Atrasos nos vistos
No setor agrícola, as dificuldades de contratação afetam tanto as áreas mais tecnológicas como o trabalho manual. Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), revela que “a carência de mão de obra tem sido verificada, sobretudo na atividade das colheitas, que tem uma incidência sazonal específica, e em especial nas tarefas para as quais as soluções mecânicas e tecnológicas ainda não são viáveis”. “Um exemplo desta realidade é a colheita de frutos vermelhos que exige uma sensibilidade e um manuseamento de tal modo delicados que não tem sido fácil substituir a mão humana por soluções mecânicas e tecnológicas”, explica ao DV.
Luís Mira indica que, “no caso das colheitas, a oferta nacional tem sido bastante escassa para estas necessidades, tornando necessária a contratação de imigrantes, provenientes do exterior, particularmente da Ásia”. Contudo, “a contratação de estrangeiros tem sido sistematicamente dificultada pelos atrasos na emissão de vistos”, destaca. Por isso, a “CAP tem vindo feito diligências junto das entidades oficiais para que o governo dedique uma atenção especial aos diversos postos consulares, nomeadamente no que diz respeito à emissão de vistos com celeridade”, sublinha.
Mas também há escassez de trabalhadores para profissões mais especializadas, “uma vez que a atividade agrícola se pratica cada vez mais com recurso a sensores no solo, drones de monitorização e intervenção nas culturas, equipamentos tecnológicos com base na tecnologia 5G e inteligência artificial”, constata Luís Mira. Neste caso, a dificuldade em encontrar profissionais “reside nas condições de atratividade do interior do nosso país, onde se pratica a agricultura de forma mais generalizada, assim como das próprias infraestruturas tecnológicas existentes no mundo rural, necessárias ao desenvolvimento destas profissões”, segundo o secretário-geral da CAP, que acusa “os sucessivos governos de nada fazerem para corrigir a assimetria regional entre o litoral e o interior”. “Veja-se, por exemplo, a opção do atual governo em não inscrever no Plano de Recuperação e Resiliência quaisquer verbas para garantir a cobertura total do território nacional com tecnologia 5G, fundamental para o uso novas aplicações na agricultura”, contesta Luís Mira. […]