O acesso aos instrumentos de financiamento bancário tornou-se mais difícil entre 2017 e 2022, revela um novo estudo da Comissão Europeia. 62 mil milhões de euros foi o valor não coberto pelos bancos, com as pequenas explorações e os jovens agricultores a serem os mais afetados pela falta de concretização de empréstimos e aplicações financeiras. O valor era de apenas 33 mil milhões em 2017, mais que duplicando.
Relativamente às pequenas e médias empresas (PME) da agroindústria, o gap financeiro foi de 5,5 mil milhões, uma queda em relação a 2017, onde era de 6,3 mil milhões.
No caso específico português, o gap financeiro para os agricultores aumentou de 382,5 milhões para 674,8 milhões, um crescimento de 76,42%. Quando comparado o valor do défice de financiamento em relação ao valor acrescentado bruto (VAB) na agricultura, o gap é de 15% em Portugal. No caso das PME, o gap financeiro teve a maior redução entre os países comunitários. Passou de 710,5 milhões em 2017 para 68,6 milhões em 2022, uma quebra de 91%.
De uma forma geral, a nível europeu, as taxas de rejeição diminuíram em comparação com 2017, mas os montantes médios dos empréstimos, solicitados pelos agricultores, aumentaram, levando a que montantes mais elevados não fossem cobertos.
Os empréstimos a mais de sete anos continuam a ser difíceis de obter. Esta categoria representa 58% do gap. O inquérito à agricultura revela ainda que 37% de todos os empréstimos agrícolas rejeitados na UE se deveram à relutância dos bancos em alargar o seu apoio à agricultura. Em outros 20% dos casos, os bancos consideraram a proposta do projeto, ou a exploração, inviável.
Quando se analisam os tipos de investimento, o inquérito conclui que os 18,9 mil milhões de euros de investimentos ligados à transição verde do setor não tinham sido cumpridos em 2022. Estes investimentos teriam sido utilizados, por exemplo, para estabelecer a produção biológica, aumentar a utilização de soluções digitais ou de maquinaria avançada para otimizar a utilização de fertilizantes, melhorar a proteção contra secas e inundações ou reduzir o consumo de energia e combustível nas explorações agrícolas.
As pequenas explorações agrícolas e os jovens agricultores estão a ser os mais afetados por este acesso insuficiente aos instrumentos financeiros. No caso dos jovens agricultores, mais de 50% de todos os seus pedidos foram recusados devido a restrições na política bancária, enquanto a taxa correspondente para os agricultores mais velhos é de 32%. Quase 30% dos projetos rejeitados para financiar jovens agricultores foram também considerados de “alto risco” pelos bancos, contra 4% para os agricultores mais velhos.
“As exigências impostas pelos bancos da UE aos agricultores são pesadas e rigorosas, tornando muito difícil para os produtores agrícolas e os jovens agricultores competir com outras empresas da economia, cuja produção pode ser observada no dia seguinte à criação da empresa. É fundamental que o mercado financeiro se abra ao financiamento dos agricultores em pé de igualdade e que os Estados-Membros se concentrem na utilização de instrumentos financeiros nos seus planos estratégicos da PAC”, considera o Comissário da Agricultura, Janusz Wojciechowski.
O inquérito teve como base um inquérito a 6500 agricultores e 2389 PME. A Comissão Europeia, através da plataforma fi-compass, irá agora realizar três estudos adicionais centrados na cadeia de abastecimento, nos investimentos ecológicos pelo FEADER e em alguns setores agrícolas como culturas arvenses e produção animal.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.