Agricultores presentes na manifestação de hoje em Évora prometeram continuar a “teimar” no cultivo da terra, apesar de compensar cada vez menos e de a subida dos preços dos produtos nas prateleiras não lhes encher “os bolsos”.
“Está a chegar a um ponto quase insustentável. As coisas todas mais caras e temos de demonstrar o nosso descontentamento”, relatou hoje à agência Lusa o agricultor António Alexandre, de 60 anos.
O trabalhador agrícola, que tem ovelhas, vacas, vinhas, seara, “de tudo um pouco”, na zona de São Miguel de Machede, no concelho de Évora, frisou que, mesmo com tudo mais caro, só o preço do que que lhe compram a si é que não aumenta.
“Aí, é ao contrário, eu cada vez ganho menos. Aquilo que a gente produz sai barato, mas, depois, nos supermercados, compramos caro”, desabafou.
Aos lamentos de António Alexandre juntou-se hoje, em Évora, na manifestação dos “homens da terra” convocada pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), um “coro” de protestos e queixas semelhantes.
Com a bandeira de Portugal pelas costas, chapéu de palha na cabeça, no topo do qual colocou um boné verde da CAP, Isabel Manuel, de 65 anos, foi outra das agricultoras a manifestar o seu descontentamento à Lusa.
“As coisas estão cada vez mais caras, mas para nós também”, disse a agricultora, que possui uma exploração com gado bovino e ovino, floresta e milho na zona de Évora, enquanto, em Alcácer do Sal (Setúbal), produz arroz.
Isabel reconheceu que, devido à subida dos fatores de produção, vende “alguns produtos um pouco mais caros”, mas, ainda assim, só o suficiente para “ter alguma margem de lucro”.
“Mesmo com esta situação difícil, ninguém me tira da agricultura, é a minha vida. E o Governo acho que já está a compreender a nossa luta e tem que alterar algumas medidas”, afiançou, fazendo “eco” de uma frase para a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, que a Lusa observou colocada na parte da frente de um dos tratores do protesto: “Dona Maria do Céu, vá embora, é o nosso troféu”.
O presidente da CAP, Eduardo Oliveira e Sousa, argumentou aos jornalistas que “não são os agricultores os responsáveis pelos aumentos dos preços [dos produtos] nas prateleiras”.
Os agricultores “estão no início da cadeia de criação de valor e são os primeiros a serem confrontados com o aumento brutal dos custos de produção e, por isso, são os primeiros prejudicados com o aumento” dos produtos no final, disse.
Aludindo a dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o dirigente afirmou que “o rendimento dos agricultores baixou cerca de 12%”, pelo que, até podem receber “mais dinheiro porque vendem os produtos mais caros, mas recebem menos dinheiro naquilo que fica com eles e, por isso, estão a ser muito prejudicados, como todos o consumidores”.
E, para dissipar dúvidas, Eduardo Oliveira e Sousa insistiu mesmo que “os agricultores não são os que mais enchem os bolsos”, mas sim “aqueles que trabalham todos os dias para que todos os portugueses se possam alimentar”.
O protesto de hoje em Évora, com alguns milhares de agricultores e centenas de tratores, juntou cerca de 70 entidades e organizações agrícolas, do Alentejo, mas também de outras zonas do país, e levou a ânimos mais exaltados junto da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Alentejo, com uma das portas a ser momentaneamente fechada a corrente e cadeado, tendo alguns “homens da terra” invadido ainda o átrio do edifício, por diversos minutos, acabando por sair.