de se perder um dos pilares fundadores da União Europeia, e considerou que a integração excessiva com outros fundos, como o da coesão, torna o modelo confuso e fragiliza o propósito da política agrícola.
Aquele responsável sublinhou que Portugal precisa de um plano de desenvolvimento rural orientado para infraestruturas e para a capitalização das explorações agrícolas, recordando que projetos estratégicos como o Alqueva só foram possíveis graças a fundos estruturais.
Renacionalização proposta pela Comissão Europeia poderá constituir um enorme falhanço
Gonçalo Rodrigues por seu turno alertou que a renacionalização proposta pela CE poderá constituir um enorme falhanço, desde logo porque será difícil garantir o reforço orçamental nacional num setor onde, há décadas, não existe visão clara de investimento nalguns países, como é de resto o caso de Portugal.
Nascimento Cabral, considerou também que a proposta orçamental da CE praticamente elimina o Fundo de Coesão, canalizando recursos agrícolas para outros instrumentos, o que, segundo afirmou, distorcerá o mercado e aumentará fricções entre Estados-Membros. O Eurodeputado lembrou ainda que o desafio central permanece: como alimentar a população europeia nos próximos anos? E defendeu que Bruxelas não pode continuar a ignorar o papel económico da agricultura.
20 anos FENAREG e o reconhecimento de quem construiu o regadio moderno em Portugal
O Encontro Regadio 2025 assinalou também os 20 anos da FENAREG, com a apresentação da evolução do regadio nas últimas duas décadas a cargo do Professor Francisco Gomes da Silva (AGROGES), seguida da evocação dos principais marcos da Federação pela secretária-geral Carina Arranja.
Ainda neste âmbito foram homenageadas três personalidades incontornáveis e que deixaram marca decisiva no setor:
- Eng.º João Bragança, uma referência técnica na modernização do regadio nacional;
- Eng.º João Campos, um especialista em hidráulica agrícola e projetos hidroagrícolas;
- Eng.º Aristides Chinita, mais de 60 anos dedicados à agricultura e ao desenvolvimento do perímetro de rega do Caia.
Fonte: FENAREG











































