Representante dos retalhistas europeus no Conselho Consultivo da EFSA, Ondina Afonso aponta a guerra na Ucrânia como outra ameaça recente à segurança alimentar. Apela ao reforço da produção nacional.
A única portuguesa no Conselho Consultivo dos Riscos Emergentes da Agência Europeia da Segurança dos Alimentos (EFSA), um cargo para o qual foi convidada pelo EuroCommerce, uma entidade que reúne associações nacionais de retalhistas dos 27 Estados-membros. Apesar de o seu nome se ter tornado mais popular entre o Clube de Produtores Continente, como presidente do organismo, Ondina Afonso é também diretora de Qualidade & Investigação da Sonae MC e, a nível internacional, tem a presidência do Comité Alimentar do próprio EuroCommerce, desde 2019. A EFSA aprovou a sua nomeação no início deste ano, para um mandato de três anos.
Um relatório recente da FAO concluía que mais de 12% da população portuguesa sofre de insegurança alimentar moderada ou severa, colocando o país acima da média (8,5%) entre os 13 Estados da Europa do sul. O que é que isto significa? Que leitura faz desta conclusão?
A insegurança alimentar (food insecurity) a que refere o relatório da FAO prende-se com a falta de comida à mesa dos consumidores e não com a segurança dos alimentos (food safety), no que respeita a potenciais problemas de saúde, e que podem ser causados por alimentos “não conformes” sob o ponto de vista químico ou microbiológico. No entanto, ambos os conceitos se relacionam, pois a escassez de determinado alimento poderá levar à tentativa de adulteração, através da inclusão de outros ingredientes com impactos negativos na saúde, como acontece com a adulteração de leite infantil em países asiáticos, por falta de matérias-primas. Felizmente, em Portugal não existe nenhum exemplo deste tipo de crime alimentar.
Mas há motivo de preocupação?
Observando os dados do relatório da FAO, podemos concluir que efetivamente Portugal precisa de reforçar a sua produção nacional para não estar tão dependente dos mercados externos, nomeadamente na proteína vegetal e animal, que são a base de uma alimentação equilibrada. Na MC temos um modelo único de apoio direto à produção nacional, através do Clube de Produtores Continente, onde há já 25 anos estimulamos os nossos produtores a produzir com mais conhecimento e mais tecnologia, por forma a serem também competitivos e, com isto, conseguirmos abastecer as nossas lojas com produtos nacionais de excelência.
Ainda sobre o relatório da FAO, apesar de Portugal ter tido um um recuo no índice da “insegurança alimentar” , entre 2014-16 e 2020-22, continuamos a ser o 6.º país da Europa do Sul com o valor mais elevado. O que poderá ter contribuído para essa melhoria, e o que pode estar a travar um melhor desempenho?
Necessitamos de políticas de apoio à produção agroalimentar, aumentando o nosso grau de autoaprovisionamento, dentro do quadro da Estratégia Europeia do Prado ao Prato, que vem trazer exigências no cumprimento de parâmetros de sustentabilidade, que todos teremos de respeitar.
No novo cargo europeu vai lidar com riscos emergentes alimentares. O que está em causa, que riscos são estes?
Um risco emergente, em termos de segurança alimentar, pode ser definido como uma ameaça recém-identificada ou uma ameaça que está a desenvolver-se rapidamente e que tem o potencial de causar danos significativos à saúde humana. Esses […]