Novas imagens revelam sofrimento generalizado e riscos nas explorações de ovos com galinhas em gaiolas por todo o continente europeu
A Europa, há muito considerada líder em bem-estar animal, enfrenta hoje um novo escrutínio com a divulgação da maior investigação global da história sobre a produção industrial de ovos, que revela imagens perturbadoras captadas em explorações em Portugal, Itália, Polónia, França, Estónia, Bulgária, Roménia, Noruega, Eslovénia, Finlândia, Rússia e Espanha.
Divulgada hoje pela Open Wing Alliance (OWA) — uma coligação de quase 100 organizações de proteção animal em todo o mundo — em colaboração com a We Animals e a Reporters for Animals International, a investigação expõe abusos generalizados de várias empresas, condições imundas em gaiolas e riscos graves para a saúde pública, tudo isto em cadeias de fornecimento utilizadas por grandes marcas globais do setor alimentar.
As imagens revelam condições profundamente alarmantes nas cadeias de abastecimento de ovos das grandes empresas: galinhas confinadas em pequenas gaiolas, rodeadas de sujidade, incapazes de se mover ou de expressar comportamentos naturais.
A investigação destaca o trabalho de 43 organizações-membro da OWA em toda a Europa, incluindo Portugal que também está representado nesta investigação, através da colaboração com a organização não-governamental Frente Animal.
“Embora a Comissão Europeia tenha prometido eliminar gradualmente as gaiolas até 2027, no âmbito da Estratégia do Prado ao Prato, a implementação continua incerta. Contudo, mais de 15 países foram além da legislação da UE e introduziram proibições totais ou parciais aos sistemas com gaiolas.
Infelizmente, neste contexto europeu, Portugal está entre os cinco países com maior uso de gaiolas na produção de ovos e continuamos a ser dos mais atrasados na transição para sistemas alternativos,” afirma Joana Machado, gestora de comunicação da Frente Animal. “Aliás, mesmo entre as grandes empresas nacionais, como é o caso do Continente — um dos maiores retalhistas do país — continua a não existir qualquer posição pública sobre a venda de ovos provenientes de galinhas em gaiolas. Isto contrasta com a postura já assumida por concorrentes diretos com presença internacional, que se comprometeram a deixar de comercializar este tipo de produtos. Os consumidores portugueses merecem o mesmo tipo de consideração pelos seus valores que os consumidores estrangeiros, e é urgente trazer para Portugal essa tendência inevitável do mercado.”
Com este objetivo, a organização lançou uma campanha de angariação de fundos para reunir os recursos necessários ao lançamento de uma nova iniciativa: Portugal Sem Gaiolas. Na primeira fase da campanha, pretende-se angariar 5.000 euros — dos quais já foram conseguidos mais de 3.500€ apenas na primeira semana. “Isto mostra mais uma vez que os portugueses se importam com o bem-estar animal e querem ver essas suas preocupações espelhadas nos produtos e nas práticas das empresas,” sublinha Joana Machado.
Esta não é a primeira vez que explorações avícolas portuguesas são alvo de investigações onde são detectados animais doentes e em condições
deploráveis. Em 2024, uma reportagem nacional revelou as mesmas conclusões.
Fonte: Frente Animal