A agricultura é hoje um “pilar fundamental” da economia do Algarve, representando 4% do valor acrescentado bruto regional — acima da média nacional — e afirmando-se como o segundo setor de especialização da região, logo a seguir ao turismo.
Esta é a principal conclusão do estudo “O Valor Económico da Agricultura no Algarve”, realizado pela Ernst & Young (EY) e apresentado a 28 de agosto pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve.
A iniciativa integrou a conferência “Agricultura – Um Ativo Estratégico para o Algarve”, organizada no âmbito da FATACIL 2025 pelo Município de Lagoa. O encontro reuniu cerca de 80 participantes, entre representantes institucionais, académicos, agricultores e agentes económicos, refletindo a importância atribuída ao setor agrícola no desenvolvimento regional.
De acordo com a análise, durante a pandemia, o setor primário revelou-se decisivo para atenuar os efeitos da forte contração do turismo, reforçando a sua relevância estratégica no equilíbrio económico do Algarve.
O estudo revelou também que, em 2023, a agricultura no Algarve registou um impacto de 811 milhões de euros no valor acrescentado bruto (VAB), apesar dos constrangimentos hídricos. O setor garantiu 30.936 postos de trabalho e representou 445 milhões de euros em remunerações para as famílias a nível nacional.
Além disso, destacou-se ainda como “motor de distribuição de riqueza”, não só pelos rendimentos gerados, mas também pelo contributo fiscal, que alcançou 389 milhões de euros nesse ano.
O estudo sublinhou a relevância estratégica dos citrinos, que ocupam 38% da superfície agrícola da região e asseguraram 76% da produção nacional em 2023. Ao mesmo tempo, sublinhou também o dinamismo dos frutos subtropicais, em particular o abacate, cuja produção cresceu mais de 96% entre 2013 e 2023, evidenciando uma elevada rentabilidade por hectare.
Segundo o relatório, no comércio externo, os citrinos mantêm posição dominante: entre 2017 e 2023, o valor das exportações quase duplicou, representando entre 70% e 80% do total exportado pelo Algarve nesse período.
O estudo evidenciou também o potencial por explorar da indústria alimentar assente em recursos locais, apontada como oportunidade para diversificar a economia regional e aumentar a criação de valor acrescentado.
O evento contou também com a intervenção do Professor Carlos Marques, intitulada “A Agricultura da Região Algarvia e a Importância da Água”. O orador defendeu o investimento em conhecimento e inovação nas culturas tradicionais, desde a rega à mecanização e comercialização. Sobre a água, alertou que as tarifas tenderão a refletir o custo real, tornando a eficiência essencial para a sustentabilidade da agricultura.
Considerou ainda que soluções caras, como a dessalinização, dificilmente serão suportadas pelo setor, sendo preferível apostar na captação e reaproveitamento de águas locais. Por fim, destacou que o fim dos direitos históricos da PAC e a passagem para a superfície elegível anual representam uma oportunidade para reforçar os apoios ao rendimento dos agricultores algarvios, embora persistam incertezas ligadas ao próximo quadro orçamental europeu.
“O setor agrícola é considerado estratégico para a região e demonstra resiliência, modernização, inovação e capacidade de distribuir riqueza no emprego e remunerações”, referiu José Apolinário, Presidente da CCDR Algarve.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.