As exportações moçambicanas de legumes recuaram 42,5% no primeiro trimestre, em termos homólogos, para 18,1 milhões de euros, ainda condicionadas pela violência após as eleições gerais de outubro, indicam dados oficiais compilados hoje pela Lusa.
De acordo com o relatório do Banco de Moçambique, que detalha as exportações de legumes e hortícolas do país, essas vendas ao exterior somaram de janeiro a março 21,3 milhões de dólares (18,1 milhões de euros), quando em igual período de 2024 tinham atingido 37 milhões de dólares (31,5 milhões de euros).
No documento refere-se que a exportação “foi afetada pelo efeito das manifestações pós-eleitorais que condicionaram a produção e o escoamento destas mercadorias”.
As exportações de legumes e hortícolas por Moçambique aumentaram 11% em todo o ano 2024, para 167 milhões de dólares (142,3 milhões de euros), segundo dados anteriores do banco central.
A banana, outro dos produtos tradicionais das exportações moçambicanas, rendeu no primeiro trimestre deste ano 10 milhões de dólares (8,5 milhões de euros), menos do que os 11,8 milhões de dólares (10 milhões de euros) vendidos no mesmo período de 2024. Em todo o ano de 2024, essas vendas atingiram os 37 milhões de dólares (31,5 milhões de euros), mais do que os 32 milhões de dólares (27,3 milhões de euros) em 2023, comprada essencialmente pelos países vizinhos, nomeadamente a África do Sul.
O Governo moçambicano pretende mobilizar 2.317 milhões de euros para estimular a economia, nomeadamente face aos efeitos das alterações climáticas e da instabilidade política, conforme o Plano de Recuperação e Crescimento Económico (Prece), aprovado em 16 de setembro, em Conselho de Ministros.
De acordo com o porta-voz daquele órgão, Inocêncio Impissa, trata-se de “um instrumento de curto e médio prazo para responder aos desafios da conjuntura económica”.
“Contempla um pacote de medidas estimado em 2.750 milhões de dólares [2.317 milhões de euros]. Deste pacote, 800 milhões de dólares [674 milhões de euros] serão fundos de apoio à economia para a sua recuperação, através de instrumentos aprovados pelo Governo”, explicou.
Entre esses instrumentos já aprovados, alguns em fase de implementação, estão o Fundo de Garantia Monetária, o Fundo de Desenvolvimento Económico Local, linhas de financiamento de apoio à recuperação pós-tensões eleitorais, bem como o futuro Banco Nacional de Desenvolvimento, detalhou o governante.
“A implementação eficaz do Prece contribuirá para restabelecer a confiança dos investidores e da população em geral, bem como acelerar a recuperação económica, criando um ambiente propício para investimentos, geração de emprego e crescimento sustentável no médio e longo prazos”, apontou Impissa.
Moçambique viveu quase cinco meses de tensão social, com manifestações, greves e barricadas em ruas de várias cidades, sobretudo Maputo, inicialmente em contestação aos resultados eleitorais de 09 de outubro, convocadas pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados eleitorais.
Os protestos degeneraram em violência com a polícia e provocaram cerca de 400 mortos, bem como a destruição e saque de infraestruturas públicas e em empresas.
Quase mil empresas moçambicanas foram afetadas pelas manifestações pós-eleitorais, com um impacto na economia superior a 32,2 mil milhões de meticais (480 milhões de euros) e 17 mil desempregados, segundo estimativa apresentada em fevereiro pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA).
De acordo com o levantamento feito pela CTA, foram afetadas de “forma direta” pelas manifestações e agitação social que se seguiu às eleições gerais de outubro 955 empresas, em que 51% “sofreram vandalizações totais e/ou saques das suas mercadorias”.
Em 23 de março, o Presidente da República, Daniel Chapo, encontrou-se pela primeira vez com Venâncio Mondlane, tendo ambos assumido o compromisso de acabar com a violência, o que acabou por acontecer.