As fracas campanhas agrícolas no Sul da Europa têm levado a um disparo no preço do azeite, embora os consumidores portugueses apenas tenham contraído o consumo em 11% face a preços que mais do que duplicaram. Ganhar quota internacional é possível, mas interprofissional do sector seria essencial para ajudar neste objetivo, argumenta o presidente do CEPAAL.
O azeite tem sido dos bens cujo preço mais disparou no último ano e meio, mas os consumidores portugueses têm mostrado grande fidelidade à gordura conhecida como base da dieta mediterrânica. Sem avançar com projeções concretas, o presidente do CEPAAL – Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo, Gonçalo Morais Tristão, antecipa ao Jornal Económico que o preço normalize após uma campanha agrícola mais produtiva, algo que se mantém em cima da mesa para 2024, depois de um início do ano promissor.
Falando a propósito do 7º Congresso Nacional do Azeite, desta feita em Valpaços, o representante do sector do azeite reconheceu ainda que as primeiras impressões do novo governo têm sido positivas, mas pede ação para corresponder com a mensagem.
Como se explica a evolução dos preços do azeite nos últimos semestres?
Nos últimos dois anos, os preços do azeite têm atingido valores nunca vistos e isso deve-se muito aos aspetos inflacionistas das economias, todas elas interligadas. No azeite, o aumento deve-se também ao sector agrícola em geral: aumento dos fatores de produção e também as fracas campanhas de produção, nomeadamente em Espanha, o maior produtor mundial de longe. Contrariamente às expectativas do próprio sector, o consumidor foi muito resiliente. Entre dezembro de 2022 e dezembro de 2023, Portugal apenas reduziu o consumo em 11%. Digo apenas porque os aumentos foram muitíssimo superiores. Isto que se verificou em Portugal está a verificar-se noutros países produtores europeus, como Espanha, Itália e Grécia, o que quer dizer que o consumidor se mantém muito fiel ao produto. Isto não quer dizer que esta alta de preços se tenha ou deva manter; não é boa para o sector. Com produções de azeitona a regressarem ao normal, estou em crer que os preços irão, mais tarde ou mais cedo, descer para valores mais equilibrados.
Que balanço fazem do Congresso Nacional do Azeite, que se realizou na passada sexta-feira?
Balanço que fazemos do Congresso é muitíssimo positivo, não só porque teve a adesão de muita gente do sector – foi em Valpaços, muito olivicultor da região participou e a sala estava cheia – e, por outro lado, pela participação do ministro no evento, que teve a oportunidade de ouvir o último painel e ainda fazer uma intervenção que, para nós, foi muito honrosa e especial. Sabemos que este Governo entrou em funções há pouco tempo, todos estamos ansiosos para saber o que vai fazer, nomeadamente o Ministério da Agricultura. A mensagem que o ministro deu foi bastante positiva. Deu ideia de que o Governo quer apoiar a produção de azeite em termos nacionais, que é o que o sector apela: que retirem alguns constrangimentos e nos deem a oportunidade de mostrar o nosso azeite lá fora. Não cometendo nenhuma inconfidência, numa conversa no final com o ministro e o presidente da CAP, onde mostramos alguma preocupação com a nossa associação interprofissional do sector olivícola, o ministro foi muito objetivo: disse para apresentarmos soluções, que o Governo está cá para decidir.
O primeiro contacto foi, portanto, positivo.
Pelo menos da minha parte, a avaliação é muito positiva. Como tudo na vida, não bastam as palavras, é preciso passar aos atos, mas o Governo merece o benefício da dúvida, até porque tem pouco mais de 30 dias de legislatura. Sendo o […]