Assinala-se amanhã, 5 de junho, o Dia Mundial do Ambiente, que nasceu na sequência da Conferência de Estocolmo sobre Ambiente em 1972, um marco histórico no esforço internacional de concertação para salvar o planeta, reunião onde também teve lugar a criação do Programa das Nações Unidas para o Ambiente.
Para assinalar esta data, a ZERO identificou 5 áreas onde, para além da ação de responsabilidade crucial de governos e empresas, também os cidadãos são chamados a um papel ativo: alterações climáticas e poluição do ar, exploração de recursos e resíduos, agricultura, água e saúde e ambiente. Para cada um destes temas, a ZERO propõe 5 áreas de ação eficazes para ajudar a alterar a tendência negativa de evolução de cada uma delas.
Dia Mundial do Ambiente – os últimos 50 anos
Ao longo destes últimos 50 anos, apenas cerca de um décimo das centenas de metas globais nas áreas do ambiente e desenvolvimento sustentável acordadas pelos países foram alcançadas ou tiveram um progresso significativo.
- O uso de recursos naturais mais do que triplicou desde 1970 e continua a crescer; o usufruto dos mesmos e os seus benefícios são distribuídos de forma desigual entre países e regiões.
- A metade mais pobre da população global possui apenas 2% da riqueza global total, enquanto os 10% mais ricos possuem 76% de toda a riqueza.
- A metade mais pobre da população global contribuiu com 10% das emissões de gases com efeito de estufa que contribuem para o aquecimento global e consequentes alterações climáticas; os 10% mais ricos da população global emitiram mais da metade do total de emissões de carbono durante 1990–2015.
Podemos dizer que o tempo para inverter o rumo e garantir que poderemos todos (Humanidade e as restantes espécies) viver em boas condições num futuro próximo está a esgotar-se. Os sinais são claros.
À escala mundial, para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C neste século, devemos reduzir pela metade as emissões anuais de gases de efeito estufa até 2030. Sem ação, a exposição à poluição do ar além do recomendado aumentará em 50% ao longo desta década e os resíduos de plástico que fluem para os ecossistemas aquáticos quase triplicarão até 2040.
As 5 áreas de ação
– Alterações climáticas e poluição do ar
Em Portugal, desde 2005, as emissões têm baixado a um ritmo médio de cerca de 2,6% ao ano, o que é menos do que seria necessário. Para cumprirmos a Lei de Bases do Clima, até temos de reduzir as emissões em pelo menos 55% face a 2005. Isto significa que as emissões no período 2021-2030 terão de baixar, em média, pelo menos 4% ao ano, ou seja, a um ritmo superior aos 2,8% de reduções verificadas entre 2020 e 2021. O setor dos transportes, principalmente resultado do transporte rodoviário, é o com maior peso nas emissões (28%) e teve um aumento de 7,3% entre 2020 e 2021.
Uma das ações mais eficazes que podemos desenvolver para ajudar a minimizar as alterações climáticas passa mesmo por reduzirmos o uso do transporte rodoviário individual, usarmos mais os transportes públicos ou os modos suaves nas nossas deslocações quotidianas.
– Água
Portugal está mais uma vez confrontado com um contexto de seca que coloca enormes desafios a diferentes atividades económicas, ao ambiente e à sociedade em geral, situação que segundo os dados científicos disponíveis para o nosso país, terá tendência a agravar-se no futuro.
Em termos individuais, podemos começar por contribuir para um uso mais eficiente da água tomando banho apenas quando necessário e por períodos curtos. Um duche de 4/5 minutos é o ideal, tendo presente que a cada minuto um banho gasta cerca de 8 a 10 litros de água (dependendo também do chuveiro que se está a usar). Sugerimos a experiência de tapar o ralo da banheira antes de começar a tomar banho e verificar se o duche não se torna rapidamente num banho de imersão.
– Uso de recursos e resíduos
Portugal tem vindo a aumentar a sua produção de resíduos urbanos ano após ano. Atualmente, em média, cada um de nós produz 511 kg ano, o que equivale a 1,4 kg/dia e tem uma taxa de circularidade dos materiais de cerca de 2,2%, ou seja, um recurso que entra na economia, dificilmente é reintegrado.
Neste âmbito, é fundamental mudar o paradigma de “usar e deitar fora”, muito assente na incineração e deposição em aterro e, em alguns contextos, na reciclagem, para o paradigma de “ter menos, mas de melhor qualidade”, com um forte enfoque na redução, reutilização, troca, compra em segunda mão e reparação e sempre com um olhar crítico e responsável sobre o que adquirimos.
– Agricultura
O setor agrícola nacional aumentou o seu peso relativo nas emissões nacionais, para mais de 12% do total em 2020 e com um aumento consistente de emissões de gases de efeito de estufa (GEE) desde 2016, segundo o último Inventário Nacional de Emissões, não cumprindo, assim, a meta de redução (face a 2005). A expansão da agricultura industrial, focada na produção de mercadorias para exportação e com base em monoculturas totalmente dependentes de regada, como única solução, provocará maior intensificação do uso e ocupação dos solos e uma aceleração do já rápido desaparecimento das paisagens de alto valor natural e da biodiversidade.
A título individual, optar por produtos produzidos localmente, da época, produzidos através de práticas agroecológicas, evitar ao máximo o desperdício alimentar e, claro, privilegiar o consumo de proteína vegetal, são excelentes contributos para dar força a uma agricultura promotora da soberania alimentar. A participação em grupos de consumo ou organizações para a valorização da agricultura de proximidade é também muito relevante.
– Saúde e ambiente
A este nível olhamos para a nossa balança alimentar. Os dados para Portugal indicam que cada português consome cerca de três vezes a proteína animal que é preconizado na roda dos alimentos, metade dos vegetais, um quarto das leguminosas e dois terços das frutas. Tal tem um impacto significativo na nossa saúde, mas também no ambiente. A título de exemplo, a produção pecuária é um dos principais motores do aumento das emissões de gases com efeito de estufa no setor agrícola.
Aproximar a nossa dieta à roda dos alimentos, reduzindo a presença de proteína animal na alimentação reduz, de forma significativa, o impacto ambiental associado à alimentação e o risco de várias doenças.