O Encontro Nacional pela Justiça Climática (ENJC) está de volta para a sua 9.ª edição e, desta vez, ruma a Boticas, no distrito de Vila Real, para reunir pessoas de todo o país.
De 5 a 7 de abril, o município de Boticas irá acolher cerca de 15 eventos entre debates, workshops e concertos. Estes espaços convidarão à reflexão sobre a transição climática justa em Portugal e sobre as soluções para construir um presente e futuro mais justos e sustentáveis.
Cerca de três dezenas de organizações juntaram-se para erguer este Encontro que parte de diferentes premissas: da compreensão da intrincada relação entre o clima e o oceano, da urgência de promover soluções de mobilidade sustentável e pública nas nossas comunidades e de combater a pobreza energética, e do imperativo de abandonar de vez os combustíveis fósseis e atingir a neutralidade carbónica até 2030, fomentando, sempre, a capacitação e participação públicas.
O ENJC é um evento anual que reúne ativistas, cientistas, líderes comunitários e cidadãos para debater e desenvolver estratégias para travar a crise climática, através de uma transição energética alinhada com os prazos ditados pela ciência e direcionada para a justiça climática e social, que deve ser coordenada, equilibrada e não deixar ninguém para trás. Este é um espaço de partilha de conhecimentos e experiências, onde se pode ficar a conhecer as batalhas que se enfrentam, quem as está a travar e as soluções e caminhos a percorrer na luta pela justiça climática.
A nona edição surge numa altura fundamental nas lutas do movimento climático em Portugal. A emergência que vivemos não se cinge apenas às questões ambientais ou climáticas, ela afeta todos os aspetos da nossa vida. Apesar disso, continuamos a deparar-nos com políticas públicas pouco ambiciosas e comunidades cada vez mais vulneráveis. O falhanço institucional e governamental deixa clara a necessidade da organização e da resistência da ação popular e cidadã para travar o caos climático, ecológico e social a que o atual modelo económico nos condena.
Estamos numa altura em que a crise climática exige uma ação urgente, mas também a responsabilidade de optar por um caminho justo para a transição energética, que não reproduza o sistema e as narrativas que causaram os atuais níveis de destruição climática, ambiental, ecológica, social e económica. Nesse sentido, não podemos permitir uma extração de recursos minerais a qualquer custo. A exploração de lítio em Portugal não pode avançar sem considerar os seus impactos sociais, económicos, ecológicos e ambientais, bem como o legado ambiental, social, económico deixado para as gerações futuras. Além disso, não podemos apoiar uma exploração predatória que apenas visa a extração rápida de recursos minerais, sem garantir que todo o processo de transformação ocorra no país, criando uma cadeia de valor que não seria alcançada apenas com a abertura de uma mina. A política pública não pode ter uma visão simplista de curto prazo assente numa vertente dilapidadora dos recursos geológicos – que agora é apresentada com a bandeira verde de um suposto “Green Mining” (“mineração verde”, conceito manipulador que tenta criar a ilusão de uma atividade sem impactos). Devemos lutar por uma visão de respeito pela sustentabilidade e pelo território e pelas suas gentes no longo prazo.
Com a escolha do local, o Encontro pretende demonstrar solidariedade com a luta dos movimentos locais pela preservação das suas culturas, práticas e modos de vida, em harmonia e simbiose com o seu meio. O Barroso foi, graças a estas práticas, classificado pelas Nações Unidas como Património Agrícola Mundial. As Nações Unidas reconheceram o papel fundamental deste território na preservação da biodiversidade, na descarbonização e na sustentação de um ambiente socioecológico saudável. As populações locais, que mantêm este território há séculos, sabem que a crise climática e ecológica não se combate destruindo regiões como esta, em prol do lucro de algumas empresas, mas sim preservando-as.
Integram a organização do Encontro a Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis, Climáximo, Empregos para o Clima, Montalegre Com Vida, MUBi – Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, OIKOS, Quercus, Sciaena, Último Recurso, UMAR, Unidos em Defesa de Covas do Barroso, XR Portugal e a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável.
O ENJC conta ainda com o apoio das seguintes entidades: Associação Dunas Livres, Associação Unidos pela Natureza, Coopérnico, Ecomood Portugal, GEOTA, GPSA – Preservação da Serra da Argemela, Instituto Marquês Valle Flor, MiningWatch Portugal/Observatório Ibérico da Mineração, Movimento SOS Serra d’Arga, Povo e Natureza do Barroso, Reboot, Rede para o Decrescimento, Scientist Rebellion Portugal, TROCA – Plataforma por um Comércio Internacional Justo, Veredas da Estrela, Youth Climate Leaders.
As inscrições são gratuitas.