As alterações climáticas estão a colocar em risco a viabilidade das culturas que alimentam grande parte da população mundial, mas a ciência e a tecnologia podem servir de alavanca para novas soluções.
A conclusão é de Stephen Long, professor de ciências das culturas e biologia vegetal na Universidade de Illinois Urbana-Champaign, nos Estados Unidos da América (EUA), que assina uma análise na prestigiada revista The Philosophical Transactions of the Royal Society B.
Stephen Long tem dedicado décadas ao estudo da fotossíntese e das formas de a tornar mais eficiente. No artigo, apresenta descobertas científicas recentes que revelam estratégias para adaptar as culturas agrícolas ao clima em mudança, um processo que denomina como “future-proofing”, ou seja, tornar as plantas mais resilientes ao futuro.
“Por volta de 2050-2060, as culturas irão enfrentar um ambiente significativamente diferente do atual,” escreveu o especialista, avançando que, desde o período pré-industrial, em que o dióxido de carbono atmosférico rondava as 200 partes por milhão (ppm), os níveis atingiram 427 ppm em 2024 e estima-se que ultrapassem 600 ppm em 2050.
Secas mais prolongadas, chuvas severas, calor extremo e níveis elevados de CO₂ já estão a afetar os sistemas agrícolas, alertou Stephen Long, realçando que estas condições extremas deverão agravar-se, provocando quebras de produção, aumento da fome, instabilidade política e migrações em massa.
Apesar do cenário preocupante, o especialista enfatiza o desenvolvimento de soluções promissoras, nomeadamente o avanço na identificação de variedades de arroz capazes de sobreviver até duas semanas submersas e outras com maior tolerância ao calor.
O professor de ciências explica que estes dados genéticos podem ser usados para desenvolver novas culturas através de melhoramento tradicional ou engenharia genética.
Como exemplo do potencial destas inovações, o investigador cita o caso do milho nos EUA, onde os rendimentos duplicaram entre 1980 e 2024, impulsionados por investimento significativo da indústria. Já o sorgo, menos financiado, melhorou apenas 12% no mesmo período.
O professor integra também o Instituto Carl R. Woese de Biologia Genómica, e é financiado por iniciativas como a Gates Agricultural Innovations e o Department of Energy Center for Advanced Bioenergy and Bioproducts Innovation.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.