O presidente da Câmara de Valpaços disse que “a tempestade” de granizo “dizimou um ano de trabalho” na vinha e olival, e que é preciso “socorrer os agricultores”, salientando que começou hoje o levantamento dos prejuízos.
“Foi um fim de semana trágico para o concelho de Valpaços”, afirmou Amílcar Almeida, referindo-se à queda intensa de chuva acompanhada de granizo e vento que, no sábado, atingiu o município do distrito de Vila Real.
O autarca contou que se abateu uma “forte tempestade de granizo em algumas freguesias do concelho de Valpaços” e que em algumas localidades há uma perda de quase 100% na vinha, olival e produtos hortícolas.
Mas, apontou, há ainda prejuízos em infraestruturas municipais, detalhando que, após o mau tempo, ficaram “estradas levantadas” e ainda consequências “a nível de condutas de água e de saneamento”.
Hoje começou a ser feito o levantamento dos prejuízos com a colaboração dos presidentes das juntas de freguesia afetadas, nomeadamente Valpaços, São Pedro de Veiga de Lila, Zebras, Água Revés, Argeriz, Possacos, Fornos, Santa Valha e Vilarandelo.
“Já articulámos com o Ministério da Agricultura e esperamos que hoje, da parte de tarde, alguém se desloque ao concelho para tomar conhecimento no local, para que nós consigamos chegar às entidades competentes, nomeadamente ao Ministério da Agricultura, para poder fazer algo por estes agricultores. Muitos deles sobrevivem à custa do trabalho de todo o ano e, de facto, passado meia hora, veem dizimado todo o trabalho”, afirmou.
Os técnicos da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN) vão percorrer as áreas mais afetadas dos concelhos de Valpaços e de Mirandela, já no distrito de Bragança.
Amílcar Almeida salientou que “é preciso socorrer os agricultores” e lembrou que a principal atividade económica do concelho é a agricultura, concretamente nas produções de azeite, vinho e castanha.
Há dois anos, a Cooperativa dos Olivicultores de Valpaços recebeu cerca de 13,5 milhões de quilos de azeitona, um valor que desceu para metade no ano passado, prevendo-se para a próxima campanha uma produção idêntica à de 2022.
Arnaldo Varandas, 65 anos e agricultor em Lagoas, disse que “a mãe natureza” fez “uma rasteira” aos produtores.
“Grande parte da nossa produção foi para o chão, foi por terra”, afirmou.
O agricultor apontou para o chão cheio de azeitona caída das oliveiras devido ao mau tempo, mas salientou que a que ficou na árvore e foi atingida pelas pedras de granizo ficou picada e pode ficar preta, e até cair antes da apanha prevista para novembro.
Até lá, terá que “fazer contas” para avaliar se vale a pena fazer a apanha da azeitona, já que agora se faz com máquinas agrícolas e o custo é elevado.
No olival prevê uma perda de produção de cerca de 80% e na vinha à volta dos 50%.
No ano passado, disse, colheu 10 toneladas de azeitona e, para este ano, aponta para “uma ou duas toneladas”.
Armando Varandas aguarda agora indicações para a vindima, mas salientou que quer “tentar acelerar o corte de uvas” nos seus cinco hectares de vinha. No ano passado colheu 26 toneladas de uva, menos que as 44 toneladas colhidas em 2021.
“O granizo estragou a folhagem, a planta, rasgou as uvas e partiu também cachos. Se não vindimarmos com alguma brevidade perderemos a qualidade no vinho”, referiu.
Em Crastro, António Faustino e a mulher Clara apontam para uma quebra de produção de uva de cerca de 40%.
O problema, destacou o agricultor, é que o que ficou “vai apodrecer tudo” e, por isso, tem que fazer a vindima, que estava prevista apenas para o final do mês, “o mais rapidamente possível”.