São ainda os efeitos da disrupção das cadeiras de abastecimento provocada pela pandemia, agravados pela guerra na Ucrânia e a crise energética, que estão a criar graves dificuldades às empresas, com os custos a disparar e os tempos de entrega dos produtos a triplicar.
A falta de semicondutores foi o primeiro sinal e condicionou duramente a capacidade produtiva de indústrias como a automóvel, obrigando a paragens de toda a cadeia. Mas, com o estender da pandemia, que continua a obrigar a confinamentos em vários países asiáticos, a desregulação das cadeias logísticas e, agora, o efeito guerra na Ucrânia, a falta de matérias-primas e outros bens já se estende a diversos setores, obrigando mesmo as fábricas a parar.
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Agroalimentar: empresas sob “enorme pressão”
A disrupção nas cadeias de abastecimento do agroalimentar vem já do ano passado, mas foi agravada pela invasão da Ucrânia, país do qual Portugal depende para 40% do seu abastecimento de milho. Mas não só. A guerra obrigou a procurar alternativas noutras geografias para o girassol e alguns óleos alimentares, o que tem vindo a ser conseguido, apesar da “enorme pressão” sobre os custos. “Os stocks de segurança continuam a ser os adequados e em rotatividade para cerca de três meses, mas estamos a acompanhar a situação”, garante o presidente da FIPA, a federação das indústrias agroalimentares.
Também nos materiais de embalagem, como o plástico, cartão, papel, etc., a “disrupção tem sido enorme” com os fornecedores a terem dificuldade no cumprimento de prazos de entrega. No entanto, Jorge Henriques assegura que não há riscos de abastecimento ao mercado. “Quanto muito haverá alterações pontuais de referências”, diz. Mas é a crise energética que mais preocupa, já que setores como as extratoras de óleos alimentares, ou indústrias dependentes da pasteurização, “altamente dependentes do gás natural”, estão numa situação “bastante crítica”, na medida em que “não são abrangidas pelas ajudas”. Jorge Henriques fala em aumentos do gás de 485% desde setembro, impactos “impossíveis de passar” ao preço final e que “colocam em sério risco” as empresas.
Já o gerente da Navires, empresa de especiarias e ervas aromáticas, admite que a situação está um bocadinho caótica. Além dos artigos que duplicaram ou triplicaram preços, como a noz-moscada, pimenta ou zimbro, há produtos em falta, como a canela. E o que é simultaneamente um problema, que é o facto de importar 60 ou 70 produtos distintos de uma vintena de países, impedindo que consiga exercer pressão sobre toda a cadeia, acaba por se revelar uma mais-valia, já que a falta de um determinado produto não obriga a parar a fábrica, basta apenas direcioná-la para o embalamento de outro produto qualquer. O que não resolve a questão de base. “Está tudo completamente descontrolado. Nos últimos tempos é difícil que se […]
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